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Um Atlântico pelo meio – por Orlando Fonseca

Além da derrota a ser digerida pelos torcedores gremistas, o que sobra do mundial de clubes, disputado no final de semana? Pouca coisa: lamento de alguns, flauta de outros no Rio Grande do Sul gre-nal. Os europeus, de um modo geral, não estão nem aí para este título. É tão pouca matéria que os comentários mais duradouros nas últimas semanas foi justamente a fala do treinador do Grêmio, Renato Portaluppi. Dizendo-se ter sido melhor jogador que Cristiano Ronaldo, provocou risos desse, mofa do Zidane – outro candidato a maior – e um deixa pra lá do lateral Marcelo – talvez o melhor em atividade.

Comentaristas esportivos e parceiros do atual treinador gremista repetiram, à exaustão, comentários sobre a fala do Gaúcho. Uma rede de TV chegou a resgatar um vídeo do Felipão – treinador dos dois jogadores em questão, no qual afirma que o Renato foi melhor. Mas fez questão de afirmar de que o CR7 tem um melhor rendimento no quesito quantidade de gols. Por se tratar de atacante, é o item mais relevante.

Creio ter sido estratégia do Renato puxar para si os microfones e câmeras, para tirar o foco do time. Especialmente do abismo oceânico que havia – e há – entre o clube campeão da Libertadores e o da Champions League europeia. E não se trata apenas de Grêmio e Real Madrid: na comparação, é difícil encontrar um time do lado de cá que se compare, em qualidade, estrutura, organização esportiva ou financeira com os de lá.

Por outro lado, na semana passada também, nas diferentes rodadas de ligas nacionais ou continentais, quase a metade dos gols havidos por lá foi por obra e arte de brasileiros – e alguns outros sul-americanos. Então o que há, se no individual temos talentos tão expressivos e no coletivo estamos abaixo da crítica? Simples: basta ver no que estamos metidos em termos de investigações policiais – perpetradas por ninguém menos que a CIA – e questões judiciais tocadas pelos eficientes tribunais norte-americanos. E isso, tanto no que se refere à CBF quanto à Conmebol. Por aqui, os clubes não conseguem se organizar em ligas fortes, matriz do atual estágio de qualidade do futebol europeu.

No entanto, o Real Madrid não jogou a final com o potencial esperado de seu escrete formado por jogadores tops de sua posição. Os onze em campo e até mesmo alguns no banco são titulares de seleções de seus países de origem. O gol que deu a vitória do time espanhol foi de bola parada e entrou, mais por falha infantil da barreira do que por qualidade do chute do melhor do mundo.

Talvez nisso se possa dizer que a diferença se torne aguda: a única bola que foi em direção ao gol de Navas, foi na cobrança de uma falta, com um chute por cima da trave. No caso do RC7, se a bola tivesse passado pelo lado, por cima, ou mesmo por baixo, seria pela genialidade do artilheiro. Mas pelo meio da barreira? É humilhante. Já o Renato, como treinador, armou um time com o que tinha e não fez feio. Cristiano só fez o gol de falta, mas não obrigou Grohe a grandes defesas. Ficou devendo.

Jogadores gremistas e o treinador reafirmam que “saem de cabeça erguida”. É o que resta de dignidade, de um time sul-americano, que jogou dentro de seus limites contra o maioral dos maiorais europeus. Diante de uma presumível goleada, o placar de 1 a 0 é pouco mais que um empate. Embora, em minha humilde posição de torcedor derrotado, para um time perdedor não sair de cabeça erguida – quando ganha não sei como faz, por que só lembra disso quando perde -, tem de entrar com o pé afiado, a cabeça no lugar e uma disposição férrea de ganhar.

Sei, a parte do coração é dos que ficam do lado de cá, nas arquibancadas e na frente da TV. Jogador de futebol é uma profissão, e o que vale é a remuneração que recebe: fazer gol é a garantia do seu sustento, não da nossa alegria. Além do mais, pensando em tudo o que a conjuntura esportiva tem aprontado, nenhum time sul-americano pode sair de cabeça erguida. Espero que a nossa seleção, ano que vem, tenha motivos melhores para não baixar a cabeça envergonhada.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem de Renato Portaluppi, que ilustra esta crônica, é uma reprodução da internet.

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