Desigualdades – por Orlando Fonseca
Aceitar as diferenças passou a ser um propósito humanístico, nas últimas décadas. Temos cores de pele, sotaques, costumes e hábitos diferentes. Isso a humanidade já conhecia há milhares de anos, a novidade está em aceitarmos como uma qualidade da nossa evolução de seres racionais. E diferente de outros seres vivos do planeta, agirmos com emoção e imaginação.
Contudo, ao mesmo tempo que entendemos o que nos iguala na fraternidade das pessoas, as condições sociais e econômicas expandem as desigualdades. Enquanto 1% da população mundial acumula a riqueza equivalente à da metade do resto – 3,5 bilhões de seres humanos -, dados do Relatório Global sobre Crises Alimentares, apoiado pela ONU, indicam que 124 milhões de pessoas passam fome, em 51 países.
Cito a fome para tornar aguda a reflexão sobre o significado das assimetrias sociais, mas chamo a atenção para outra crise iminente: aproxima-se uma situação que vai nos atingir muito mais do que esses milhões de famintos. Os robôs estão assumindo postos de trabalho e vão mudar as relações de trabalho nas duas próximas décadas, atingindo em cheio os mais jovens, aqueles que estão entrando na escola agora.
Como em muitas outras coisas, o Brasil parece sempre andar na contramão da marcha civilizatória. Enquanto as grandes potências se preparam para uma nova era tecnológica, em que a educação passa por profundas transformações, por aqui ainda nos debatemos com golpes e contragolpes que visam atender às demandas de uma elite atrasada. Herança do nosso tempo escravista – último país a abolir a escravidão e que ainda mantém tratamentos similares ao trabalho escravo. Herança da ocupação através das capitanias hereditárias e da concessão de sesmarias, criando uma dependência do Estado, pela qual a Casa Grande não permite que se compartilhem os benefícios sociais com os moradores da Senzala.
Por aqui ainda nos debatemos com problemas comezinhos tais como equipamentos de sala de aula e salário dos professores. Enquanto isso, a Inteligência Artificial vai tomando conta da oferta de serviços, na surdina, sob aplausos, e vai tirando o emprego de atendentes e operadores humanos.
Em diversos países adiantados, está se implantando um programa de Renda Básica Universal, uma vez que se avizinha um tempo de grandes dificuldades geradas pela robotização e pela economia dos algoritmos. Países como Finlândia, Escócia, Itália e Índia e grandes cidades como Ontário, Stockton e Barcelona estão buscando um sistema de proteção social diante da ineficácia dos modelos tradicionais contra a desigualdade e pelo iminente desaparecimento de milhares de empregos. Nos próximos anos, quase 80% das profissões terão desaparecido nos países avançados tecnologicamente.
Este, como se vê, é um conceito adotado no capitalismo em estágio avançado. Aqui no Brasil, com um modelo de capitalismo predador sem compromisso social, quando se implantou efetivamente o Bolsa Família, programa de transferência de renda (baseado no Bolsa Escola criado ao final do governo FHC, em 2001), nas redes sociais se cunhou a chacota de “bolsa-esmola”.
A verdade é que, agora, a renda básica virá como uma solução econômico-social: robôs não fazem compras, portanto não fazem girar a economia, não movimentam o mercado. E os jovens devem ser preparados para esta nova realidade, com escolas adequadas a uma formação com a perspectiva do futuro. Em termos brasileiros, a população – cujo percentual dos que já estão abaixo da linha da miséria voltou a crescer – deve ser assistida, de modo a não gerar um contingente cada vez maior de pobreza.
A aceitação das nossas diferenças não autoriza a indiferença diante de tanta desigualdade. Infelizmente, nesta marcha à brasileira, a desigualdade tende a ser mais aguda que em outros lugares do planeta, para que a gente fique a olhar para lá e lamentar que não vivemos no Primeiro Mundo. Trata-se, tão somente, de uma questão de preparo, o que exige visão de estadista, algo que também faz falta por aqui.
OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta nota é de reprodução da Internet.
Oi Claudemir sempre escuro você um amigo teu tudo de bom deus abençoe