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A cidade vai respirar rock! – por Pylla Kroth

Dizem que o rock morreu quando Elvis Presley entrou para o exército em Março de 1958. Para muitos talvez esse epitáfio tenha ocorrido em Fevereiro de 1959, quando um avião caiu próximo de Clear Lake, Iowa, nos Estados Unidos, matando Buddy Holly, Ritchie Valens e J. P. “The Big Bopper” Richardson, uma das trincas de ases do rock daquele período. Este dia seria definido posteriormente por Don McLean em sua canção “American Pie” como “o dia em que a música morreu”.

“Rock is dead”, tema escrito por Jim Morrison e gravado pelo seu grupo, The Doors, acabou sendo esquecido numa gaveta escura da gravadora Electra. Talvez porque 1969 fosse o ano em que a profecia de Morrison tinha tudo para soar como uma piada de mau gosto. Imagine só, numa época em o Rock ‘n’ Roll resplandecia e vendia milhões de discos em todo mundo, quem teria a coragem de “matar” o rock? No mínimo um risco que nenhum selo se atreveria correr.

Mesmo assim, John Lennon decretou o fim do sonho em “God”, precisamente nestas palavras “O sonho acabou. Como eu posso dizer? O sonho acabou. Ontem.” Após expressar toda sua descrença, repetidamente.

Anos depois, o punk sepultou a chatice do rock pirotécnico e o devolveu às ruas. E em seguida veio a disco music sufocar a guitarra elétrica num saco de purpurina!

Mas aí chegaram os anos 1980. E por mais que muitos insistissem em lembrar do lado mais nefasto e descartável daquela década, no Brasil, por exemplo, houve um boom de bandas do gênero e bem no meio da década tivemos o primeiro Rock in Rio, sou testemunha ocular.

Após debater-se na trincheira, Kurt Cobain e uma “turma medonha” de Seattle tiraram o rock da UTI, mas logo depois, ao limiar do novo século, eis que o Rock sofre um AVC. E assim, mesmo com a intervenção imediata de uma respiração boca a boca, somada a uma transfusão completa, houve um choque anafilático… E desta maneira, entubado até os poros, eis que o velho rock’n’roll sobrevive por aparelhos, eventualmente apresentando uma ou outra melhora esporádica no quadro geral.

Dizem as más línguas que a morte cerebral deve ser anunciada logo a seguir. Porém eu não quero acreditar nisso. Quero acreditar que ele será um sobrevivente, aquele paciente terminal para o qual nenhum médico, por mais otimista que fosse, terá uma explicação racional para o giro de 360 graus em louca vertiginosa e sobrenatural energia que o fará não só retornar de uma experiência de quase morte, mas se reerguer glorioso, transfigurado, imortal. Ao menos esse é o meu sonho, e me deixem sonhar, afinal “o que somos se não somos se não sonhos?”

Mas por mais que eu sonhe, não consigo deixar de me perguntar: afinal, quem são os compradores de discos hoje? Quem tira a bunda do sofá e vai até algum local conferir música ao vivo? E por fim, de que massa é formada o público que ouve rock nos dias de hoje? Quem são “aqueles que são do rock” para quem possam ser saudados tal como merecem? Afinal de contas estes são aqueles que ainda mantém o Rock um sobrevivente com esperanças.

Quando saímos do mainstream, infelizmente constatamos que as poucas forças motrizes que ainda tentam mover as engrenagens do rock, no que compete ao fazer cultural, pagam um alto preço por essa escolha. Falando de Brasil, Rio Grande do Sul, e mais propriamente de Santa Maria, quanto maior o afunilamento, mais doloroso passa a ser o esforço para se realizar algum evento ou projeto, e sinto isso na carne. Sejam os entraves para captação de recursos em projetos de Lei de Incentivo, ou até mesmo no entendimento de empresas locais em associar suas marcas e empreendimentos com a cultura do rock. “Disco é cultura”, já dizia a frase impressa nos LPs de anos atrás. Isso parece balela aos ouvidos de muitos, infelizmente. Poucos são os que se dispõem ainda a prestar suporte para alavancar as pedras a fim de que sejam impulsionadas a continuar rolando, e estes são igualmente dignos do nosso respeito e da nossa saudação.

Se pensarmos bem sobre esses movimentos do rock, dá pra dizer que ele perdeu pra ele mesmo. Não há renovação, pouca massa intelectual operante, uma ausência de figuras de liderança e de nomes que protagonizem uma linha coerente, tanto artística quanto de protesto. Por outro lado, novamente colocando a lupa na cena local, sim, ainda há uma força de resistência. E não dá pra separar público e artista – definitivamente – e é justamente essa propulsão e resistência que pode nos colocar degraus acima de onde nos situamos nesse exato momento.

Neste cenário sobre o qual reflito, sem esconder a realidade ou tentar tapar o sol com a peneira, mas sem perder a esperança, jamais perder a esperança, o Mês do Rock neste ano de 2018 novamente trará ao palco da Praça Saldanha Marinho 10 bandas locais para se apresentarem em celebração ao aniversariante do mês, o Rock ‘n’ Roll. A novidade nesse ano é que teremos um grupo catarinense e ainda um nome argentino.

A grande sacada desse interlace passa justamente pelo cruzamento de experiências entre esses artistas. Mesmo que advindos de universos diferentes do nosso, há muita similaridade e também afinidade entre as partes. E esse tête-à-tête faz toda a diferença, nada como ficar olhos nos olhos um do outro, nada substitui a troca de figurinhas ou absorção nua e crua dessa experiência. E da mesma forma o público, tão carente de eventos do gênero, encontra no Mês do Rock uma oportunidade de assistir talentos daqui da cidade, de outros estados e até de países vizinhos.

Vale o reforço – “Ei tu, que vive a vida / Tá na hora de acordar” e de prestigiar o Mês do Rock, sábado (7) e domingo (8), nos dois dias das 14h até às 20h. Chance de rever (ou conhecer) os talentos locais, artistas que há três décadas fazem música por aqui, e até mesmo – alguns dos novos nomes que surgiram nos últimos anos, além de atrações de fora da nossa cena.

E alguém tem dúvida de que a grande atração do evento é o público? Sem público, não há motivo para levantar qualquer bandeira, e neste final de semana, a bandeira do rock será hasteada bem no coração pulsante de Santa Maria.

O Mês do Rock é uma iniciativa da Grings – Tours, Produções e Eventos, com recursos captados via Lei de incentivo à Cultura de Santa Maria – RS.

A gente se pecha por lá!

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