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Imaginação fértil – por Pylla Kroth

Ando pelo centro de nossa Aldeia obrigatoriamente todos dias, tudo me parece normal e com ares  cosmopolitas, com toda sorte de clássicos e tradicionais habitantes e comércio de rua: o vendedor de caldo de cana, de sucos, de bolachas caseiras, de pães sírios, de agulha pra limpar fogão, o ‘tio’ do algodão doce, a estátua viva,  o engraxate, o jornaleiro, e até a névoa impalpável do aroma forte do café da galeria, enfim… cada qual com seu estilo vendendo seus produtos, e isso tudo, este ambiente me completa como cidadão.

Pois apesar de grande essa cidade às vezes, e isso é certo, ela é como defini há pouco, uma aldeia. A figura que me deixa intrigado, porém, é aquele “vendedor de fé e de lugar no céu” postado aos berros de “você, você mesmo! O diabo te quer!  Saiba que Jesus voltará! Haverá o dia do julgamento final! Procure a salvação da sua alma… blábláblá” . Paro, escuto e sigo “encucado”. Ele realmente acredita naquilo e fala com um sentimento de certeza que chega ser impressionante, uma loucura, talvez no sentido mais amplo da palavra.

Um amigo psiquiatra, que trabalhou por anos em um hospital desta área, me disse certa vez que os “loucos” em um pátio do hospital conversavam normalmente, um se apresentava como sendo Napoleão Bonaparte, o outro como Presidente da República e o último como sendo Jesus. Penso logo existo\sou? “Sim, isso mesmo!”,me diz ele, que os delirantes não apenas se imaginam, acreditam-se personagens, ora existentes apenas em suas imaginações, ora construídos de percepções da realidade, distorcidas em seus delírios insanos.

Aí me vem outra lembrança, de quando fui internado em uma clinica de recuperação para dependentes químicos há duas décadas, em Lajeado e, depois de 30 dias sem consumir bebidas alcoólicas e cientes de que era um 13 de julho, dia em que é comemorado o Dia Internacional do Rock, eu e meus cinco companheiros de quarto resolvemos que iríamos comemorar e fazer uma “baita festa” naquela noite.

Depois da janta, eram 21 horas e foi tocada a sirene para que todos se recolhessem aos seus respectivos quartos. Havia seis camas em cada quarto. Obedecemos conforme o esperado. O guarda passou para a vistoria e todos estavam deitadinhos feito santos, de remedinho tomado e tudo mais. Mais alguns minutos e iríamos começar a encenação da festa em silencio.

Naquele quarto “cela” estava um juiz de direito afastado das funções, um cantor , um dono de uma rede de hotéis, um proprietário de uma ervateira famosa no estado, um dono de boate e um administrador de empresas. O mais velho e maluco “dependente” era o juiz, fã dos Stones. Foi ele que levantou primeiro, foi até a parede e apontou com o dedo para uma copa imaginária, escolhendo qual uísque gostaria de tomar, pegou o copo imaginário na mão e enfiou os dedos dentro como se estivesse mexendo as pedrinhas de gelo e deu o primeiro gole, largando o ar com satisfação do primeiro “Hahaha que delícia!”.

Virou pra nós e largou: “é só pedirem, meninos, hoje a festa é por minha conta! Viva o Rock ‘n’ Roll!” Levantamos um por um e repetimos a cena cheios de alegria. Feito isso, fui até o banheiro do quarto e peguei a vassoura e voltei com ares de um guitarreiro dando inicio ao show da noite. Dançamos por um bom tempo e bebemos aquela ilusão.

No dia seguinte, cedito, fomos para o refeitório que era hora do café. Foi quando o médico chegou e sentou ao nosso lado e nos perguntou: “como foi a festa esta noite?” Sim, não tínhamos nos dado conta da presença de uma microcâmera de monitoramento.

Ficamos sem resposta. Castigo veio certeiro: mais 7 dias na U.D. (Unidade de Desintoxicação). Até hoje, todos os 13 de julho lembro-me com alegria daquela festa imaginária. E como aquilo foi possível?  Sim, com o Poder da Mente. Nosso cérebro nos faz capaz de sermos aquilo que pensamos, imaginamos e isso às vezes, embora nem sempre, é bom.

Esta semana assisti um filme baseado no acontecido no Chile em 2010 quando 33 mineradores ficaram soterrados por 69 dias e tiveram que usar a imaginação alucinógena natural para sobreviverem sem perder a sanidade. Novamente me ponho a pensar sobre o “Penso, logo existo”. E nesta semana com a atual situação política do país paro para pensar: vocês acreditam? A maioria acredita ou foi alguém que botou na cabeça de vocês aquilo no que querem acreditar? E lhes digo: tenho a impressão de que isso vai terminar mal. Vai dar Bad Trip. Desta vez vou para o castigo de gaiato. Este eu não fiz por merecer. Em tempo, uma frase muito significativa: “a loucura tem cura, a imbecilidade, não.”

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução da internet.

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Um Comentário

  1. Pylla e seus textos maravilhosos q nos enchem de esperanças…Mas agora a situação tá difícil,mas vamos acreditar que tudo é possível.

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