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De lendas e de mitos – por Orlando Fonseca

Em boa hora, leio no DSM notícia de que a UFSM está restaurando o mural, criado por Eduardo Trevisan, no salão Imembuí. Tanto o artista quanto a obra, monumental, têm significados mais do que históricos para aquela Instituição e para a comunidade de Santa Maria.

Boa hora, também, porque neste dia 13 de novembro comemoram-se os 159 anos de nascimento do autor do conto que deu origem ao que hoje chamamos de lenda de Imembuí. João Cezimbra Jacques, primeiro escritor santa-mariense, pouco reconhecido e reverenciado em sua cidade natal.

Apesar de ter legado a ela aquele símbolo poderoso, cuja maestria de Trevisan – e seu filho, Flamarion, que participa do trabalho de restauração – imortalizou nas paredes do auditório, no segundo andar da Reitoria.

Tenho me dedicado, já há duas décadas, à restauração do nome deste santa-mariense ilustre, contra um inexplicável apagamento histórico. Em 1883, Cezimbra Jacques publicou uma obra que é hoje referência para quem busca dados folclóricos do nosso Estado.

O livro Ensaio sobre os costumes do Rio Grande (já com três reedições pela Editora da UFSM), não apenas inicia uma tradição “costumbrista” nos estudos antropológicos brasileiros, como também marca a trajetória do que hoje chamamos Cidade Cultura.

Graças ao seu trabalho, foi um dos fundadores da Academia Rio-Grandense de Letras, patrono da Cadeira 19. Teve quatorze obras publicadas, sendo que em 1912 lançou o livro Assuntos do Rio Grande (reeditado pela Martins Livreiro – Editora) no qual se pode ler o “Conto Indígena de Imembuy”.

Como ele mesmo diz, criado por sua fantasia misturada a elementos históricos. Ou seja, confessa que não buscou a narrativa do amor de Imembuí por Morotin na tradição oral, como é típico das lendas, mas é fruto de sua imaginação literária.

Se bem observarmos, não há uma rua expressiva com o nome desse ilustre conterrâneo, celebrado pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho como seu Patrono. Isso por ter sido o primeiro a constituir uma agremiação, em 1898, nos moldes do que viriam a ser, a partir de 1947, os Centros de Tradição Gaúcha, os CTGs.

Não há uma grande instituição com seu nome, ou um monumento em nossa praça central. Sugiro que a UFSM, com a mesma presteza com que homenageia um dos maiores artistas de nossa cidade, também comemore, no ano que vem, os 160 anos de Cezimbra Jacques. Poderia colocar uma placa junto ao belo mural do Trevisan, fazendo os devidos esclarecimentos quanto ao símbolo literário de Imembuí.

O Grupo de pesquisa Literatura e História da UFSM, comandado pelos professores doutores Pedro Brum Santos e Júlio Quevedo, já se tem encarregado de manter viva a produção intelectual deste autor, tendo inclusive organizado e publicado, neste ano, o livro A proteção ao operariado na República, obra também pioneira no tema, originalmente editada em 1918 (reeditada agora pela Martins Livreiro – Editora).

Para que se tenha autoestima cidadã é preciso conhecer a história da comunidade, valorizar os seus construtores e reverenciar suas obras. Parabéns à UFSM pela iniciativa de manter viva a memória de Eduardo Trevisan e em vívidas cores o símbolo de Imembuí, criado por Cezimbra Jacques.

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra esta crônica é uma reprodução de internet.

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