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A reunião – por Pylla Kroth

Hoje quando acordei dei-me conta das tarefas do dia e logo veio à mente a “responsa” da crônica deste site. “Putz, escrever sobre o quê? Estou sem uma gota de criatividade, sem a mínima inspiração”. Alguns dias depois das eleições já havia passado por essa crise de inventividade, um vazio total, uma falta de esperança avassaladora que não tenho lembrança de quando foi que isso me aconteceu pela última vez. Até meus pulsos estavam pulsando diferente.

Deixei as horas passarem pra ver se vinha uma inspiração, pois histórias tenho muitas pra contar, mas do jeito que anda a coisa , está cada dia mais difícil saber como escrevê-las e de que forma as pessoas poderão absorver e ou entender, que chega ser preocupante mesmo, pois vivemos tempos em que me parece mais necessário do que nunca medir e pesar cuidadosamente as palavras para não causar mal-entendidos ou ferir sensibilidades acidentalmente.

Depois do almoço resolvi dar uma “sesteada”, como dizia meu pai. Em segundos apaguei em sono profundo e sonhei que estava dando uma volta pela cidade e caminhava meio sem rumo, precisava caminhar, porém minhas pernas estavam travadas e eu tinha uma vontade enorme de caminhar cada vez mais rápido, meu cérebro assim mandava.

Em meu sonho passei um tempão caminhando pelas ruas e avenidas da cidade e quando dei por mim estava perdido, uma sensação terrível. De repente estava em um bairro desconhecido, tudo parecia estranho, casas velhas misturavam-se a grandes palacetes uma ao lado da outra, como se ricos e pobres estivessem morando lado a lado naquela vila.

Não havia ninguém nas ruas, aquilo tudo era assustador, um lugar fantasma mesmo, causando um frio na espinha danado, falta de ar nos pulmões e uma ansiedade medonha. Foi aí que percebi uma movimentação na esquina daquela rua e me dirigi pra lá feito galinha atrás de milho quando chega gente no galinheiro com comida.

Esse era o único imóvel com luz naquela ruela. E ali estava uma placa bem grande escrita: “Exército da Salvação de Pylla”. Fiquei parado na frente, travado novamente. Fiz uma força incrível e fui até a porta do lugar e olhei pra dentro. Havia ali pessoas de todas as  idades falando de mim com muito interesse, sobre minhas músicas e meus textos e crônicas.

Ninguém pareceu notar minha presença ali, assistindo à reunião onde eu era o assunto a ser discutido. “Eu acho que ele anda muito repetitivo ultimamente, é sempre aquele mimimi”, queixava-se uma senhora idosa de cabelos pintados de ruivo.

Um homem com pequenas entradas de careca, com pinta de administrador público acrescentou: “bota repetitivo nisso, sempre com aquele papo sem senso comum”. “Quem ele pensa que é, o Nietzsche?” “Quem?”, gritou uma senhora de bigode, cheia de tatuagens pelo corpo, “O Nietzsche, por acaso, era esse palhaço sem noção? Francamente gente! Menos, menos, por favor!”

Todos estavam discutindo alterados já. Foi quando um senhor grisalho, cabeludo, um pouco parecido comigo, deu um soco na grande mesa feita de madeira de Angelim, ao redor da qual estavam todos sentados e gritou com toda autoridade: “pessoal, não esqueçam que estamos aqui reunidos pra tentar salvar o Pylla Kroth, para ele ser um artista, compositor e escritor melhor nesta fase medíocre que ele se encontra!”

Calaram-se todos e o homem careca então tomou a palavra e num tom severo falou a todos: “vamos todos aqui fazer uma corrente de pensamento positivo pra que ele comece, a partir de hoje, escrever sobre essa falta de criatividade que ele anda ultimamente. Pois não seria intrigante ele escrever sobre suas limitações e sua falta do que falar? Sempre da muitos views falar de suas próprias fraquezas e ele anda tão fraquinho, não é mesmo?”

A mulher idosa de cabelos ruivos acrescentou: “deve ser culpa  dos tragos e farras. Todo artista é meio deprimido. Ele deve estar enchendo o caneco todos os dias e escrevendo esse lixos que lemos no site e ouvimos em suas novas músicas”.

Todos então colocaram as mãos na mesa, fecharam os olhos e ficaram numa atitude de estarem buscando e enviando energias do além para alguém muito distante. Nisso senti que minha respiração voltou ao normal e consegui sair dali rapidamente. Parecia que a cada passo eu galgava três metros como um raio desesperado.

Acordei, achando graça do meu sonho, creditando-o como produto de minhas preocupações e recortes de minhas vivências, e fui cuidar dos meus assuntos do dia. Mas depois, desde o momento em que sentei diante do computador para escrever meu texto, sobre algum outro assunto, não saiu uma linha que prestasse! Não saiu texto algum, apenas frases perdidas, rascunhos de idéias estranhos e desconectados.

A culpa, suponho, é desta reunião de almas da qual, como diria o poeta Prado Veppo, minha alma, livre de meu corpo, andando pelas ruas desta cidade, em sonhos, foi visitar e, olha, que inveja sente meu corpo de minha alma!

Admito aqui, portanto, minha fraqueza, minha crise de papel em branco, para que fique registrada e assim, espero, passe de uma vez até meus próximos escritos na semana que vem!

OBSERVAÇÃO DO EDITOR: a imagem que ilustra crônica é uma reprodução da internet.

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