Já foram quatro anos – por Daiani Ferrari
O telefone da Betina era o mais silencioso possível. Tocava em horários específicos. No final da tarde de domingo, quando a mãe ligava para saber como ela estava, como havia passado o final de semana e se a aula de inglês do dia anterior fora produtiva. Não que a mãe soubesse algo da língua. Thanks e not eram as únicas palavras que conhecia e até arranhava pronunciar.
Também na quarta-feira, semana sim, semana não, podia-se ouvir o toque melodioso do seu aparelho celular. Era a mãe novamente, para dizer um oi.
Fora isso, o telefone tocava na tarde de sábado, mas ela nem se dava ao trabalho de atender – eram bancos oferecendo produtos e serviços.
Mas não foi sempre assim. Houve dias de muito tumulto e sobressaltos com as chamadas telefônicas da família, amigos e colegas. A linha residencial já havia cancelado há tempos. Aos poucos, as ligações no trabalho também foram ficando escassas. Embora o telefone tocasse o dia inteiro, nunca era para nossa amiga.
Noutros tempos seria preocupante não receber ligações, mas, com o passar do tempo, Betina acostumou. Era um problema a menos. Concluiu que era melhor assim.
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Betina não é jornalista. Não sabe o quanto ficamos aflitos quando nossos telefones não tocam. Se não tocam, é sinal de que algo vai muito mal.
Para o jornalista, mesmo que as ligações não sejam importantes, elas têm que acontecer, nem que seja para ouvir alguma coisa da qual já sabia. Elas são sinais de que algo está acontecendo, mesmo que não seja da sua conta.
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Paro, olho para meu telefone e penso, tentando definir onde me encontro a essa altura do campeonato da vida jornalística, fazendo um balanço desses quase quatro anos de formada.
O pobrezinho, às vezes, fica desligado a semana toda. É quando percebo que ou me perdi no processo ou o processo se perdeu em mim.
Só não sei quando aconteceu.
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