O pequeno grande homem do terno roxo – por BIANCA ZASSO (*)
São mais de 20 anos acompanhando a premiação da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas e, mesmo que certas coisas não mudem e nem todo mundo esteja interessado no que há por trás da dos troféus entregues no último domingo, dia 24, é impossível não se envolver a cada anúncio de vencedor durante a cerimônia.
Isso porque quem gosta realmente de cinema sofre quando seus filmes favoritos perdem e não disfarça comemoração quando uma obra realmente importante sai exaltada. Mas a nonagésima segunda edição do Oscar rendeu bons momentos que perderam um pouco do brilho quando a equipe de Green Book subiu ao palco para receber o troféu de melhor filme.
Tudo estava nos seus conformes, já que parece ter sido um grande acerto a cerimônia não ter um apresentador, o que evitou textos que, em sua maioria, só são engraçados para quem os escreveu ou para quem está de muito bom humor. Pantera Negra fez história ao levar três estatuetas e tornar-se o filme de super-herói mais premiado até hoje.
Merecia? Talvez não, mas em conjunto com Regina King (Melhor Atriz Coadjuvante), Ruth E. Carter (Melhor Figurino) e Hannah Beachler (Melhor Direção de Arte) fez da festa uma celebração das mulheres negras. Por falar em mulheres, o documentário Absorvendo o Tabu fez muitas delas subirem ao palco e provocarem os mais conservadores mostrando surpresa por um filme que fala sobre menstruação levar o Oscar.
Mahersala Ali agora tem um par de homens dourados na estante e eles são mais que merecidos, Rami Malek levou o seu, mas vai precisar se esforçar para não ser ator de um único papel, Olivia Colmam quase não acreditou que levou um prêmio que muita gente acreditava ser de Glenn Close. Como se ela precisasse ou já não estivesse acostumada com as injustiças cometidas pelo Oscar. Alfonso Cuarón levou mais três prêmios para casa, incluindo Melhor Fotografia para o seu Roma, mas não esqueceu de agradecer ao amigo Emmanuel Lubezki.
Mas foi um simpático baixinho de terno roxo e tênis dourado o gigante da noite. Ver Spike Lee, um diretor talentoso, criativo, cinéfilo e sem medo de criticar quem está ou já esteve no poder, subir ao palco correndo e atirar-se nos braços do amigo Samuel L. Jackson antes de receber o prêmio de melhor roteiro adaptado por Infiltrado na Klan e lançar um dos melhores discursos da história do Oscar, lavou a alma de muita gente, inclusive desta que vos escreve. Um cara que merece ser visto e revisto sempre, dono de uma sensibilidade única e que traz poesia para as ruas que ele percorreu na infância com certo medo, mas nunca de cabeça baixa.
Eu poderia discorrer sobre como Green Book será esquecido em poucos dias até por quem curtiu a trama ou reclamar de mais um ano seguido com canções originais péssimas na disputa, mas prefiro encerrar aqui com o pedido: que tal uma atenção especial para aquele pequeno grande homem de roxo que carregava as palavras ódio e amor nas mãos e que, diferente de muitos que fazem coleção de estatuetas, sabe que sua arte só é verdadeira se incomodar. Veja Spike Lee. Faça a coisa certa.
(*) BIANCA ZASSO, nascida em 1987, em Santa Maria, é jornalista e especialista em cinema pelo Centro Universitário Franciscano (UNIFRA). Cinéfila desde a infância, começou a atuar na pesquisa em 2009. Suas opiniões e críticas exclusivas estão disponíveis às quintas-feiras.
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