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SAÚDE. Suicídios aumentam nesta época do ano. Entenda as possíveis causas e as formas de prevenção

Paredes do Santa Maria Acolhe possuem frases de valorização da vida. Local é referência no atendimento a tentativa de suicídio, ação suicida e automutilação. Foto Maiquel Rosauro

Por Maiquel Rosauro

Fim de ano é a tradicional época de reunir a família, celebrar com os amigos e colegas de trabalho, avaliar os últimos meses e fazer resoluções para um novo ciclo. Porém, nem todos estão felizes. Dezembro é o mês em que os brasileiros mais cometem suicídio. Em silêncio e sem repercussão na imprensa ou na sociedade, os casos aumentam a cada ano e colocam em alerta especialistas em saúde mental.

Conforme registros de mortalidade do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus), entre 1996 e 2017, o Brasil registrou 195.979 suicídios. Desde 2003, quando foram computados 7.861 casos no país, o índice aumenta a uma média de 2,28% ao ano. Em 2017, foram 12.945 registros.

Na série histórica do Datasus, que contabiliza dados de 21 anos, dezembro é o mês líder em óbitos por lesões autoprovocadas voluntariamente, com um total de 17.611 casos, seguido por outubro (17.132) e janeiro (17.118).

Em 2017, último ano com informações disponibilizados pelo Datasus, o Rio Grande do Sul liderou a taxa nacional de suicídios. São 11,87 casos para cada 100 mil habitantes, totalizando 1.345 casos naquele ano. É praticamente o dobro do índice nacional, com 6 casos a cada 100 mil habitantes.

Entre as 19 cidades gaúchas com estimativa de população superior a 100 mil habitantes em 2017, oito apresentaram um índice de suicídio maior que a média estadual: Santa Cruz do Sul (18,8), Passo Fundo (15,5), Rio Grande (14,8), Pelotas (14,5), Erechim (14,5), Santa Maria (14), Uruguaiana (13,1) e Bento Gonçalves (13).

Em Santa Maria, a quantidade de suicídios aumenta desde 2014, quando foram registrados 31 casos. Em 2015, foram 35; em 2016, 38; e, em 2017, 39. Crescimento de 26% em três anos.

Para conter o avanço desse indicador, o município conta, desde 2013, com um serviço de atenção psicossocial chamado Santa Maria Acolhe, que trabalha com tentativa de suicídio, ação suicida e automutilação. O órgão, mantido pela Prefeitura, surgiu com o intuito de atender os sobreviventes e familiares da tragédia de boate Kiss e, desde o ano passado, também é voltado para pessoas que acessaram os serviços de Urgência e Emergência do Município, da Rede Básica de Saúde e da Rede Intersetorial (que não possuem vinculação com serviço de Saúde Mental de referência).

A equipe do Acolhe, composta por profissionais de diferentes áreas da saúde, observa que a quantidade de atendimento tem crescido neste fim de ano.

“Trabalhamos muito com conflito familiar e é algo que pesa muito nesta época. A pessoa acaba fazendo uma retrospectiva e, muitas vezes, não se dá bem com os familiares e vai passar o Natal sozinha. Logo, bate uma solidão”, explica a enfermeira Niara Cabral.

A psicóloga e agente administrativa da unidade, Ieda Lopes, acrescenta que este é um período de consumismo que acaba entristecendo quem está desempregado e não tem dinheiro para a família. Outro fator que acaba influenciado é a morte de alguma pessoa próxima.

“Mesmo que você esteja bem, no Natal vai acabar lembrando do familiar que se foi ou da perda de um relacionamento. E logo depois vem o Ano Novo. Tudo isso mexe com as pessoas, que sentem falta de alguma perda”, relata Ieda.

No total, 540 pessoas tiraram a própria vida em Santa Maria entre 1996 e 2017. O mês que sucede as festas de fim de ano registra o maior número de casos. Foram 57 mortes em janeiro, seguido por junho (54), setembro (53) e dezembro e março (ambos com 46).

Santa Maria Acolhe está localizado na Rua Treze de Maio, 35, no Centro da cidade. Foto Maiquel Rosauro

Silêncio que não deveria existir

As profissionais do Santa Maria Acolhe ressaltam que o fato de as pessoas não terem acesso a informações sobre suicídios não diminui a quantidade de casos.

“Vocês da imprensa são orientados a não divulgar por medo de acabar influenciando o público. Porém, é o contrário. O suicídio é multifatorial. Não é só a depressão que vai levar (ao ato), às vezes a pessoa está desempregada ou passa por uma separação”, comenta a psicóloga Ieda Lopes.

As profissionais indicam que é importante ficar atento aos sinais que um possível suicida transmite, como, por exemplo, aborrecimento, falta de vontade em ir trabalhar e, sobretudo, em suas frases. Não se deve acreditar no mito de ‘quem fala não faz’.

“Frases como ‘não aguento mais’ e ‘quero acabar com a minha vida’ podem ser um sinal. Tem que ficar atento com frases de duplo sentido”, indica a enfermeira Niara Cabral.

Ieda complementa ressaltando que o assunto precisa deixar de ser um tabu, pois a melhor forma de evitar é possuindo informações a respeito do comportamento suicida.

“As pessoas têm que saber lidar, elas não dão muita atenção. Por isso que a mídia tem que auxiliar, tem que falar, esse assunto ainda é muito escondido porque ainda se carrega esse mito (de divulgar o suicídio temendo incentivá-lo). Não podemos tratar apenas no Setembro Amarelo (mês de conscientização)”, analisa a psicóloga.

Com base no sistema Datasus é possível traçar um perfil das pessoas que mais cometem suicídio em Santa Maria. A prática prevalece em homens brancos, solteiros, entre 40 e 49 anos. A maioria dos casos ocorre na própria residência da vítima por enforcamento.

 

Obtenha mais informações

O site do Centro de Valorização da Vida (CVV) é uma excelente ferramenta para buscar informações sobre prevenção do suicídio e também para buscar apoio emocional de forma gratuita, sob sigilo e anonimato. Para atendimento via telefone, ligue para 188.

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