Da Agência Senado, com entrevista de DERALDO GOULART (TV Senado) e foto de GERALDO MAGELA
O ex-presidente e ex-senador José Sarney, que completou 90 anos de idade nesta sexta-feira (24), diz que os grandes legados que ele deixa para o Brasil são a redemocratização e uma série de direitos sociais.
– É por causa dessas conquistas que posso dizer que não passei pela política em vão – disse Sarney, em entrevista à TV Senado.
Sua carreira política começou em 1955, no ano seguinte ao suicídio de Getúlio Vargas, quando se tornou deputado federal. Foram três mandatos na Câmara. Depois, tornou-se governador do Maranhão, senador e presidente da República.
– Na Câmara, no Senado ou na Presidência, testemunhei todos os episódios da vida política contemporânea do Brasil. Algumas vezes, fui assistente; outras vezes, participante e até protagonista – afirmou.
Sarney assumiu a Presidência da República em 1985, no lugar de Tancredo Neves, que fora hospitalizado na véspera da posse e morreria semanas depois. A investidura do político maranhense marcou o fim de duas décadas de ditadura militar.
No Senado, foi um recordista. Foram 39 anos e seis meses como senador, totalizando cinco mandatos. Presidiu a Casa quatro vezes. Sarney deixou a política em 2015.
– Nada me honrava mais do que dizer: “Eu sou um delegado do povo do meu país”.
Leia, a seguir, trechos da entrevista de Sarney:
Redemocratização
Muitos governantes governaram em tempo de bonança; outros, em tempo de escassez; outros, em tempo de guerra. Eu governei num tempo em que a história brasileira se contorcia.
O Brasil saía de um regime autoritário e entrava num regime de plenitude democrática, porém com as vicissitudes dessa transição, isto é, a morte de Tancredo Neves, e o fato de eu ter assumido a Presidência da República sem ter participado da elaboração do programa de governo e da constituição do ministério. Eu não sabia quais compromissos Tancredo havia firmado.
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Além disso, existia a dificuldade decorrente de eu ter pertencido a um partido que não era o de Tancredo. E ainda havia a área militar, que estava dividida. Uma parte dela tinha muitas restrições em relação a mim pelo fato de eu ter pertencido ao PDS [partido que sucedeu a Arena], ter sido presidente do PDS. Foi um período muito difícil para mim como governante. Nós corremos muitos riscos.
No meu governo, houve 12 mil greves, e o Sarney era combatido de uma maneira tremenda. Mesmo assim, eu nunca processei um jornalista, nunca procurei diminuir qualquer atividade da imprensa. Sempre acreditei que até os excessos da imprensa são corrigidos pelo tempo.
Apesar de todas as dificuldades, restauramos a democracia. Convoquei a Assembleia Nacional Constituinte e fizemos uma nova Constituição. Hoje o Brasil goza de liberdade democrática, de liberdade de imprensa, de pleno exercício da cidadania. Acredito que consegui chegar ao fim graças ao meu temperamento, à minha capacidade para dialogar, à minha habilidade para compor, sem ser um radical. Felizmente, eu consegui contornar todos os riscos daquele período e entreguei ao meu sucessor o país em paz…”
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Interessante ver o que era Sarney e o que ele se tornou. Governador do Maranhão na década de 60. Fez hospital. Criou-se a universidade federal. Encaminhou-se a universidade estadual. Tinha computador da IBM no estado, algo raro. Obvio que nesta altura pessoas já estariam pensando na comissão, mas não é bem assim. Darcy Ribeiro fazia parte do governo, dentre outros.