A ciência, a sociedade brasileira e algumas querelas ideológicas
Por LUIZ CARLOS NASCIMENTO DA ROSA (*)
O mundo, de forma geral e, a sociedade brasileira, de forma particular, nunca falaram e ouviram tanto sobre Ciência, em função da Pandemia do Coronavírus. Colocar a Ciência numa roda de conversa ou nas mídias sociais, diga-se de passagem, é excelente e salutar para a vida, biológica ou social. Esse inóspito fato que estamos vivendo me fez lembrar de grandes questões ontológicas que perpassam nossa trajetória pela vida, quais sejam: quem sou? De onde vim e para onde vou? São reflexões cada vez mais atuais para as chamadas ciências Naturais e Sociais.
Essas questões orientam o ser humano no vislumbrar quem é, e no que ele vai se tornar em sua relação com o mundo da natureza?
Demócrito e Leucipo (V A.C.) disseram que a matéria era formada de átomos. Empédocles afirma que a “imagem do mundo” é formada por: terra, água, ar e fogo. Aristóteles, baseado nesses pré-socráticos vai nos dizer que o mundo é formado de “redes de qualidades” e “unidades primárias”: calor/frio e uumidade/secura. Para ser totalmente atual, Aristóteles diz: a Ciência das Ciências é a Política, pois é ela que vai dizer o que as outras devem fazer!
É neste contexto que quero dar um salto quântico para a modernidade. O salto quântico para o conceito de ciências e natureza que advém com os Físicos da Mecânica Quântica, Nils Bohr, Max Planck, de Broglie, Sammerfeld e Heisenberg. É tão revolucionário o conhecimento da Mecânica Quântica que emerge a dualidade do elétron, ou seja, funciona como matéria e energia. Na verdade, o elétron diz o que é, dependendo da pergunta que fizemos na experimentação. Se o experimento perguntar se o elétron é matéria, ele vai responder que sim; se perguntarmos, na experimentação, se ele é energia, ele vai responder que sim. Ou seja, o elétron vai responder dependendo da pergunta que o cientista faz. Esse contexto vai nos dizer que o conhecimento é o produto da relação dialética entre o ser da Ciência e a Natureza.
Podemos dizer que a subjetividade do ser social está implícito no processo de construção do conhecimento, a condição Psíquica do ser social que produz conhecimento. Na produção do conhecimento na Ciência e o desenvolvimento do conhecimento científico dependem do desenvolvimento histórico e intelectual do ser humano e o seu histórico desenvolvimento tecnológico. As mediações se desenvolvem com o intelectual avanço da perspectiva Psíquica do Ser Social. Para sintetizar didaticamente, o desenvolvimento da Ciência é um produto da sua relação com o mundo e a história dessa relação.
Vamos pensar juntos: dos tomistas até a Mecânica Quântica são 24 Séculos de História. O Ser Social forjou o desenvolvimento da Ciência e base para o desenvolvimento das funções Psicológicas Superiores ou o fundamento do desenvolvimento psíquico do humano. Parafraseando o grande historiador das Ciências Naturais, Alexandre Koyrê afirma que, para além de nos explicar a teoria da relatividade ele tinha que mudar o nosso modo de pensar. O pragmatismo, característica central da forma de pensar da grande maioria, não dá conta de entender o mundo que a Relatividade e a Mecânica Quântica trouxeram com os novos construtos que a nova Ciência estabelece para entender o mundo e as relações que o Ser Humano estabelece com esse mundo.
De forma revolucionária, para as ciências naturais, Heisenberg vai afirmar que a Ciência é uma mediação entre o mundo físico-químico, da natureza, e o produtor do conhecimento. A partir desse contexto, não existe espaço para a neutralidade da Ciência, como preconiza a tradição positivista. A subjetividade do ser de Ciência influencia os resultados do conhecimento. Outro exemplo da História da Ciência, que explicita o que afirmamos, ocorreu com o químico Kekulé, que conseguiu determinar a estereoquímica ou a fórmula estrutural do Benzeno após um sonho. No seu sonho apareceu uma cobra submersa num emaranhado de fórmulas químicas. No sonho de Kekulé, de repente a cobra começa engolir o próprio rabo. Refletindo sobre o fato, Kekulé determinou a estrutura de ressonância do Benzeno e fechou com as propriedades químicas do anel benzênico.
Resumindo, o que estamos falando, se o Ser Humano altera o mundo natural, esta natureza alterada vai alterar a própria natureza humana. Questionando a ideia moderna da inesgotabilidade dos recursos naturais, surgiram os movimentos ecológicos alertando que se não respeitarmos os limites da natureza, iremos acabar com a natureza e, como consequência, matar nossa própria natureza. A partir desse substrato de análise, nos perguntamos: como lidar, na conjuntura brasileira, com o analfabetismo cultural e científico do Chefe de Estado e seus subordinados (asseclas)? Como dialogar, na contemporaneidade, com o fundamentalismo religioso dos terraplanistas e o Presidente dizendo que a bárbara pandemia é uma “gripezinha”?
Para além da ignorância e a postura de um positivismo rasteiro, é um projeto ideológico, e o que importa são as razões financeiras e não a preservação da dignidade da vida humana. Não vamos esquecer que a família Bolsonaro fez um ataque descabido às Universidades e a educação em geral. Para esses agentes públicos obscurantistas, as Universidades Públicas formam excelentes militantes. A caverna bolsonariana não se dá conta que nossas Universidades Públicas são responsáveis pela produção das inovações tecnológicas e científicas para aprimorar a vida social, preservação e prolongamento e dignidade das vidas humanas.
Para encerrar, gostaria de transcrever uma mensagem que recebi, do meu amigo de infância, o físico Antônio dos Anjos (professor da Universidade de Lavras (UFLA): “Meu querido Luiz, esse nosso mundo é muito estranho, às vezes lindo e outras vezes bizarro. Estamos imersos em uma sociedade que elege ídolos e mitos que fazem mal a todos, mas que continuam cultuados dia a dia. Grande parte dessa sociedade parece viver permanentemente sob a tutela da Síndrome de Estocolmo”. O Poeta Lawrence diz: “As flores atingem a sua floridade e é um milagre; o Homem não atinge a sua humanidade e isso é uma pena”. Educação e muita Ciência na nossa vida social; armas, não!
(*) Luiz Carlos Nascimento da Rosa é professor do Departamento de Metodologia do Ensino da UFSM
Observação do editor: a imagem (sem autoria de terminada) que ilustra este artigo é uma reprodução da internet.
A Dualidade não vêm do Albert Einstein. Aliás, analfabeto da Ciências Naturais, Einstein nunca aceitou a Mecânica Quântica. Estuda mais Brando! História da Ciência é seu forte. És doxa!
Brando é um pseudo sábio com tanta credibilidade que nem se identifica. Não existe ciência vermelhinha… leitura rasteira da Epistemologia!
Com o Cavalão não se perde tempo. Dráuzio Varella em 30 de janeiro fez um vídeo comparando o covid com a gripe espanhola. Minimizou. ““De cada cem pessoas que pegam o vírus, oitenta, noventa pessoas têm um resfriadinho de nada”. O vídeo foi censurado na rede. O resto é mimimi.
No direito existe o preso que se livra solto. Na academia o vermelhinho que ‘se quebra’ sozinho.
Pois é. Problemas. Dualidade matéria-energia vem da teoria do tio Alberto, relatividade especial, annus mirabllis. Dos quanta vem a dualidade corpúsculo-onda, também não só do elétron. Segue um monte de coisas, controvérsia tio Alberto-Bohr, interpretação de Copenhagen, etc.
Positismo é cria de Augusto Comte. Também é conhecido como um dos pais da sociologia. Queria usar o método das ciências duras nas ‘ciencias’ moles (que no Brasil são brochantes).
Chegamos assim noutro assunto. A crise de replicabilidade, assunto que ainda não chegou em alguns cafundós. Quando alguém faz uma pesquisa na academia geralmente submete a publicação. Artigo é mandado para um congresso ou revista. Antes de ser aceito o trabalho, é submetido a revisão (geralmente três revisores anônimos ) sem nome de autor. Pode ocorrer rejeição ou aprovação com correções.
Aceito o trabalho é publicado. Não só para divulgação, também para ver se os resultados, seguindo a mesma metodologia, se repetem.
Pois bem, em psicologia (segundo estudos recentes) menos da metade dos resultados se repetiram. Em medicina o número é semelhante, porém com um agravante. 20% dos artigos estavam simplesmente errados.
E tão sério que a agencia de pesquisas do departamento de defesa americano comissiona (em projetos críticos) uma universidade para desenvolver uma determinada tecnologia e outra para reproduzir os resultados da primeira.
Não é a toa que as pesquisas sérias estão migrando para as empresas (inteligência artificial, biotecnologia) ou think tanks.