Esperancemos
Por LUCIANO DO MONTE RIBAS (*)
O presente texto é o quinquagésimo primeiro escrito na fase mais recente da minha longa colaboração com o site do amigo Claudemir Pereira. Será, também, o último desse período mais recente, pois eu e o “patrão” acertamos que me afastaria quando minha pré-candidatura fosse oficializada, o que ocorrerá no dia 13. Assim, ajudarei a preservar o site no período eleitoral e, ao mesmo tempo, poderei focar na apresentação de ideias e propostas.
Desses 51 textos, a absoluta maioria foi escrita para denunciar os absurdos, as sandices e as bizarrices do governo do néscio Bolsonaro.
Muito antes de emergir a pandemia, eu lhe chamei pelo nome que merece, “comissário da morte”. A Globo mal começava a demonstrar que seu deu conta da “cagada” que as “elites” fizeram e eu cravei um “nós avisamos”. Parte da classe média dava os primeiros sinais de ter enxergado que votou no idiota violento da aldeia e eu ressaltei que os “argumentos” do bolsonarismo são tão rasos quanto “piscina de plástico”.
Não fui o primeiro e nem o único a fazê-lo. Muito pelo contrário. Felizmente, há um sem número de pessoas com a mesma coragem e muito mais talento do que eu para denunciar os crimes do bolsonarismo. Mas não escondo minha satisfação por estar entre elas e não ao lado “dissudaí”. Aliás, em tempos de obscurantismo, vale aqui registrar meu agradecimento a todos os autores e autoras que me ajudaram a entender qual é o meu lugar no mundo, de Monteiro Lobato (o primeiro que li, em 1979) a Boaventura de Sousa Santos (o que, atualmente, mais me influencia).
Porém, não quero usar esse texto para fazer mais denúncias, embora eu tenha consciência de que continuará sendo necessário fazê-las enquanto o consórcio fascista estiver sangrando o Brasil.
Hoje quero falar do outro lado desse processo de resistência democrática: das coisas produzidas por toda essa rearticulação dos movimentos e das pessoas, das novas lideranças que emergem e das “antigas” que se renovam e dos encontros e reencontros proporcionados por uma causa tão nobre quanto a democracia. Afinal, na dialética da vida, a orgia de desumanidade que tomou conta do Brasil e do mundo também criou o seu oposto: uma resistência fundada na esperança – ou, mais precisamente, no verbo “esperançar”.
Eloquentemente destacado por Paulo Freire, “esperançar” é o ato mais revolucionário que as pessoas das mais diversas vertentes humanistas podem fazer nesse momento, quando ativamente buscamos um futuro onde a civilidade possa voltar a ocupar o seu lugar e o fascismo seja recolocado na insignificância.
Esperançar não é esperar. É ajojar reflexão, inteligência e ação para passarmos à ofensiva na defesa do que resta da soberania nacional e para reconquistarmos direitos e cidadania. É não fugirmos das responsabilidades que a época coloca sobre as nossas costas e enxergarmos além do próprio umbigo. É, no ensinamento freiriano, “ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.
Portanto, se “a esperança está dispersa”, que nos juntemos e esperancemos. Todos, todas e todes.
Podem contar comigo.
(*) Luciano do Monte Ribas é designer gráfico, graduado em Desenho Industrial / Programação Visual e mestre em Artes Visuais, ambos pela UFSM. É presidente do Conselho Municipal de Política Cultural e um dos coordenadores do Santa Maria Vídeo e Cinema, além de já ter exercido diversas funções na iniciativa privada e na gestão pública.
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Observação do autor, sobre a foto: crianças em escola municipal de Canoas (RS), fotografadas no inverno de 2016.
Patriarca do fracasso da educaçao brasileira.