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Que 2021 seja o ano da Vida – Por Valdeci Oliveira

O articulista renova (e acrescenta) desejos feitos (e não realizados) em 2020

No final de 2019, fiz vários pedidos e até mesmo sonhei com algumas situações que gostaria de ver realizadas no ano que entraria. Para 2021, vou renová-los e acrescentar outros mais à lista. Digamos que a conjuntura assim exige.

Há exatamente um ano, desejei que, em 2020, evoluíssemos um pouco mais como seres humanos, que exercitássemos nossos sentimentos de solidariedade, de tolerância, do viver o coletivo em detrimento do individual. Que buscássemos a cultura da paz e que não nos acostumássemos com as calçadas cujos cantos se transformaram em moradias de outros seres humanos. Desejei que os ganhos econômicos fossem melhor distribuídos, que as universidades públicas oferecessem mais vagas, que a diversidade cultural brasileira fosse respeitada.

Desejei ainda que o acesso à saúde fosse uma porta ampla, que a Justiça fosse realmente independente, que a democracia fosse fortalecida. Almejei que tivéssemos mais alimentos e menos venenos em nossas mesas, e que a água e o ar não prejudicassem a nossa saúde. Desejei que a cidadania, a justiça social e a dignidade humana caminhassem juntas e tomassem o lugar do racismo, do feminicídio e da intolerância religiosa.

Confesso que não tive muita sorte com meus desejos, no sentido de vê-los realizados. Mas parafraseando o saudoso Darcy Ribeiro, se fracassos eles foram também os vejo como vitórias, pois detestaria estar no lugar de quem me venceu. Mas, pelo fato de considerá-los justos e possíveis, faço questão de repeti-los para 2021. Os acho fundamentais para que realmente façamos jus ao título de seres humanos evoluídos. Diria até que eles representam o mínimo para isso.

Mas eis que 2020 começou com o destino colocando em nossas portas um vírus de fácil transmissão, que colapsou os serviços de saúde de todos os países e já levou consigo quase 2 milhões de vidas. A economia também foi fortemente atingida, gerando o falso dilema entre qual salvar primeiro, se ela ou a Saúde. O imprevisível foi tratado com a previsibilidade de um falso Messias. À responsabilidade de estar à frente do controle da pandemia respondeu lavando as mãos, não para afastar a doença, mas como Pilatos. Ao negar o perigo o fez, guardadas as devidas proporções, como Pedro. E ao sabotar as medidas de orientação dos organismos de Saúde o fez como Judas, traindo o povo que jurou defender quando empossado presidente.

Por isso, em 2021, como cidadão e parlamentar, vou lutar com ainda mais tenacidade para que o governo federal reveja urgentemente a EC 95, aprovada em 2016 e que congelou os investimentos públicos em várias áreas, incluindo a Saúde, setor que deve ser priorizado no ano que vem por tudo que estamos passando e pelo que ainda vamos passar.  Desejo que, para 2021, o governo central articule com estados e municípios ações conjuntas para frear a disseminação do vírus, pois ficou comprovado que só abrir leitos não é suficiente. Foi porque aglomerações ocorreram, distanciamento social deixou de existir, o uso de máscara foi colocado em dúvida, testes ficaram estocados em galpões, os gestores atuaram com discursos distintos, modelos de controle se mostraram deficientes e projetos políticos e eleitorais resultaram em decisões erráticas.

Desejo que, aqui em nosso estado, o governador Leite implante a Renda Emergencial e não largue nossos irmãos e irmãs mais vulneráveis à própria sorte. Ou que oriente sua base parlamentar a apreciar o nosso projeto de lei neste sentido, que essa proposta seja analisada de forma célere na Assembleia e levada à votação em plenário. E que também cumpra o acordado com a bancada do PT e garanta no orçamento do ano que virá os recursos para a compra de vacinas, diante da inércia do Planalto.

Que em 2021 os deputados e deputadas gaúchos não aprovem o PL 260, que libera o uso aqui no estado de agrotóxicos com utilização proibida nas lavouras de seus países de origem de tão nocivos e prejudiciais que são à saúde e ao meio ambiente.  

E desejo ainda que o presidente da República faça a única coisa sensata e digna para um governante: não protele a análise e liberação das vacinas, seja de que país for. Que canalize esforços e recursos para sua produção e distribuição. Que deixe a ideologia do lado de fora da sala e convide para entrar apenas a ciência e a razão. E por fim, que não abandone pelo caminho milhões de brasileiros e brasileiras que ficaram sem renda.

Muitos dirão que é pedir demais. Pode ser.  Mas algumas certezas, porém, eu tenho: não podemos desistir. É fundamental termos esperança e não deixarmos de lado a nossa porção humana. Em 2021, temos que estender a mão mais vezes a quem precisa, renovar mais fortemente nossa crença em um mundo melhor.

Desejo que coloquemos em prática as noções de amor ensinadas por aquele que nasceu há 2.021 anos. Desejo que tudo o que passamos neste 2020 nos sirva de aprendizado, que os erros não sejam repetidos e que a paz, a segurança e a solidariedade reinem em cada lar e em cada coração. Que 2021 seja o ano da vida.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria. Também é Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Duplicação da RSC-287

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