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O imigrante haitiano e a sua predição sobre o Brasil pandêmico – por Michael Almeida Di Giacomo

Um ano depois, “é possível constatar, infelizmente, que ele estava certo”

Há pouco mais de um ano circulou na internet um vídeo onde um imigrante haitiano, em frente à residência oficial da presidência, falou a Bolsonaro que o seu governo tinha acabado. O encontro ocorreu no dia 15 março de 2020.

À época era muito nítida a tragédia sanitária que estava acontecendo na Europa, mas não tínhamos noção de que os tempos vindouros nos seriam tão caros e o que o Brasil iria se tornar o epicentro global da pandemia que ora assola o mundo.

Desde então, nunca mais se ouviu falar do imigrante.

Alguns poucos adeptos a teorias da conspiração arriscaram dizer que o rapaz veio do futuro para nos alertar sobre o que seria o governo Bolsonaro no “enfrentamento” à pandemia. Eu sei, como afirmava Ariano Suassuna, o povo brasileiro é sempre muito criativo.

O fato é que hoje temos perto de 400 mil brasileiros e brasileiras vítimas da Covid-19. De modo que é possível constatar, infelizmente, que o haitiano estava certo.

Não temos uma ação nacional no combate à pandemia. Realmente não há governo. Tampouco há uma liderança na presidência da república que se importe com a vida dos milhões de brasileiros; a não ser que seja para fazer chacota da situação e dizer que as pessoas estão fazendo “mimimi”.

Temos sim um arremedo de presidente.

Um político que carrega no seu DNA ter sido um parlamentar de cunho inexpressivo, mais conhecido por suas declarações homofóbicas, misóginas e belicosas. Nada mudou.

Quando o imigrante disse a Bolsonaro que ele deveria “desistir de ser presidente”, o capitão, claro, se fez de desentendido. Mas o haitiano reforçou sua predição ao afirmar: “Você está entendendo bem, estou falando brasileiro [sic] Você não é presidente mais […] Você está espalhando o vírus e vai matar os brasileiros”.

Bem, o resto da história todos nós sabemos. Todos nós vivenciamos a tragédia política, administrativa e sanitária que é o governo Bolsonaro.

Hoje estamos na última quinzena, do quarto mês, do penúltimo ano de governo, e o país só faz descer a ladeira.

A carestia é sentida a cada vez que temos que ir fazer compras no supermercado. A inflação oficial não corresponde à realidade da alta nos preços dos produtos e dos serviços, que é sempre muito maior. Ainda há milhões que vivem na pobreza extrema e outros tantos a perder seus postos de labor.

Vivemos em um Brasil onde vidas são perdidas por pura irresponsabilidade e ineficiência do governo federal. Falta competência, coragem e empatia para o nosso governante enfrentar os problemas que a realidade nos impõe.

Enquanto isso, o proselitismo e a demagogia são irmãos siameses de agentes políticos que ocupam seu tempo e recursos públicos a defender o “kit Covid”. E o processo de vacinação, que é o que realmente previne e atenua a contaminação, em uma nação que sempre foi modelo em procedimentos dessa natureza, está a passos lentos.

O governo Bolsonaro, refém por opção própria do Centrão no Congresso Nacional, resta pressionado a escolher entre o enfraquecido “Posto Ipiranga” Paulo Guedes ou não conflitar com sua base política, que impôs cortes no Orçamento da União.

Se houver veto, o presidente da Câmara, Arthur Lira, ameaça com a não apreciação de projetos do governo. E usa também os constantes pedidos de impeachment protocolados na Casa, e que não têm seguimento, como instrumento de constrangimento.

Já o “Posto Ipiranga” diz que o Orçamento como está seria crime de responsabilidade, pois há estouro do teto de gastos na ordem de mais de 20 bilhões de reais.

A crise política ainda é robustecida pela instalação da “CPI da Covid”, que será um instrumento a investigar as ações e omissões do governo federal no contexto da pandemia. E não está com jeito de que terminará em pizza.

Ao Bolsonaro e sua trupe resta vitaminar a pauta sobre costumes, alegrar aos “camisas amarelas” que saem em carreata na defesa do seu governo, a comemorar o preço do litro da gasolina e do dólar no patamar de mais de 5 reais.

Enquanto isso, apesar das transformações políticas, sociais e econômicas pelas quais passa o mundo, o Brasil cada vez mais torna-se um pária entre as nações civilizadas, e a ser refutado inclusive pelos nossos vizinhos na América Latina.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.

Observação do Editor: a foto (do Supremo Tribunal Federal), que ilustra este artigo, é de Marcello Casal Jr, da Agência Brasil.

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6 Comentários

  1. Moraes livrou a cara do Gato Angorá e a de Temer. Centrão está mais preocupado com as emendas e a eleição vindoura do que com o pais.
    Próximo governo federal será eleito com estelionato eleitoral. Vai prometer o que não poderá entregar.
    Se for o Molusco, vai tentar colocar a culpa de tudo o que está errado no governo Cavalão. O que funciona até a pagina dois. Não é impossível outra jornada igual a de 2013 e até o impeachment do Molusco, afinal, o Sistema precisa se defender. Alás, não está no horizonte outro boom das commodities para ajudar. Chineses continuarão comprando o pais. Para quem sabe mais ou menos para onde correr não será fácil. Para os que a esquerda se intitula defensora vai ser muito feio.

  2. ‘Sempre foi modelo em vacinação’, mais uma mentira, um auto elogio inventado no Brasil para ‘melhorar a auto estima’. NHS britânico sempre foi melhor que o SUS, os sistemas de outros países desenvolvidos também, só que a comparação nestas horas é quase sempre com países em pior situação. O que nem sempre funciona, Trinidad Tobago tem melhores números de imunização que o Brasil.

  3. ‘Ação Nacional no Combate a Pandemia’. Governo Federal fonte de todas as benesses e malefícios. Liderança na presidência da Republica. Ou é Teoria do Grande Homem ou é saudade do ‘cumpanheiro’ Stálin. Que não precisava roubar e, embora bebesse socialmente, não era um bêbado. Sim, a rachadinha no RJ aconteceu e quem ganhou mais, como não poderia deixar de ser, foi um deputado de esquerda.
    Ao que se chega nas cavalgaduras da esquerda, receita simples (para todo problema complexo sempre há uma solução rápida, fácil, barata, indolor, 100% eficaz e completamente errada) lockdown nacional por tempo indeterminado e depois o governo federal daria dinheiro a quem precisasse. Só dando risada! Kuakuakuakuakua!

  4. Problema da carestia grosso modo é que estamos importando inflação americana. Governo Slow Joe roda a maquininha e desvaloriza o dólar. Preços das commodities sobem. Real não se valoriza pelos problemas internos, desvaloriza ainda mais (há que se ver as reservas, não olhei ainda. Junta-se isto com problemas mundiais de abastecimento, nas cadeias de suprimento.

  5. Pandemia é resultado de um descontrole. Deveria ter sido contida na China. Não aconteceu.
    Cavalão também é sintoma tardio da corruptocracia incompetente que foi o governo de esquerda anterior. Esquerda, como o vírus, não tem tratamento que de conta, é corrupção, incompetência e ‘boas intenções’ na mídia apaniguada.
    Cavalão deve ir para casa no final do ano que vem. Cavalismo deve se tornar residual. Problema é que não existe vácuo.
    Governo acabou? Sim, foi engolido pelo Sistema, Centrão novamente. Reformas administrativa não vai sair. Pais fica dividido em quatro castas: os ricos, os políticos, os servidores públicos e o resto. A privilegiatura e os que pagam a conta.

  6. E imperativo não confundir o sintoma com a doença. A que estamos vivenciando começou há muito tempo, mas ficou mais evidente com a eleição de Severino Cavalcanti como presidente da Camara lá no governo Molusco.
    O haitiano? ‘Agent provocateur’. Ou alguém acha que um refugiado (grande probabilidade) iria interpelar o presidente do pais sobre um tema politico podendo inclusive ser expulso (a confusão era o objetivo, grande probabilidade). Nunca mais se ouviu falar do imigrante? Outro forte indicio.

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