Amor verde-amarelo – por Orlando Fonseca
Contradição anotada: muito amor no hino; já nas ruas e pelas redes sociais…
Nestes tempos em que o discurso do ódio ganha dimensões universais através das redes sociais (nada sociáveis, nesse caso), ocorre-me lembrar de um dos nossos símbolos pátrios. O Hino Nacional Brasileiro é um dos poucos que apresentam o Amor em suas estrofes. Muitas vezes, em cerimônias oficiais, recitamos a sua letra sem pensar no que estamos interpretando.
Além do mais, até porque temos as cerimônias de entrega de medalhas nas Olimpíadas e Paralimpíadas, é possível observar que os hinos pátrios, em sua maioria, são solenes e graves, enquanto que os acordes do nosso são festivos.
Os versos dos outros também são marciais e bélicos, enquanto as palavras do brasileiro remetem a uma atmosfera mais lírica do que épica. Uma celebração da natureza pujante e generosa, assim como a idealização de seu povo. Seria a tese do “homem cordial” de Sérgio Buarque de Hollanda como um ideal que as redes sociais estão aí para contrariar?
Ainda que em outros hinos nacionais apareça a menção ao amor, este quase sempre está identificado com religiosidade ou patriotismo. No hino brasileiro, há três menções ao amor, propriamente dito, como virtude humana.
Primeiro, aparece na analogia com um “raio vívido”; depois, como uma identificação com a natureza, parafraseando Gonçalves Dias: “nossa vida no teu seio [tem] mais amores”.
Por fim, o Amor aparece como eterno, tendo a bandeira, “o lábaro estrelado”, por emblema. Por se tratar de uma canção patriótica, a tendência é que se una o substantivo “amor” à devoção ao Brasil, aclamado como “Pátria amada” em seu refrão.
No âmbito do território continental, dentre os hinos latino-americanos, predomina o senso de liberdade, com certeza, em vista das sangrentas lutas pela independência. Já no Velho Mundo, o hino francês – composição popular no período da Revolução Francesa – fala em “Amor Sagrado pela Pátria”, mas completa “sustente nossos braços vingativos”.
O estribilho do hino alemão – composição clássica de Haydn – fala em justiça e liberdade, construídas “com coração e mão”. Os ingleses suplicam por sua rainha, cantando “com coração e voz”.
Os canadenses clamam pelo “verdadeiro amor patriota”. O mais próximo do nosso é o italiano, mas revestido de espiritualidade: “Unamo-nos, amemo-nos,/a união e o amor/revelam aos povos/as vias do Senhor.”
Estou ciente de que a presença desse sentimento nobre no símbolo pátrio se dá como um desdobramento do slogan positivista, “o Amor por princípio”, que se completa no dístico da bandeira: “Ordem por base e o Progresso por meta”.
Sendo assim desde o final do século 19, na infância de nossa vida republicana, o que deveria mover a cidadania, ao menos no ideal de seus emblemas patrióticos, é o amor. Algo que pode ser visto como manifestação elevada de um dever para com a Nação; algo como uma maneira digna de convívio social, que se desdobre em fraternidade e solidariedade.
Então, por que temos presenciado nos últimos anos tanto ódio, especialmente manifesto nas ruas e pelas redes sociais? Temos uma escalada de confrontos ideológicos desde as jornadas de junho de 2013. Polarização que transbordou no impeachment de uma presidenta, que só foi se agravando até chegarmos aos dias atuais de nossa claudicante democracia.
O discurso de ódio tem sido motivado, historicamente, pelas diferenças regionais, étnicas, e mais radicalmente, por ideias políticas. Somos uma democracia, e divergências nesse campo deveriam ser uma rotina na convivência republicana, não um cabo de guerra que tem feito vítimas, não apenas de reputações, mas de vidas de irmãos brasileiros.
Nesta semana, em que será possível ouvir muitas vezes o Hino Nacional, é um bom momento para que se pense além do compromisso patriótico, em especial no lado humano que reside no fato de sermos um povo, sermos brasileiros.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Observação do Editor: a imagem no alto (sem autoria determinada) é uma reprodução obtida na internet. Um dos endereços em que ela está disponível é este: AQUI
Quando um cachorrinho de madame late quando estou passando em alguma caminhada pode até causar susto e irritação. Animal irracional não tem relevancia suficiente para se nutrir qualquer tipo de enlace emocional com o mesmo, quanto mais odio. Racionalidade (vide positivismo) é o caminho para ir adiante. Apelo as emoções e sentimentos constante é coisa de primitivos.
Redes sociais são assunto batido. Nas contas que possuo não existe discurso politico partidario de qualquer especie, há mecanismos para isto. Para horror do pessoal que cultua a ‘palavra’ e criticava os 140 caracteres a moda agora é o TikTok onde só existe video/imagem. Coisas da vida.
Hinos patrios hoje em dia são majoritariomente cantados sem prestar muita atenção na letra. Exceção é o mais importante de todos ‘Como a aurora precursora….’. Apesar das ‘Novas Façanhas’, gastar algo como 5 mil reais em passeio de helicoptero para impressionar o populacho, assinar um papel e tirar fotos com um bando de nós cegos locais. Bom lembrar também do Verde e Amarelo que não é vermelho cor do chifrudo e do inferno.
Presidanta? ‘Nosso lugar não é com os Estados Unidos. Nosso lugar é a independencia, ao lado da China.’. Resta saber o que ela define como ‘indendencia’. Chame-se do que quiser, o que Temer fez, assim como Moro, foi uma das coisas mais patrioticas dos ultimos anos.