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É dia de honrar a memória das vítimas da Boate Kiss – por Michael Almeida Di Giacomo

O primeiro dia do júri popular, as memórias do articulista e a jovem Andreia

No dia de hoje terá início aquele que é considerado o maior julgamento da história do estado, que irá aferir os fatos e a tratar da responsabilidade criminal dos que deram causa à morte de 242 jovens e deixou centenas de feridos ou com sequelas por toda a vida.

É bem difícil escrever sobre o tema.

Logo penso na dor dos pais e mães que – de um modo estúpido – perderam seus filhos e filhas sem sequer dar um último abraço, um último beijo.

Assim como todos, senti ser um dos dias mais tristes de nossas vidas. Que nossa história carregaria para sempre as imagens do luto das famílias e da rede de solidariedade protagonizada por cidadãos, entidades e pelos profissionais da saúde, entre tantos outros anônimos que prestaram sua ajuda.

Há um bom tempo, uma amiga disse que iria me presentear com o livro “Todo dia a mesma noite”, escrito pela jornalista Daniela Arbex – que parece será fonte para um documentário a ser lançado no streaming Netflix.  Agradeci a intenção, mas pedi para que não o fizesse.

Eu não queria reviver o triste domingo de janeiro de 2013. Acredito que tenha sido esse o motivo de recusar a gentileza. Quem sabe….

Ainda hoje, quase nove anos, é muito vivo em minha memória uma conversa que tive com uma futura estudante da UFSM – o ano era 2012.  À época, uma colega de escritório em Porto Alegre me convidou para contar à sua irmã sobre como era a vida em Santa Maria e na universidade.

A jovem, Andreia, que tinha 16/17 anos, havia sido aprovada para ingresso no curso de veterinária. Era a primeira pessoa da família a ter a oportunidade de cursar uma graduação.  A estudante nunca tinha vindo a Santa Maria. Estava ansiosa, com pouco de medo – o que é normal – e muito feliz com a nova vida que a esperava.

Era possível perceber o brilho nos olhos a cada nova informação sobre a vida no campus, as possiblidades que ela teria de estudar em uma um curso de excelência e todos os benefícios que uma universidade pública disponibiliza às pessoas hipossuficientes.

Não tenho dúvida que a sua vida seria outra após a graduação. Iria “ganhar” o mundo.

Santa Maria tem essa característica, as pessoas aqui estudam, vivem, fazem amigos, são felizes, deixam saudades e levam na bagagem – mundo afora – um pouco da cidade. 

Infelizmente a negligência de uns acabou por ceifar os planos e sonhos da futura veterinária e de sua família. Uma vida toda cheia de desafios e conquistas.

Hoje é o dia de, mais uma vez, honrar a memória desses jovens.

Que Deus abençoe a todos e todas.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15.

Nota do Editor: A foto, de cinco anos atrás, da Rua dos Andradas, fachada da boate Kiss já incendiada, que ilustra este artigo é de João Vilnei/Arquivo.

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