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O paradoxo liberal de Gleen Greenwald – por Michael Almeida Di Giacomo

O ex-The Intercept e a curiosa fala a jornalista de extrema-direita da Fox

O norte-americano Glenn Greenwald, jornalista, escritor e advogado, radicado no Brasil, em entrevista ao jornalista Tucker Carlson, da Fox News, disse que Bolsonaro é censurado por Google e Facebook no Brasil.

Greenwald, que desde 2013 é reconhecido mundialmente por seu trabalho na divulgação da existência de programas secretos de vigilância global dos Estados Unidos – a partir das informações reveladas por Edward Snowden – hoje exilado na Rússia, é um destacado defensor da liberdade de expressão e informação jornalística.

Quando fazia parte do portal The Intercept, o jornalista foi fundamental na publicação do vazamento de conversas entre o ex-juiz, ex-ministro, ex-presidenciável Sergio Moro e integrantes da Lava Jato.

A formação acadêmica do norte-americano, por óbvio, tem no exercício à liberdade de manifestação do pensamento, opinião e expressão, um direito humano quase que irrestrito a toda pessoa. É o que nos conta todo o arcabouço dos precedentes dos Tribunais dos EUA.

É por esse olhar que Greenwald fundamenta sua tese de que Bolsonaro tem sido repetidamente censurado por grandes plataformas de tecnologia, as chamadas “Big Techs”. Ele afirmou que o presidente da nação foi “censurado ao falar sobre Covid, e é frequentemente censurado ao falar das próximas eleições”.

Na realidade, a convicção que expõe ao seu colega, de extrema-direita, Carlson, da Fox News, tem relação direta com um debate que acontece nos países democráticos sobre a necessidade de regulação das plataformas de comunicação on-line, ou seja, contrário ao que vige atualmente, a autorregulação.

No entanto, Greenwald deixa de lembrar que Bolsonaro, por meio das suas redes, é um dos principais disseminadores de desinformação, notícias falsas, e discursos de ódio. Ah, soma-se, é claro, os ataques diretos que faz às instituições da república e, por consequência, ao próprio sistema democrático.

E, ainda, que desde a posse de Bolsonaro houve um aumento de ataques a veículos de imprensa e aos profissionais da área de comunicação das mais diversas mídias.

É o que relatou o jornalista Sylvio Costa, fundador do site Congresso em Foco, em reunião realizada na Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, no último mês de junho.

Na ocasião, a jornalista Patrícia Campos de Mello, que já foi vítima de ataques do próprio mandatário da nação, manifestou sua preocupação com a segurança dos colegas durante o processo eleitoral de 2022.

O próprio Greenwald, fosse valer a vontade de Bolsonaro, teria pego uma “cana” no Brasil, na ocasião dos vazamentos das conversas de Sérgio Moro. Essa foi uma declaração do próprio presidente, uma vez que Moro, à época, era seu funcionário.

Por fim, cabe registrar o paradoxo de Glenn Greenwald, um profissional combativo e respeitado; mas, que ao acusar a “censura” a Bolsonaro – pela vontade do mandatário, poderia estar fazendo a declaração de dentro de uma prisão brasileira.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15. Ele escreve no site às quartas-feiras.

Nota do Editor: a imagem (sem autoria determinada) que ilustra este artigo mostra Glenn Greenwald recebendo o Oscar de Melhor Documentário em 2014 e é uma reprodução obtida na internet. Você pode, por exemplo, encontrá-la AQUI.

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4 Comentários

  1. Quem sentir-se ‘atacado’ ou ‘prejudicado’ pode contratar um advogado e acionar o judiciario. Simples assim. Oooops….Patrícia Campos de Mello processou o Cavalão e pelo jeito ganhou o pleito. Problema solucionado. Logo não pode ser utilizado o caso para amordaçar o resto da sociedade que não tem nada a ver com o assunto. Simples assim. Greenwald não tem amnesia para obter vantagens politicas para um determinado grupo, mantem a postura de advogado sempre (é o que aparenta). Nem tenta utilizar subterfugios para usar a condição de causidico como ferramenta politica. Há que se discordar de muitas coisas que ele defende aqui no Brasil, mas coerencia é caracteristica e não defeito.

  2. Detalhe: ‘debate que acontece nos países democráticos sobre a necessidade de regulação das plataformas de comunicação on-line’. Obvio que a esquerda busca a censura neste assunto, a intervenção estatal já é uma pista. Em Cuba, na China e na Coreia do Norte as redes sociais são controladas pelo Estado. Este papinho de ‘democracia’, de “Estado Democratico de Direito’, ‘as mais puras e inocentes intenções’, só alguém muito burro(a) para acreditar. Alás, vermelhinhos vivem tentando alterar o idioma para caber na propria ideologia. ‘Justificativa’: ‘as linguas mudam com o tempo, se alteram’. O que é verdade. Porém sempre aconteceu naturalmente, de forma organica. Não é imposto por um grupelho autoritario, uma minoria tentando controlar a sociedade.

  3. Tucker Carlson obviamente não é ‘extrema-direita’. Era eleitor do Partido Democrata até 2020. Sociedade americana polarizou-se e parte do centro acabou na direita. É contra o aborto, mas também contra a pena de morte. Armas? Segunda emenda. É outra cultura, ficar comparando é perda de tempo.

  4. Não existe paradoxo. Gleen é formado é bacharel em filosofia. E tem o Juris Doctor. Em 1996 ele abriu um escritorio especializado em direito constitucional e direitos civis atuando muito em casos relacionados a Primeira Emenda. Defendeu um (alegadamente) supremacista branco/neonazista (Matthew Hale) e uma organização, ‘Aliança Nacional’ (também alegadamente neo-nazista, não olhei os detalhes). Alguem poderia dizer que o artigo propositadamente visava isto, uma associação entre o Cavalão (que obviamente não é neo-nazista e muito menos supremacista branco) e os antigos clientes. Seria muito raso e infantil. Dois aspectos: sujeito não tem problema em ser quem é e não precisa esconder nada (companheiro dele é deputado pelo PSOL). Segundo, no sistema americano para exercer a advocacia é necessario um doutorado profissional (e a prova da Ordem depois). Na media o nivel intelectual é bem maior, existe exame especifico para entrar no curso e o sistema educacional por lá (na ponta, não na media que não é la estas coisas) é melhor.

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