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Os donos do poder no Brasil – por Giuseppe Riesgo

O processo, no TCU, que tem como alvo, entre outros, Deltan Dallagnol

O Brasil não é para amadores. Eis um aforisma, em forma de desabafo, que costumeiramente escuto ao conversar com a população gaúcha pelo estado afora. Uma afirmação que consiste de uma lamentação, mas também de uma constatação. Ou seja, de que vivemos em um país difícil e burocrático; em que as estruturas – de tão viciadas e corrompidas -, perpetuam um modelo patrimonialista e estatizante de difícil mudança.

Esse diagnóstico, por obvio, não é primazia minha. Na verdade, fora consagrado, ainda na metade do século XX, por Raymundo Faoro, em “Os Donos do Poder”. Uma leitura que, de tão precisa e reveladora, se perpetua no tempo e, além de revelar nossas fragilidades institucionais, consolida o diagnóstico sociológico gestado em “Raízes do Brasil” e “Casa-Grande e Senzala” de Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, respectivamente.

Ou seja, somos um país com forte lastro patrimonialista em nossa formação histórico-cultural. Para tal evidência, basta que vejamos o que ocorreu com o ex-procurador público da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, entre outros. Após confrontar parcela poderosa da política nacional, vem enfrentando um questionável processo na Segunda Câmara do Tribunal de Contas da União, sob a acusação de ausência de economicidade no desenvolvimento das atividades investigativas da operação.

A condenação? Devolver o dinheiro utilizado com diárias e passagens aéreas, mesmo com parecer da área técnica do próprio tribunal chancelando a regularidade e o arquivamento do processo movido contra Dallanol, Rodrigo Janot e Vicente Romão. Ou seja, é o “estamento burocrático” utilizando-se de prerrogativas próprias para constranger e estorvar aquela e as próximas investigações porventura necessárias ao devido combate à corrupção que nos assola.

É um escárnio! E revela muito sobre as dificuldades e a proteção legal que a própria burocracia concede a quem detém poder político no Brasil. Ou iremos concluir que esse tipo de precedente estimula aos demais procuradores a investigar com veemência a elite política desse país?

É claro que não! E Faoro há algum tempo nos alertava: “[na] sociedade, acima das classes, o aparelhamento político (…) impera, rege e governa, em nome próprio, num círculo impermeável de comando”. Eis a realidade insofismável daqui. Porque, afinal, só há uma luta de classes possível no Brasil: aqueles que detém o poder e recebem impostos e aqueles que pagam impostos e a manutenção desse stablishment injusto e desigual no país. É isso que precisamos combater.

(*) Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

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Um Comentário

  1. TCU é tribunal somente no nome, é orgao auxiliar do legislativo. Como tudo no Brasil funciona até a pagina 2. É um cabide também para politicos que não conseguem mais se eleger. O caso de Dallagnol é uma piada, ‘veja o que fazemos com quem ousa perturbar o establishment’. Porém os tempos são outros. Condenado a pagar indenização por conta do power-point apontando chefe de organização criminosa arrecadou mais de 500 mil. Para a campanha do pleito vindouro já arrecadou mais de 200 mil. Se vai ser eleito ou até ser cooptado no futuro fica para a bola de cristal. Apesar disto, BSB continua sendo BSB. Comissão do Esporte da Camara dos Deputados aprovou a criação de um grupo para ‘monitorar a preparação da Seleção Brasileira para a Copa do Qatar. Onde vai parar? Agora que foi noticiado talvez não renda. O que leva a abaixo-assinados, manifestações, etc. ‘a favor da democracia e das eleições’. Coisa de jaguara, de gente hipocrita e sem vergonha na cara. Acham que enganam alguém. Eis que ninguém defenda a República, a ‘res publica’. Motivo? Porque ficaria dificil justificar o aumento de 18% no proprio salario. Algo que, vamos combinar, vindo dos ‘servidores’ publicos do pais não espanta. Cortes, judiciarias ou não, não combinam com Republica. Simples assim.

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