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Independência, rainhas e decolonialismo – por Elen Biguelini

Em tempos de rainhas, lembrança de Ginga de Angola e da Soldada Medeiros

Esta semana foi repleta de acontecimentos relevantes. Dos 200 anos da Independência do Brasil ao falecimento da Rainha Elizabeth II.

Destes acontecimentos, muitos debates circularam as redes: desde a participação ativa de pessoas negras e de mulheres, assim como indígenas, na Independência, como a vida, os acertos e erros desta longeva rainha inglesa.

Levando em consideração todos estes debates, pensamos relevante relembrar alguns nomes já aqui apresentados antes, coincidentemente todos em nossa série sobre Donzelas Guerreias.

A primeira destas é Soldada Medeiros, Mária Quitéria, heroína da pátria, que participou das lutas pela independência brasileira na Bahia. Ela vestira os trajes do cunhado, cortara os cabelos e se dirigira ao Regimento de Artilharia, onde foi descoberta.

Ao contrário da história de muitas outras mulheres guerreiras do período, foi permitido que continuasse a lutar após sua descoberta e lhe deram, inclusive, um traje mais próprio as mulheres (segundo os preceitos da época): sua farda era completada com uma saia.

Sua imagem é, atualmente, reverberante, ao ser novamente lembrada por seu brilhantismo. Como mulheres no presente, devemos agradecer não apenas a bravura desta mulher, que marcou a história, como também aos pintores que a eternizaram, permitindo que para além de seu nome, seu rosto possa ser lembrado.

A segunda figura feminina que pensamos relevante recordar nesta data é a Rainha Ginga de Angola. Esta mulher fez temer os portugueses, por sua força e determinação. Ela carregava consigo características que eram então consideradas masculinas: a força física, o desejo pela guerra e a vontade de lutar.

Ela foi uma destemida governante, que se aliou com quem fosse necessário pelo bem dos seus súditos. Guerreou com sua própria família, uniu-se a sanguinários grupos locais e fez com que um de seus próprios acompanhantes se ajoelhasse ao chão servindo como cadeira quando um governante português a recebeu sentado, deixando-a em pé. Ficou assim em um patamar de igualdade com aquele Senhor que a desdenhava.

Como já decorremos bastante sobre estas duas figuras em momento anterior, finalizamos lembrando a necessidade de tratar de questões relevantes como o decolonialismo e a importância da História das Mulheres para desmistificar a imagem do passado, assim como para demonstrar que as vozes que se levantam pedindo direitos hoje são, na verdade, um eco do passado e não algo novo que surge e demanda uma nova sociedade completamente diferente.

As reclamações seguem as mesmas, mas a recepção agora modifica a ponto que podem ser reivindicadas outras questões, tão relevantes como, mas que até então ficavam em segundo plano.

Para mais sobre, nossos textos sobre ambas estas figuras, aqui mesmo neste site:

e

 (*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

Nota do Editor: As imagens que ilustram esse artigo, da rainha Ginga de Angola e de Maria Quitéria (a Soldada Medeiros) são reproduções obtidas na internet .

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