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Sete de setembro foi o dia de República das Bananas do Brasil – por Carlos Wagner

“Cereja do bolo foi a frase do presidente Bolsonaro a respeito da sua virilidade”

Presidente Jair Bolsonaro enfiou os pés pelas mãos nos festejos da Independência, nesta quarta-feira, dia 7 (Foto Reprodução)

O dia de República das Bananas é a descrição que melhor se encaixa para descrever a mistura tóxica feita pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) entre os desfiles cívico-militares das comemorações do Bicentenário da Independência do Brasil com a sua campanha pela reeleição. A presença, no palanque oficial, de generais, entre eles o ministro da Defesa, Paulo Sérgio, e Braga Netto, que concorre à vice-presidente na chapa da reeleição, me fez lembrar junho de 2020.

Na ocasião, o então chefe do estado-maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, general Mark Milley, pediu desculpa aos americanos por ter acompanhado o presidente da época, Donald Trump (republicano), em uma polêmica caminhada até a igreja St. John, nas proximidades da Casa Branca, para fazer uma foto com uma Bíblia na mão.

Para Trump fazer o trajeto, a polícia dispersou uma manifestação que acontecia nas proximidades contra o racismo e a violência policial – há matéria na internet. A respeito da sua presença, o general Milley disse: “foi um erro, deu a impressão de que as Forças Armadas estão envolvidas em política”.

No caso dos generais brasileiros, eles estão na reserva. Mas perante a opinião pública eles e outros 6 mil militares (ativa, reserva e reformados) que fazem parte da administração federal representam as Forças Armadas. E o presidente Bolsonaro usa essa confusão em seu favor.

Antes de seguir a nossa conversa vou dar uma explicação que julgo necessária para os jovens repórteres e leitores. “República das bananas” foi uma expressão criada pelo humorista americano William Sydney Porter, em 1904, para definir países da América do Sul que tinham a sua economia lastreada nas plantações de bananas e eram governados por marionetes dos países desenvolvidos.

A expressão foi popularizada como um termo pejorativo para descrever um governo instável durante a Guerra Fria (1947 a 1991), um conflito entre os capitalistas Estados Unidos e os comunistas da extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) que dividiu o mundo.

Em 1964, com apoio dos Estados Unidos e da classe média brasileira, as Forças Armadas derrubaram o presidente da República eleito pelo voto popular João Goulart, o Jango, do antigo PTB, e governaram com mão de ferro até 1985, quando o país se redemocratizou. Nos últimos 37 anos, a imagem do Brasil perante a opinião pública mundial passou a ser a de uma potência na produção de alimentos, tecnologias, preservação do meio ambiente e de uma democracia estável.

Voltando a nossa conversa. O que aconteceu nas comemorações do Bicentenário da Independência fez o país parecer uma república de bananas. A cereja do bolo foi a frase do presidente Bolsonaro a respeito da sua virilidade: “Eu sou imbroxável”. Não vou discutir o impacto que os acontecimentos vão ter na campanha eleitoral do presidente e dos seus adversários, em especial do seu principal rival, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Vou aproveitar o episódio para especular com os meus colegas, em especial os jovens, sobre o impacto que esses acontecimentos têm sobre a imagem do Brasil perante a comunidade internacional, em especial os fundos de pensão que hoje são os grandes investidores do mundo – há matéria na internet. O que aconteceu ontem (quarta, 7) dá a ideia de uma situação política instável no país. Não tenho os números. Mas alguns milhões de dólares não serão investidos no Brasil por conta do que aconteceu.

Lembremos que no Dia da Independência do ano passado Bolsonaro tentou dar um golpe e falhou. Ontem, ele reuniu milhões de pessoas pelo país afora. A presença dessa multidão pode significar uma virada de mesa da candidatura à reeleição do presidente que nos dias atuais patina enquanto a de Lula avança? O tempo dirá.

Lembro que quando foi aprovada a PEC da Bondade, que colocou à disposição do governo R$ 50 bilhões para gastar em programas sociais, era crença geral de que o auxílio turbinaria a candidatura de Bolsonaro. Até agora, faltando três semanas para as eleições, não turbinou.

Se a multidão reunida nos festejos do Bicentenário da Independência não turbinar a candidatura de Bolsonaro ele tem outra carta na manga? Seja lá qual for a sua intenção para o futuro, a democracia brasileira tem mostrado ter musculatura para impedir que aconteça qualquer coisa fora das normas constitucionais.

Por que acredito nisso? Foi investido muito trabalho, dinheiro, suor e vidas humanas na desconstrução da imagem do Brasil com uma República das Bananas. As manifestações da sociedade civil em favor da democracia têm deixado claro que o país não será arrastado para esse buraco novamente. Nós jornalistas temos um papel fundamental nessa história que é o de bem informar o nosso leitor sobre o que exatamente está acontecendo.

Não é por outro motivo que faço parte de grupos de conversa e estudos a respeito da eficiência dos noticiários. Há dados científicos que mostram que a opinião pública é moldada pelos noticiários, principalmente dos rádios e das TVs abertas. E a grande maioria dos repórteres que fazem esses noticiários são jovens atarefados, que não têm tempo de correr atrás de mais detalhes a respeito da informação que tem nas mãos. Isso os torna vulneráveis.

Como podemos ajudá-los? Ajudando a esmiuçar episódios como o dos festejos do Bicentenário da Independência e tornando público as informações que forem descobertas. Tenho 71 anos, 40 e tantos na lida de repórter, sendo que 30 e poucos trabalhei em redação.

Na maior parte do tempo estive envolvido com matérias investigativas complicadas e na cobertura de conflitos sociais. Mas considero que os dias atuais no Brasil são os mais interessantes que encontrei na minha lida de repórter. Vivemos um daqueles momentos na história que o trabalho do repórter é fundamental para a sociedade.

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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Um Comentário

  1. Se o autor não gostou Cavalão deu uma dentro. Desta historia toda o que fica é que o ‘cavalismo’, independentemente do resultado da eleição, é um segmento politico significativo e organizado. Enquanto isto Molusco com L., o honesto, promete limitar a exportação de carne para ‘combater a fome’. Quem pode ser contra o ‘combate a fome’? Medida não deu certo em lugar nenhum, por ultimo na Argentina. Como banco publico baixando o juro para tentar regular os privados, algo que Claudemir com P., o ‘sabio’, defende. Não funcionou no governo Dilma, a humilde e capaz. Obvio, bancos publicos não tem fundos ilimitados para regular o mercado.

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