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O menino grapiúna e a Revolução Farroupilha – por Michael Almeida Di Giacomo

O articulista e a visão do grande literato Jorge Amado, sobre a epopeia gaúcha

Hoje, perto de completar 190 anos – a partir de um distanciamento histórico – é possível compreender o porquê de celebrarmos o 20 de setembro como se tivéssemos sido vencedores da Revolução Farroupilha, a “Guerra dos Farrapos.

Penso ser muito mais uma demonstração de afeto pela nossa cultura, que lembra uma luta por liberdade, a qual no decorrer dos anos restou por se confundir com a própria causa do início da revolução.

Entre as muitas narrativas contemporâneas sobre a revolução é a letra de um baiano, Jorge Amado, expoente literato de nosso país, que a história dos gaúchos surge “saborosa como uma lenda, heroica como epopeia”.

O “menino grapiúna” – apelido de Amado, recebido ainda criança – em sua obra “O Cavaleiro da Esperança, um libelo em defesa de Luís Carlos Prestes, ao se referir ao “país” do Rio Grande do Sul, lembra que aqui, “nascem os homens valentes, aqueles que deixam um rastro de lenda na sua passagem”.

Segundo Amado, a terra do Rio Grande, das fazendas feudais – de economia atrasada – nos daria os tiranos pelo mesmo motivo que nos daria os revolucionários: “porque os homens eram tratados como animais, valendo menos que um boi de raça, que um árdego cavalo”.

E aqueles que saíram das fazendas e foram às cidades – homens que, pelo calor das palavras, ao se fazerem presentes na Corte, ainda nos tempos do vice-reinado, voltariam aos pampas com experiência a liderar um levante, “para derrubar os tiranos e tornar vida melhor, mais digna”.

Jorge Amado refere que a liberdade, palavra a guiar às noites “cheias do tropel das colunas, partindo, os cascos dos cavalos arrancando a erva do chão”, ecoava como um mantra em meio aos revolucionários.

Às mulheres, ao citar “o amor misturado com as revoluções”, presta homenagem a partir do protagonismo da brasileira Anita Garibaldi, exemplo de dedicação e coragem – não só em nossa revolução, mas em terras além-mar, no continente europeu.

Diz que nas lendas do Sul – melancólicas como sua natureza – é que nasce o “deus amado dos gaúchos, o negrinho do pastoreio, o mais sofredor dos heróis das lendas brasileiras”.  Que “aqueles que ‘mataram’ o negrinho do pastoreio” tinham em seu coração “o desejo de dominar os homens, sob o chicote”. 

Sobre esse período, afiança, “em nenhum lugar do Brasil, a escravidão e a liberdade se encontraram tantas vezes no terreno de luta”. Por isso, os homens e as mulheres “traziam o sangue do negrinho do pastoreio, não nas mãos, mas no coração”.

Era esse o sentimento farroupilha. É como foi lido por Jorge Amado.

O espirito de luta por liberdade no âmago das ações dos Lanceiros Negros, dos índios, dos peões, das Vivandeiras – mulheres que se tornaram combatentes sem terem alçado nenhuma patente militar – era o fundamento mais rico de toda a marcha do Exército Farroupilha.

Jorge Amado, brasileiro, baiano, por sua vez, com a autoridade de quem escreveu grandes romances regionalistas, consegue traduzir aquele tempo bruto com um lirismo próprio de quem, ao lado de Erico Verissimo, é um dos principais autores da segunda fase do modernismo brasileiro.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15. Ele escreve no site às quartas-feiras.

Nota do Editor: a imagem (sem autoria determinada) que ilustra este artigo é uma reprodução obtida na internet. Mais exatamente AQUI.

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Um Comentário

  1. Jorge Amado era formado em direito. UFRJ. Escritor. Foi deputado pelo PCB. Tinha talento como escritor. Fora disto a opinião dele era igual a de qualquer um. Mais ou menos como certas cantoras que sabem só sacudir o traseiro. Se o assunto for chacoalhar a bunda são doutoras. Fora disto…..

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