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O horizonte socialista – outra vez – por Giuseppe Riesgo

Articulista crítica o ideário “que dificilmente surge no coração do próprio povo”

Para além da nítida tragédia do socialismo bolivariano, especialmente no caso da ditadura venezuelana, o fato é que nossos vizinhos têm experimentado o regresso da esquerda nos últimos anos e, com ela, mais um reencontro com a promessa socialista.

Tem sido assim na Argentina, no Chile e até na Colômbia. No Chile, que há décadas experimentava a estabilidade da liberdade econômica e da ordem, propôs-se até mesmo uma constituição socialista. O povo a rejeitou rotundamente.

É que dificilmente o ideário socialista surge no coração do próprio povo. Nenhum trabalhador acredita na expropriação dos meios de produção, no controle das liberdades pelo Estado, na dissolução da família. É verdade que, a exemplo de algumas experiências latino-americanas, essas coisas não acontecem definitiva e totalmente, mas apenas em certa dose, em certo grau.

Essa era a preocupação de Hayek e, mais classicamente, de Tocqueville: as pessoas vão se habituando à servidão, sem a consciência de que já entregaram tudo para o planejador socialista; as coisas vão acontecendo como se o processo fosse natural e para o “bem” do povo. Até que vem a realidade: a miséria, a corrosão institucional, o enfraquecimento das liberdades.

E quem não enxerga ou não se importa com a realidade? A resposta é óbvia: sempre uma determinada casta de intelectuais, de artistas, de políticos e de burocratas. Lênin tinha consciência disso. A revolução se faz por aí, ainda que se diga, mentirosamente, que o povo a fará. Essa casta de iluminados, sem pé na dureza da vida real, acostumou-se a alentar ideias bonitas e a promovê-las.

Trata-se de uma espécie de autossalvação: os iluminados depositam na utopia da igualdade, na beleza do discurso, na retórica sentimental da empatia, a esperança de que todos reconhecerão a sua nobreza, a sua bondade, a sua boa intenção.

Mas quando chegam os resultados – e os resultados são sempre péssimos, sobretudo para os mais vulneráveis – todos eles somem, como se a responsabilidade de tudo fosse (eles denunciam) da “elite”. Alienados, sequer concebem que a elite são eles mesmos. 

No Brasil, a casta regressa à ativa, como sempre. O mesmo discurso, a mesma ladainha, a mesma utopia, a mesma histeria. E o que querem de volta? O velho socialismo que já aterroriza os nossos vizinhos. Os adversários são espantalhos, apresentados na sua extrema feiura para que a alternativa socialista soe como evidente beleza.

Só que no Brasil, o nosso socialismo, representado pelo engodo lulopetista, é pura beleza fingida. A verdade todos conhecem: é corrupção em níveis estratosféricos, é compra explícita de apoio parlamentar, é quebradeira de estatais, é envio de dinheiro para autocracias amigas, é estímulo ao ressentimento e ao ódio entre as pessoas.

Essa é a realidade do lulopetismo, que conhecemos bem. Mas ele está aí outra vez, no horizonte, mostrando que ainda pode se apoderar do aparato estatal, com renovadas ameaças: o fim do teto de gastos, o fim da reforma trabalhista, e a velha história da regulação da mídia (e agora das redes).

Tudo isso é muito sério. Mas talvez nem seja o pior. O pior, como em qualquer regime inspirado no ideário socialista, é a consolidação do reino do fingimento, da mentira e da desordem. E o apoio basicamente irrestrito das castas iluminadas, da alta burocracia e da patota artística e intelectual de sempre, é um claro sintoma de que tudo isso, caso se conceda ao lulopetismo esse direito de repetir todo mal que foi feito ao país, é o que, infelizmente, nos espera. 

(*) Giuseppe Riesgo é deputado estadual e cumpre seu primeiro mandato pelo partido Novo. Ele escreve no Site todas as quintas-feiras.

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4 Comentários

  1. Eleição atual é obviamente decidida por exclusão, não por adesão a um determinado conjunto de propostas. Midia vai tentar depois fazer colar uma narrativa diferente. Se a população cheirar o aroma do descaminho, as panelas irão cantar, o Congresso (que é feito de sobreviventes) não vai pagar a conta, vai achar um culpado. Simples assim. O problema é que pode ocorrer uma situação de ‘ponto sem retorno’. Venezuela chegou lá, Argentina está na beirada. A deterioração economica e do tecido social é tão grande que já não existe saida. Até existe um chavão, o preço da incomPeTencia é muito maior do que o da corrupção.

  2. Fim do teto de gastos pode bater no cambio, fuga de capitais, que bate na inflação. Reforma trabalhista, a velha CLT, não ha como fazer prognostico. Pessoal autonomo virou pejotinha, MEI. Ou seja, já é uma fuga adicional da CLT. Já é sinal que a economia não comporta aquele padrão de direitos (por mais justos que sejam), não é canetaço que vai mudar isto. Salário minimo na epoca da Dilma, a humilde e capaz, já deu errado. Já causou desemprego. Não é questão de acabar com ele, isto é asneira. Inflação do ano anterior com crescimento do PIB de dois anos antes só funciona se houver crescimento eterno. Se a economia embicar para baixo a receita dos empreendedores diminui e tem que aumentar os proventos dos funcionarios. Obvio. Ciclos do capitalismo? Marx! Sem falar nas mentiras, banco é um lugar cheio de colchões debaixo dos quais o dinheiro depositado é guardado. Uma vez por dia um funcionario levanta a cobertura e joga fermento misturado com adubo em cima das notas. Por magica o dinheiro se multiplica, do nada, sem nenhum vinculo com o processo produtivo.

  3. Socialismo não deu certo em lugar nenhum. Não vai ser no Brasil com estes cabeças de bagre é que iria funcionar. Simples assim. Ainda mais num contexto de quase Terceira Guerra Mundial, com promessa de recessão nos EUA, na Europa e queda de crescimento da China. Alguns falam em ‘recolocar as coisas nos eixos’, ou seja, voltar a fazer as mesmas coisas que provocaram a chegada até a situação atual. Fazer sempre a mesma coisa e esperar resultado diferente é loucura, dizia o tio Alberto, algo que alguns não conseguem assimilar. Não, o Brasil não vai virar exemplo para o mundo, não positivo pelo menos.

  4. Principal produto de exportação do socialismo são os pobres. Segundo lugar é a mão de obra qualificada. Na Argentina sindicato dos trabalhadores das fabricas de pneus patrocinou uma greve. Paralisou toda a cadeia produtiva de automoveis. Ultima vez que vi governo tinha ameaçado liberar as importações. Sinal que já não controla muita coisa. Outra, faltam profissionais de enfermagem no pais dos hermanos. Migram para o Paraguai e para São Paulo em busca de melhores salarios.

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