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O sumiço do Esculápio – por Marcelo Arigony

E todos choravam o desaparecimento. Muito. Ninguém viveria sem ele

Mal as barras do dia se anunciaram naquela plúmbea manhã, na pequena Epidauro, e a tragédia foi apregoada por sinos que dobravam em dó menor uma lúgubre sinfonia. O Esculápio havia sumido. Já havia sido procurado por toda a ilha de Cós. Nenhum sinal. O único vestígio era sua bengala deixada para trás.

O cajado serpenteado por dois fios cobreados em adorno, do qual nunca se separaria, ficou na sala da casa. Tivesse asas era o próprio caduceu do Hermes comerciante. Diziam que era um báculo curador. Acreditavam que essa ferramenta trazia inspiração e sorte ao esculápio; um placebo da fé curativa, ou mágica mesmo, tanto faz…

Pais e mães acordaram os filhos mais cedo para juntos lamentar. O alcaide decretou luto oficial. As ruas ficaram vazias. O único hospital parou. O comércio e as escolas nem abriram. Afinal, morreu? Fugiu? Foi sequestrado? Abduzido por extraterrestres na madrugada? Quem poderia ter feito tamanha monstruosidade com o Esculápio?

E todos – todos mesmo – só pensavam nisso, na pequena comunidade. Só se falava sobre o sumiço do Esculápio. Por que o Esculápio? Com tanta gente ruim que poderia partir, levaram ele. Logo ele que tanto contribuía; que confortava e curava; que era tão importante a todos. Insubstituível. Como ficariam sem o esculápio? Pretos, brancos, pardos e amarelos; jovens e idosos; ricos e pobres; todos choravam o sumiço do esculápio. Muito. Ninguém viveria sem ele.

Mas então, já no início da noite, como por encanto, o Esculápio apareceu. Simplesmente voltou. Trouxe consigo uma muda de Platano Orientalis, disse que seu nome verdadeiro era Asclépio, e não deu mais explicações…

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Esta crônica é uma pequena homenagem, no mês em que se comemora o dia do médico.

O Esculápio, ou Asclépio – na mitologia romana ou grega – é o Deus da cura, da medicina. Seria filho de Apolo com a Ninfa mortal Corônis, que foi morta por ciúme, talvez adúltera. Depois da morte da mãe, Esculápio teria sido arrancado do seu ventre e entregue ao centauro Quíron, que lhe ensinou artes medicinais, as quais foram desenvolvidas a ponto de ele conseguir até trazer mortos de volta à vida. Suas práticas curativas então teriam incomodado outras figuras da mitologia, a ponto de Zeus tê-lo matado com um raio, para restabelecer o equilíbrio das coisas terrenas.

(*) Marcelo Mendes Arigony é titular da 2ª Delegacia de Polícia Civil em Santa Maria, professor de Direito Penal na Ulbra/SM e Doutor em Administração pela UFSM. Ele escreve no site às quartas-feiras.

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