A agenda social do “mercado” – por Leonardo da Rocha Botega

Após quase um mês de uma agenda pautada pelas consequências da tentativa de golpe ocorrida no dia 08 de janeiro, nas últimas semanas a opinião pública brasileira foi tomada pelo debate econômico. O ponto de partida desse debate foram as críticas do presidente Lula aos altos juros definidos pelo Banco Central. Uma crítica que reacendeu velhas e novas temáticas como as políticas fiscais e monetárias, bem como, a própria independência ou autonomia do Banco Central.
O argumento central da crítica feita pelo presidente é o de que a manutenção dos juros altos impede a reativação da economia através de investimentos e, consequentemente, o crescimento econômico e a implementação das políticas sociais. Portanto, a atual política de juros do Banco Central é um dos principais impedimentos para a consolidação da agenda social do governo.
Em resposta, na entrevista que concedeu no programa Roda Viva da TV Cultura, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto afirmou que “toda agenda é social”, citando o quanto o Pix mudou a vida das pessoas mais pobres. Campos Neto chegou inclusive a falar de seu encontro na saída de um restaurante com uma criança que vendia “um produtinho” e aceitava o Pix como pagamento. Teria o emocionado muito o fato de o menino ter dito “o Pix mudou a minha vida”.
Em que pese a relevância prática do Pix como instrumento de transações financeiras, considerá-lo uma agenda social é no mínimo bizarro, principalmente, em se tratando de trabalho infantil. Uma bizarrice que reflete muito bem o universo mental daquilo que é chamado de “mercado” na grande mídia brasileira, ou seja, do grupo de rentistas situados entre os 1% mais ricos do país.
Tal grupo, nos últimos anos, obteve lucros extraordinários, enquanto a economia real brasileira se deteriorava e o desemprego, a informalidade e a pobreza cresciam fortemente. Somente no primeiro ano da Pandemia da Covid 19, em 2020, quando muitas empresas fecharam, tal grupo teve ganhos que variam entre R$ 603,1 mil e R$ 2,6 bilhões através de lucros e dividendos, operações que não são taxadas no Brasil. Desse mesmo grupo fazem parte os financistas que receberam do governo brasileiro, no primeiro mês da Pandemia, um aporte de R$ 1,3 trilhão como garantia de riscos.
É esse grupo que vê e prevê “catástrofes econômicas” cada vez que o presidente Lula fala na necessidade de o Estado brasileiro ampliar seus gastos para garantir um mínimo social para os 62,5 milhões de brasileiros que hoje estão abaixo da linha da pobreza. Foi esse grupo que vendeu a ideia de que a PEC da Transição era uma “PEC da gastança”. A PEC da Transição corrigiu pontos fundamentais para o mínimo andamento econômico e social do país na peça orçamentária draconiana montada pelo governo anterior, sendo inclusive fundamental para a garantia do pagamento do Bolsa Família.
Para esse grupo o Bolsa Família, as obras públicas e os investimentos do Estado são sempre um problema inflacionário, mesmo a realidade batendo à porta e dizendo que não é bem assim. Um grupo que crítica o Estado “Malvadão”, mas instrumentaliza o Banco Central, órgão do Estado, na produção de uma política de bolsa rentismo. Essa sim, sua verdadeira “agenda social”.
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964).
Estado e Mercado são conceitos teoricos. No final não passam das pessoas que os compõe. Mercado é o resultado somado de muitas decisões individuais. Não um grupo reduzido conspirando numa sala com ar condicionado (mais parecido com um soviet, ou melhor, um ‘coletivo’, termo mais atual). Estado são o estamento politico, o conjunto dos servidores publicos e os ocupantes de cabides. Problema não é o ‘Estado Malvadão’, problema é o Estado que pediu para ser burro e entrou várias vezes na fila.
PEC da Transição precisava, no pau da goiaba, de uns 80 bilhões (é só olhar o noticiario e ver os economistas não cumpanheros) para os beneficios sociais. O resto é para mimimi. Alas, ‘corrigiu pontos fundamentais para o mínimo andamento econômico e social do país’, sim, 8% de aumento para os servidores publicos. Voto que não bate no bolso não resolve nada.
Brasileiros abaixo da linha da pobreza são biombo, se escondem atrás deles. Alas, Dilma, a humilde e capaz, ‘Eu quero adentrar pela questão da inflação, e dizer a vocês que a inflação foi uma conquista desses 10 últimos anos do governo do presidente Lula e do meu governo.’ Não é catastrofismo, ela quebrou o pais. Sem pandemia. É experiencia, não ‘discurso’.
Ideologia destas criaturas prescreve que o Estado tem que ter grandes estoques de recursos para investimento e ‘promoção do crescimento’. Não empresários porque eles ‘lucram’ e isto não é aceitável. Problema é que os empresários têm que sobreviver no mundo real. ‘Estado’ no caso é um amontoado de semianalfabetos funcionais com ‘discurso bonito’. Que não deixam de encher os bolsos.
Numeros dos ganhos em lucro e dividendo, como o 1%, são totalmente chutados. Problema dos dividendos é a dupla tributação. Empresa (grosso modo) depois de pagar todos os tributos distribui parte dos lucros entre os acionistas. Querem pegar mais um naco. Vermelhos são conhecidos por odiar os capitalistas e amar o capital. Alas, quando a Petrobras distribuiu dividendos mais da metade foi para o caixa do Governo. Vermelhos acharam ruim porque não eram eles recebendo. Tributação dos dividendos não é assunto simples, se implementarem haverá consequencias. Afeta desde a decisão de investidores estrangeiros até fundos de pensão tupiniquins.
Entrevista não vi, mas debate sobre ‘agenda social’ é mimimi. Chega a lugar nenhum. É o tipo ‘um diz que é, outro que não é’. Pergunta resultante: e daí? Pandemia, outro assunto vencido. Tinha um pessoal que defendia o ‘fecha tudo e depois a economia a gente vê’. Deu m. até na China depois. Existiu o Auxilio Emergencial e o Programa Emergencial do Emprego e da Renda. Logo não é bem assim. Alas, transferencia de renda é despesa, gasto e não ‘investimento’.
Quanto ao 1% (numero de propaganda, nem sabem do que estão falando, totalmente chutado), vejamos Jorge Paulo Lemann. Nasceu no Brasil, mas é filho de empresário suiço Lemann jogou tenis representando a Suíça também, tem dupla nacionalidade). Estudou em Harvard. Maior parcela da fortuna é 10% da Inbev. 3G tem sede em Luxemburgo e Ilhas Cayman. Irmãos Marinho tem a rede Trouxa, mas obviamente não tem toda a grana investida em Terra Brasilis. Alas, se o patrimonio esta em ações e a economia aquece ficam ‘mais ricos’ porque as ações sobem. A menos que aumente o risco economico.
‘Rentistas’ é a designação atual utilizada pelos comunas para ‘capitalistas’. Narrativa é ‘ganham dinheiro sem fazer nada’. Senão vejamos, Elon Musk, que já foi um dos mais ricos do mundo. Tem 13% da Tesla (carros eletricos), pouco mais de 42% da SpaceX e quase 80% do Twitter. Este é o grosso da fortuna, ações. O que acontece quando as ações perdem valor? Fica ‘menos’ bilionario. Entre 2021 e janeiro deste ano sujeito perdeu algo entre 180 e 200 bilhões de dolares da fortuna. Crise nas Big Techs, maior bilionario é um frances, Bernard Arnault, artigos de luxo. Alas, nestas falam que Elon Musk é filho de milionario. Só que brigou com o pai (segundo ele a especialidade do genitor é tornar a vida dos outros miserável). Emigrou para o Canadá, trabalhou um ano em fazendas e madeireiras antes de entrar na faculdade. De onde saiu com uma divida consideravel.
‘Agenda social do governo’, não importa o que isto signifique, é genérico, é problema do governo. Olhando daqui é um biombo para o desenvolvimentismo. Ninguém vai ser contra ‘agenda social’, vai? Alás, ‘especialistas’ em economia que nunca estudaram o assunto e uns que estudaram mas não sabem nada. Dilma, a humilde e capaz, 2013, ‘Eu não concordo com políticas de combate à inflação que ‘olhem’ a questão do crescimento econômico, até porque temos uma contraprova dada pela realidade: tivemos um baixo crescimento no ano passado e um aumento da inflação, porque houve um choque de oferta devido à crise e fatores externos’. Contraprova dada pela realidade? Caiu! Alas, o texto evitou o assunto ‘inflação’. Obvio.
Alas, uma criatura andou falando que o presidente do BC era ‘indigente intelectual’. Criatura com graduação, mestrado e doutorado em geografia. Assunto da tese relacionado a economia. Conseguiu, não se sabe como, ir parar num departamento de economia. Campos Neto cursou economia e finanças na Universidade da California em Los Angeles. Fez mestrado em economia na mesma universidade. E outro mestrado em matematica aplicada no Caltech, California Institute of Technology, fácil entre as 10 melhores do mundo nos rankings que por aí existem. Entre professores e ex-alunos 47 ganharam o Nobel. Logo o time dos que raciocinam e o time dos apedeutas está muito bem delimitado.
Hummm….Problema não é os juros estarem altos, porque estão. Problema é Molusco com L., o honesto e dilmo, querer baixar na canetada. Problema é querer usar o Banco Central como cabide para cabeças de bagre vermelhos.