Geografia e poder – por Orlando Fonseca
Quando se começa a ultrapassar aquela linha que divide a infância da adolescência, começamos a questionar o mundo. Sim, o mundo começa em nossa casa, o primeiro território em que se percebem disputas, colocam-se em xeque as autoridades (dos pais, dos mais velhos, dos mais fortes). Bem entendido que o mundo entrou de modo avassalador naquele antigo espaço da casa, que em sua totalidade – espacial e temporal – chamamos, romanticamente, de lar. Depois vem a escola, quando a meninada compreende que é possível tirar o professor do sério, e que ir para a sala da direção, ou da orientação pedagógica (mais um território que, com tempo, perde a sua mística) não tem outro resultado mais grave do que um papo chato. É nesse momento da vida de um jovem que se começam a questionar o conteúdo programático da escola. E não pelo viés crítico, aquele que constrói uma mudança. Muito pelo contrário. Pois é bem aí que gostaria de inserir a geografia, para pensar sobre o momento político global, com uma guerra no leste europeu.
É comum professores e pais ouvirem a pergunta: por que eu preciso estudar isso? E isso são noções básicas de matemática ou de língua portuguesa, conceitos científicos e informações fundamentais de geografia ou história. Há uma anedota que diz, diante do desconhecimento de alguém sobre aspectos geográficos, que o desconhecedor passou de avião por cima das aulas da referida disciplina. Digo isso porque, tenho ouvido comentários que carecem de fundamento sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. O que me leva a crer que as noções de “geopolítica” – evolução de muito do que se aprendeu nas aulas de História e de Geografia – não têm base, não apenas por falta das atuais informações, mas pelo esquecimento do que se deveria ter aprendido nas aulas do Ensino Fundamental. Ouvi, semana passada, um repórter falar em invasão da União Soviética ao território ucraniano.
Como quase tudo no mundo, as noções de geopolítica estão em constante transformação. Enquanto, na segunda metade do século passado, tivemos uma divisão ideológica muito bem demarcada com seus dois blocos, o século 21 já começou com uma dispersão de práticas políticas, à medida em que o mercado – a economia – tendia à globalização. Com o baque sofrido pelo mundo financeiro, em 2008, que derrubou bancos nos EUA e Europa, a globalização começou a fazer água Dow Jones abaixo, e a força econômica dos mercados tradicionais postos em xeque. Com isso começamos a ver a ascensão de economias pujantes na Ásia, revolução tecnológica na Índia, formação de uma potência na China. A Rússia ainda é uma das maiores potências militares no mundo. Portanto, a ideia de um multilateralismo passou a ganhar força, com a formação de novos blocos econômicos – e políticos.
Portanto, mais do que uma guerra clássica, no caso da invasão da Rússia a uma país soberano, o que salta aos olhos de quem não faltou às aulas do Ensino Médio, é que temos uma guerra de narrativas. Não se trata simplesmente de uma disputa territorial, mas de uma posição estratégica. Com o fim do império soviético, dissolveu-se também o Pacto de Varsóvia, que garantia a cooperação bélica, entre as repúblicas hoje independentes. No entanto, a OTAN não diminuiu o seu poderio, pelo contrário, aumentou, ocupando cada vez mais os territórios nas fronteiras russas. É por esta razão, e não por um ânimo imperialista, ou vontade de recuperar o status da antiga União Soviética, que Putin ordenou a recuperação dos antigos territórios. O Brasil não tem nada a ver com a querela em si, a não ser diante da necessidade de se posicionar – e marcar posição – na nova geopolítica global. Como diz o presidente, agora a guerra já está em andamento, o que é preciso é encontrar uma solução para a paz. A tomada de posição não se refere simplesmente em tornar o Putin um Gengis Khan pós-moderno (é preciso voltar às aulas da escola), mas considerar o que 200 bases militares americanas, com 100 mil soldados e 400 ogivas atômicas em países como Alemanha, Polônia ou Finlândia estão fazendo lá.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.
Vou me concentrar na primeira fala do professor. Sim os jovens estão cada vez mais perdidos em meio a aulas desinteressantes. Numa época em que a facilidade de acessos as informações é em tempo real acho que a Escola precisa se reciclar. Nos meus 67 anos fico a pensar cada vez que um jovem reclama de certas disciplinas e penso que embora toda minha experiência de vida eu também não conseguiriam ficar atenta e tentar apreender algo que eu em segundo posso ler no famoso “tio google”. Os professores precisam pensar o que querem entregar: um jovem preparado para o futuro ou apenas um jovem que passou de ano pra ter um certificado de conclusão seja do ensino fundamental ou médio. O jovem tem que ser provocado senão vão ser apenas robôs e quando digo isso não apenas aos professores, os pais tem uma grande culpa nisso. Quem já não viu uma criança de 4 ou 5 anos com o telefone dos pais na mão? E pasme aos 10 já tem um telefone próprio. A criança tem que ser incentivada desde tenra idade para quando adolescente tenha interesse em estudar e aprender.
Fato: pelo menos desde 2014 escolas começaram a substituir livros fisicos por tablets no Brasil. Fato: tablets têm acesso à internet. Fato: acesso à internet propicia acesso ao ChatGPT. Fato: Google entrou em processo de obsolescencia. Fato: ChatGPT para ser usado necessita da capacidade de fazer as perguntas certas. Fato: juventude se adapta rapido, corpo docente não. Fato: sistema de ensino tem que mudar.
Cortina de Fumaça III, a volta dos que não foram. Já tem candidato a presidencia correntino falando que não vai concorrer mais (pode ser mentira, óbvio). Para consertar o que lá está, na hipotese bastante otimista que exista conserto, vai piorar muito para a população antes de ficar menos ruim. Chaplin dizia que a multidão é um monstro sem cabeça. Mais ou menos como na França daqui uns anos alguem vai ter que dizer ‘tem muita gente velha aposentada e pouca gente jovem trabalhando para pagar a conta, deu ruim’. Quero ver alguem chegar no meio da massa ignara e falar ‘a democracia é cara’. Conclusão é Venezuela foi para a conta, Argentina está na beirada e segundo a ‘The Economist’ Bolivia (que nunca foi uma Brastemp) está vendo a economia embicar para baixo. Aqui? Dependendo do Calabouço Fiscal que sair do Congresso já teremos uma pista. Se a Bolsa cair e o dolar ir lá para os 6 reais deu ruim.
Cortina de Fumaça II, a missão. Presta-se atenção na Ucrania e nas m. que o Molusco com L., o honesta, fala. Argentina não estava bem das pernas. Tiraram um cara da centro-direita. Colocaram O tal Fernandez e Cristina K. Colocaram a receita vermelha economica em ação. Emitiram moeda para cobrir o deficit, aumentaram o gasto publico e controlaram exportações (para diminuir inflação). Juros publicos a 80% ao ano. Inflação passa de 110% (a oficial). Ou seja, a taxa de juros por lá é -30% ao ano (deste jeito, negativa). Reservas do pais estão perto de acabar. Existe meia duzia de cotações do dolar por lá, o paralelo é o ‘Blue’. Sexta-feira correu o boato de uma desvalorização do peso (depois de tudo isto alguns ainda tem a cara de pau de culpar as Fake News, as c@g@d@s são secundárias). Aconteceu uma corrida aos bancos na sexta. Suspenderam as operações. Hoje é feriado bancário na Argentina. Ou seja, o mundo acabando aqui do lado e prestam atenção na Europa. Consorcio de midia ajuda.
O que leva a cortina de fumaça. Molusco com L., o honesto voltou a criticar a taxa de juros. Chamou o moto perpetuo economico de ‘roda gigante’. Dinheiro emprestado barato levaria a aumento de consumo, o que aumentaria o giro no comercio, que levaria a uma maior produção das industrias (sem importação da China) e aumento dos salários. O ‘pobre no orçamento’. ‘Todos participam’. Solução simples, empulhativa e errada. Não se empresta dinheiro sem garantias. Caso contrario forma-se uma bolha. Sem importação da China é sonho. Uma porque os chineses não irão gostar e irão reagir (eles tem balança comercial também). Duas porque não se substitui importações (monta-se fabricas) de um dia para o outro. Um aumento subito de demanda levaria a um aumento da inflação.
O que levou a guerra, se é que isto importa, as razões russas só Putin e meia duzia de pessoas no Kremlin sabem. Vermelhos não ligam os pontos por motivos óbvios, mas o argumento que usam é muito parecido com ‘a Ucrânia foi estuprada porque estava vestida com as cores do Ocidente’. ‘Ocidente’ significando Europa Ocidental e America do Norte bem entendido. Brasil tem importancia regional, America do Sul. No cenário mundial é irrelevante. O resto é ufanismo descerebrado. Pendeu para o lado Russo por motivos economicos, ideologicos (a esquerda é antiamericanista) e por conta de uma aposta que a China será a proxima grande potencia. O que pode acontecer, mas pode ruir também. Alas, Brasil deveria ser pragmatico e pensar nos proprios interesses (que não se confundem com os interesses vermelhos). Império do Meio defende que todo chines ou descendente de chines é cidadão daquele pais. Noutro dia fecharam uma ‘delegacia de policia’ chinesa clandestina em NY. Pode ser só propaganda, mas pode não ser. Ja aconteceu antes em outros lugares. Ou seja, não tem santo nesta historia.
Ianques também têm problemas. Sustituição do dolar não é impossivel, mas pode demorar. Não é a toa que o preço do ouro deu um salto desde 2019. Se fosse só a pandemia já teria normalizado. Prata idem. Ianques estão com muita divida (Japão está quebrado). Economia está tão fora do esquadro no quadro geral, cenarios internos e externos, que os economistas estão batendo cabeça com os prognosticos. Bastante perigoso.
Segundo a midia lá fora os Brics não são tudo isto que se marketeia. Brasil tem poucos interesses em comum com a India por exemplo. China e India tem conflito por conta de fronteiras. Russia e China têm problemas de curva demografica. Alas, grupos feministas já gritam contra uma politica (real ou imaginária) chinesa de obrigar as mulheres a colocar gente no mundo. Alas, entre 20 e 25% dos fertilizantes utilizados no Brasil vem da Russia.
O que leva ao assunto Molusco com L., o honesto. Segundo o consórcio de midia que o ajudou a ser eleito o problema foram só as declarações. Lá fora a lista é bem maior. Uma missão até a Venezuela, Celso Amorim indo até Moscou, dois navios de guerra iranianos atracando em porto tupiniquim. Duas semanas atrás a ‘The Economist’ publicou muito sobre os novos ‘não alinhados’. Duvido que o pais entraria na categoria se a publicação fosse feita uma semana depois.
Do ensino fundamental se aproveitam as linguas, matematica e as ciencias. Simples assim. Isto é o que fica. Isto deveria ser aprofundado. O resto remodelado.
Ensino fundamental não funcinava na minha epoca e não funciona hoje. Lembro que tinhamos que (dando uma de Claudemir com P., dando ‘testemunho’ que não interessa ninguem) saber os distritos de SM. Mudaram quase todos. As Republicas Sovieticas, principais acidentes geograficos e economia. Decoreba para a prova e depois o esquecimento. Ensino muito informativo e superficial. Sim, porque não existe tempo para adentrar os detalhes. Não só na geografia, na historia também. Alas, muitos cantam loas a ‘Educação Moral e Civica’. Era repetição da aula de historia, um pé no saco. OSPB? Uma especie de Direito Constitucional, o Estado Brasileiro. EPB era uma matação, perda de tempo. Para reprovar só não aparecendo na aula.
Bem mais complicado. Uma parte do oeste da Ucrania era, entre Guerras, parte da Polonia. A outra parte era URSS, conseguiram por desestabilização do governo. Quando Stalin assinou tratado com Adolfo ficou com as provincias que eram polonesas e unificaram o pais. Consolidou-se no pós-guerra. Noticias que saem a respeito do conflito são propaganda ocidental na maior parte. Os efeitos deleterios prognosticados estão acontecendo. Principalmente porque problemas estruturais na Europa ficaram sem solução, dinheiro foi desviado para defesa. Inflação que não cede, curva demografica pegando. O plano de aposentadoria dos membros do Parlamento Europeu está pela unha.
‘[…] não pelo viés crítico, aquele que constrói uma mudança.’ Ideologia sempre. Vermelhos gostam de dissimulação, ‘escola necessita formar o cidadão’. Objetivos revolucionários gramscianos, querem ‘mudar o mundo’. Resultado é uma multidão de despreparados, nem vão mudar a sociedade, nem vão conseguir desempenhar com minima proficiencia as tarefas que deles se esperam. Sociedade, por outro lado, muda as pessoas. Resultado é o que se vê.
Quando se cruza a linha entre infancia e adolescencia descobre-se o TikTok.