Uma mala de garupa cheia de sonhos, mais do que verduras e leite – por João Luiz Vargas
A roda do carrinho quebrou. O rodar diário o levou a não mais aguentar o peso
A estrada era tortuosa e esburacada. Muita poeira no verão e muito barro no inverno. Fazia parte da vida do menino, calça curta com tirantes e olhar maroto de guri criado solto. Seu carrinho-de-mão servia de transporte diário, desde sua casa até a casa de sua tia, para levar leite e hortaliças. A viagem pela estrada servia como um encontro dele com seus sonhos e lamentos.
Já havia várias vezes pensado em fugir de casa, conhecer outros lugares, brinquedos, mas lhe faltava coragem. Empurrando seu carrinho, carregado mais de sonhos do que verduras e leite, foram passando os dias, empoeirados no verão e com muito barro no inverno.
Um dia a roda do carrinho quebrou-se. Foi o rodar diário que o levou a não mais aguentar o peso que transportava. O guri, mesmo maroto e brincalhão, chorou lágrimas cheias de saudade de seu carrinho, que sempre dava ouvido a seus sonhos.
Voltou a andar pela estrada que lhe era tão conhecida. Agora não mais com o carrinho-de-mão, mas a cavalo. Com uma mala de garupa cheia de sonhos, mais do que leite e verduras. Só que não tinha mais o mesmo sabor das viagens, onde o rastro feito pela roda do carrinho simbolizava, em seus sonhos, o caminho tracado pela humanidade. Onde felicidade e amor entre as pessoas fosse o mais importante.
Foram poucos os dias precisos para levar a carga até o seu destino. Começou a não ir mais. Tinha a sensação de que, não indo, estava cultuando a saudade do passado e, principalmente, porque entendera que não deixava mais rastros na estrada.
(*) João Luiz Vargas, prefeito de São Sepé (ex-deputado, ex-presidente da Assembleia Legislativa e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado), escreve habitualmente no site às sextas-feiras.
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