A classe trabalhadora hoje – por Leonardo da Rocha Botega
“Primeiro de Maio aponta também para, pelo menos, duas questões centrais”
Mais uma vez a data simbólica do Primeiro de Maio, Dia Internacional do Trabalhador e da Trabalhadora, nos propõe reflexões. Foi com o tema “Um Brasil digno para a classe trabalhadora” que os sindicatos e os movimentos sociais” de Santa Maria (RS) fizeram um chamado de mobilização, apresentando um conjunto de 15 reivindicações que vão “de pautas econômicas e sociais a mudanças na legislação trabalhista”.
Para além de tais reivindicações, o Primeiro de Maio aponta também para, pelo menos, duas questões centrais: O que é a classe trabalhadora hoje? Como se identificar enquanto classe trabalhadora diante da complexidade do atual mundo do trabalho? Tais questões se impõe, sobretudo, desde últimas décadas do século passado e é a partir delas que podemos pensar a dignidade para a classe trabalhadora.
O predomínio do modelo taylorista-fordista até, aproximadamente, os anos 1980 nos países de capitalismo central e até a década seguinte nos países periféricos, produziu uma classe trabalhadora com características um tanto quanto homogêneas. A ascensão dos modelos de produção flexíveis, por sua vez, produziu uma profunda transformação na classe trabalhadora. O aumento da informalidade e da precarização fragmentou significativamente o proletariado.
Em meio a essa fragmentação, novas caracterizações e novas conceituações foram surgindo. “Novo proletariado”, “precariado”, “proletaroides”, são algumas dessas novas conceituações sociológicas para os trabalhadores e as trabalhadoras que cada vez mais tem deixado o espaço fabril. Isso significa que não existe mais classe trabalhadora? Não! Definitivamente não!
Por mais que a nova lógica produtiva tente ideologicamente utilizar termos como colaboradores, empreendedores, entre outras denominações que buscam dar um aspecto aceitável à superexploração e as novas formas de gestão da sobrevivência, o essencial da classe trabalhadora continua o mesmo. Seja operando uma moderna tecnologia, dirigindo por horas para um “patrão-aplicativo”, vendendo “cachorros-quentes” na esquina, fazendo trabalho intelectual em uma sala de aula ou andando de aeroporto em aeroporto buscando negociar os produtos da empresa que o emprega, a busca é a mesma: uma renda advinda da venda da força de trabalho.
Portanto, quem recebe um salário fixo ou quem trabalha com ganho incerto, mesmo os iludidos com “a liberdade de organizar o próprio horário”, pertence a classe trabalhadora. Isso parece uma obviedade para muitos. Porém, é uma obviedade que não pode ser esquecida. Reforçar a identidade de classe dos trabalhadores e das trabalhadoras é um ato de resistência! Resistência à uma lógica que promove o lucro de poucos fazendo trabalhador enxergar trabalhador como inimigo. Não somos inimigos, somos uma única classe. Somos trabalhadores e trabalhadoras com um único objetivo: viver com dignidade!
(*) Leonardo da Rocha Botega, que escreve regularmente no site, é formado em História e mestre em Integração Latino-Americana pela UFSM, Doutor em História pela UFRGS e Professor do Colégio Politécnico da UFSM. É também autor do livro “Quando a independência faz a união: Brasil, Argentina e a Questão Cubana (1959-1964)
‘[…] viver com dignidade.’ É conceito subjetivo. Ou vai ser um burocrata esfregando a barriga na mesa no ar condicionado que vai dizer o que é ‘melhor’ (exceptuando os absurdos) para os outros? Ou se trata de mais uma exortação teórica vazia para ‘promover a causa’? Nesta ultima hipotese, infantil. Como a noção intrinseca de regular a vida alheia nos minimos detallhes. A sociedade como um relogio mecanico com cada peça em seu lugar.
Santa Maria (como o RS) têm muitos causidicos e muitos ‘intelectuais’ de esquerda para sair do barro. Mentalidade difere muito de uma cidade industrial. Sindicalista pertence a classe trabalhadora, mas não trabalha e não pode ser demitido. Servidores publicos ‘classe trabalhadora’? São estaveis e corporativistas. Nos estatutos algo parecido com a desídia da CLT existe, mas é praticamente letra morta. Produtividade no serviço publico também não é la estas coisas e não faltarão exceções ou até mesmo algum burocrata que diga ‘escrevo tantas laudas por dia’.
‘[…] somos uma única classe […]’. Obvio que não. Episódio. Copiando Claudemir com P., o pedestre. Cena 1, decadas atras. Funcionario de sindicato distribuindo jornalzinho na entrada do turno. Dali a pouco um ‘vai trabalhar vagabundo’, um tapa na mão do dito cujo e jornal voando para todo lado. Deu policia. Pessoal do sindicato quase apanhou. Cena 2. Economia mal das pernas. Empresa sugere banco de horas. Assembleia. Sindicato defende o ‘não’. Banco de horas reprovado. Começam as demissões. Pessoal invade a sede do sindicato e exige nova assembleia. Que acontece e aprova o banco de horas. Quem perdeu o emprego perdeu, não tem volta. O que puxa o assunto das classes dentro da classe.
‘[…] a busca é a mesma: uma renda advinda da venda da força de trabalho […]’. Obvio que não. Alguns tem as habilidades, conseguem os meios e organizam recursos humanos e materiais para produzir serviços e produtos e assim auferir renda. Viram empresários (que diferem dos executivos grosso modo). Muitos torcem o nariz porque é um processo darwiniano. Alternativa vermelha? Um burocrata sem habilidades necessarias, que não teve que batalhar os meios (logo a eficiencia não importa) e nunca organizou nem um barraquinha de cachorro-quente. Vide arcabouço fiscal, totalmente centrado em gastos e arrecadação. Melhoria na eficiencia do gasto ou corte de custos desnecessarios não existem. O mundo se resume a orçamentos e estatisticas, o mundo real não interessa. Estratégia é auto-derrotante, um problema que se resolve sozinho mas com custo enorme. Ideologia é religião.
‘[…] fazendo trabalho intelectual em uma sala de aula […]’. A arte de dourar a pilula. Salas de aula são tocadas majoritariamente por burocratas hoje em dia (como há muito tempo), batem cartão, dão a mesma aula que prepararam há muitos anos. ‘Intelectual’ fica por conta do Gramsci. Alas, nada mais fordiano que o sistema de ensino, materia prima é uma criança que entra no fundamental e após mudar de estação de trabalho cada ano vira um ‘doutor-cidadão’ ao final do processo. Conservadores (de esquerda e direita) querem ‘fazer a voltar funcionar’ (com objetivos distintos). Alguém pode debater o mito da ‘era de ouro’, mas a verdade é que a educação brasileira após muitas ‘melhorias’ conseguiu ficar bem pior. Total zero, nos paises desenvolvidos já procuram por uma metodologia melhor até porque existe um negocio chamado ‘inteligencia artificial’. Por aqui justamente porque o ensino ficou refem de uma burocracia modificações só depois de cair de podre.
‘“Novo proletariado”, “precariado”, “proletaroides”[…]’. Preguiça, falta de talento ou simplesmente burrice? Obvio que é uma tentativa artificial de manter viva a ideologia. Que virou religião. Alas, um papo bastante brabo, pós-modernidade, falencia da modernidade, critica das metanarrativas (iluminismo, marxismo), Lyotard, choro e ranger de dentes.
Problema é que ‘só assalariado’ depende muito da epoca e do lugar. Aqui em Caxias havia uma epoca que operarios juntavam grana, compravam um torno usado e nas horas de folga trabalhavam no fundo do patio. Alguns viraram terceirizados. Em regiões texteis o equipamento é a maquina de costura. Mesma logica. Aplicativos de transporte, não só ‘precarização’ mas também bico de alguns. Alas, ‘Etica Protestante’ do Weber não foi escrito sem base. O fenomeno existe, a explicação é debatível. Trabalhar 60 horas por semana por lá não é absurdo. Bill Gates foi surpreendido no inicio da carreira dormindo no chão do escritorio. Na manha de segunda-feira, tinha trabalhado todo o final de semana e virado noites. Obvio que não são todos que tem a mesma oportunidade que ele e muito menos a disposição, mas tudo tem seu custo.
Proletariado antigamente era só o conjunto dos assalariados, os que vendiam a força de trabalho. De Marx para cá as condições de vida deste grupo melhorou bastante. No capitalismo, óbvio. Não foi por acaso que o muro de Berlim caiu. Venezuela. Coréia do Norte. Cuba está sofrendo novo exodo e a parada de 1ª de maio foi cancelada na ilha por conta da falta de combustivel (fonte BBC).
Hummmm….. Lembrando que o dia do servidor publico é comemorado em outubro. Modelo taylorista-fordista é coisa de sociologia ultrapassada. Alas, academia tupiniquim em muitos lugares parou no tempo. Noutros, como ja aconteceu em outra coluna do site, colocam-se alguns eventos na ‘mochila’ e o criterio de escolha é a conveniencia. Sistema Sloan, Sistema Toyota, por exemplo, não existem. Ou seja, ‘descolam’ o debate da realidade para continuar defendendo as mesmas baboseiras.