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Geopolítica – por Orlando Fonseca

“E não tem nada mais chato do que gente perdida tentando ensinar o caminho”

Antigamente, para que a gente não se perdesse, era preciso apenas reconhecer as ruas, as estradas, as rotas. E para isso era preciso que se soubesse ler e interpretar os mapas e as cartas náuticas. Os marinheiros entenderam que poderiam se guiar pela posição dos astros, nas tenebrosas viagens noturnas.

Vai daí que os cientistas entenderam que se poderia dar uma força para viajantes, colocando em órbita geoestacionária uma rede de informações em satélites artificiais. Com isso, já não é possível mais que alguém se perca, em trajetos domésticos, ou itinerários pelo mundo, bastando que se tenha à mão um GPS.

Mas, mesmo com todas as informações à mão, tem gente que, nas redes sociais, mostra que está mais perdido que cusco (o qual não tem GPS) em dia de mudança, pois se fia em seu instinto. E essa virtude, como se sabe, nos humanos foi-se atrofiando, em vista do conhecimento racional e da ciência. No entanto, quando ainda se manifesta na cabeça de gente, podemos vê-la no uso do senso comum. É o caso, mais uma vez, quando se fala a respeito de mais uma guerra no Oriente Médio. E não tem nada mais chato do que gente perdida tentando ensinar o caminho. 

Hoje não se trata mais apenas de geografia, para sabermos a localização de eventos ou de conflitos. É preciso reunir complexas informações de relações internacionais, marcadas hoje pelo que se passou a chamar Geopolítica. E para isso é preciso mais do que um GPS, ainda que este tenha se tornado tão comum que até jogador de futebol tem.

Talvez, para os que não tenham se atentado, nas transmissões esportivas, aqueles números individualizados são dados  do equipamento, fixado no corpo do jogador. Quando eles apresentam as imagens em forma de “nuvem” colorida, para indicar a recorrência de jogadas em um determinado ponto do campo, é por informações dos algoritmos no tal GPS.

No caso, estamos falando de Georreferenciamento. Algo que se tornou comum em vários campos de ação da economia e da produção, como é o caso do agronegócio. Sem a necessidade de um GPS, entender os fatos da guerra no Oriente Médio é ter em conta o seu georrefenciamento.

Em primeiro lugar, é preciso entender que há um conflito bélico entre forças militares de Israel e integrantes do Hamas, o que não quer dizer, a priori, uma disputa entre judeus e palestinos. Ainda que se os possa localizar no mesmo território, existem forças políticas, elementos históricos e míticos envolvidos na questão.

Ouvimos falar, nos noticiários, sobre primeiro-ministro de Israel e Autoridade Palestina (um posto provisório, desde acordos de 1994); sobre o Hamas, movimento islamista palestino, constituído de uma entidade filantrópica, um braço político e um braço armado. Criado em 1987, defende a criação de um Estado Palestino.

Por suas características, é considerado terrorista por alguns países (o Brasil não o considera). No entanto, o mesmo propósito define o Sionismo, movimento político, no final do século XIX, da comunidade judaica europeia, que reivindicava um Estado judeu independente, com seu braço armado: os grupos Irgun e Haganá, com operações terroristas.

Portanto, não é algo simples posicionar-se a favor ou contra nesta disputa. Não se pode produzir argumentações baseadas apenas no senso comum: espécie de GPS defasado, sem atualizações, para além das funções básicas. Não é porque estamos falando em Terra Santa, por onde andou o fundador do cristianismo, que precisamos assumir uma posição única.

Não podemos esquecer a origem contemporânea das religiões monoteístas que se situam naquele ambiente geográfico. Nenhuma delas, porém, representa em território físico o ambiente da fé. Ainda que se tenha o precedente histórico das Cruzadas, na idade Média, hoje temos documentos suficientes para entender que não existem mais guerras santas.

E assim como o Estado de Israel foi estabelecido em acordos diplomáticos na ONU, o Estado Palestino deve ser constituído para que volte a reinar paz na região. A paz que falta naquele espaço, tira a nossa paz, a quilômetros de distância, porque, mais do que nunca, estamos conectados. O que implica pensarmos que a nossa georreferência é a Terra, e devemos cuidar da paz em nosso planeta.

(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela Da noite para o dia.

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10 Comentários

  1. Midia tradicional já passou para o lado palestino. Mais do que obvio. Israel vai ter lavação de roupa suja depois que a confusão der uma tregua (com a classe politica inclusive). Russos tem o Caucaso. China os Uigures. Cidadão israelense medio tem o sentimento de que a ideia de ‘um Estado seguro para os judeus’ foi para o brejo e precisa ser ressuscitada. Segundo aspecto são os refens. Entre 2006 e 2011 um soldado israelense ficou em cativeiro. Foi trocado por algo entre 1100 e 1200 palestinos prisoneiros. Alguns participaram dos ataques do outro dia. Conclusão é que trocar refens por prisioneiros incentivou a captura de novos refens. Perspectiva dos que estão nesta situação não é boa. Alas, algumas mulheres depois de um estupro coletivo que vida terão?

  2. ‘[…] o Estado Palestino deve ser constituído para que volte a reinar paz na região.’ O ataque para alguns foi para interromper um processo de paz entre Arabia Saudita e outros com Israel. Irã (xiitas) e o Qatar não aderiram. Se a controversia Israel-Muçulmanos terminassem amanha quarta-feira os muçulmanos começariam a lutar entre eles. Nenhum engano, com inimigo comum são ‘primos’, tendem a reunir-se. Ou seja, não há solução no horizonte. O que convida a prestar atenção em outros assuntos, dolar já passou os mil pesos argentinos e existe desabastecimento de alguns produtos.

  3. No que se chega ao ‘Terrorismo de Estado’. Quem não consegue discernir os danos colaterais de uma operação militar de disparar uma arma na cabeça de uma criança no berço é um psicopata. O mesmo vale para o estupro de mulheres antes da execução. O mesmo vale para estupro de refens.

  4. ‘[…] não é algo simples posicionar-se a favor ou contra nesta disputa’. Mas é facil posicionar-se contra a barbarie. Relativismo e passação de pano não mudam isto, não são argumento. ‘[…] os grupos Irgun e Haganá, com operações terroristas’. ‘Divida historica’ é um dogma vermelho, não vincula os demais. Os argelinos colocaram os franceses a correr utilizando (também) ‘terrorismo’. É uma conversa que chega a lugar nenhum. Vermelhos e suas ‘revoluções’, minorias dominando maiorias utilizando violencia como ferramenta politica. ‘Terrorismo’ só não é legitimo quando o movimento de ‘resistencia’ é pro-ianque ou contra um governo ‘comunista’.

  5. ‘[…] sobre o Hamas, […] Criado em 1987, defende a criação de um Estado Palestino.’ Muito longe da verdade, muito longe mesmo. Hamas tem uma carta de fundação. Querem um Estado Teocratico na região. Combate a ‘invasão sionista’ da região. Chamam o Rotary e os maçons de ‘sionistas’. Citam os Protocolos dos Sabios de Sião. O ocidente representa ‘os cruzados’. Um amontoado de teorias da conspiração e anti-semitismo que parecem ter saido do livro do Adolfo. O documento existe, é publico e disponivel em varios idiomas.

  6. ‘[…] o que não quer dizer, a priori, uma disputa entre judeus e palestinos’. Existe sim. A ideia dos dois Estados não foi aceita porque foi de terceiros. Alem disto existem minorias religiosas israelenses que acreditam que a terra toda é dos judeus, os outros são invasores. E uma maioria religiosa muçulmana que acredita que a terra toda é deles. Dos dois lados gente que acredita nos dois Estados. Espalhados por ai um bando de imbecis que acreditam na convivencia pacifica com muçulmanos e judeus cantando John Lenon a beira da fogueira de mãos dadas.

  7. ‘ É preciso reunir complexas informações de relações internacionais, marcadas hoje pelo que se passou a chamar Geopolítica.’ Até a pagina dois. Existe um pessoal de Relações Internacionais na UFSM (resquicios do MILA). Pode-se dizer sem susto que estão para as RI como o Inter de SM está para o futebol. Existe uma diferença na formação e na informação a que tem acesso. Exemplo? Antony Blinken é o Secretario de Estado Ianque. Terceiro na linha sucessoria (estão sem ‘presidente da Camara’. Judeu, estudou sociologia em Harvard e Direito em Columbia. Esta no meio da confusão. Saindo do governo Biden provavelmente escreverá um livro. Antes mesmo ira a Harvard e Columbia palestrar sobre suas experiencias. Não é impossivel que venha a lecionar. Jogando a mesma ideia para os 100 anos passados se tem uma ideia.

  8. ‘Vai daí que os cientistas entenderam que se poderia dar uma força para viajantes, colocando em órbita geoestacionária uma rede de informações em satélites artificiais.’ Nada mais longe da verdade. Quem decidiu foi o governo dos Estados Unidos da America do Norte. Foi copiado pelos russos e pelos chineses. Alem disto não são simplesmente satelites, existem bases em terra, relogios atomicos (por conta da precisão) e até aplicação da Teoria da Relatividade. Vem dai a critica a ‘inovação’, ‘qualquer m. é inovação’, ‘nós também fazemos inovação’. A chance dos atrasados inovar em algo é minima e muita coisa, muita coisa mesmo, que é apresentada como ‘inovação’ é copia de outros lugares aproveitando a ignorancia geral da população.

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