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Uma tragédia humana que parece não ter fim – por Michael Almeida Di Giacomo

“Independente da narrativa adotada, o fato é que se vivencia uma tragédia”

Nada mais previsível, na era das redes sociais, do que o enorme número de ocidentais religiosos ou não – a expor suas opiniões no mundo on-line, de forma sempre absoluta – a favor ou contra Israel, ao Hamas, ou ao povo Palestino.

É um ato que se pode crer, quase obrigatório no século XXI.

E o que distingue uma opinião da outra, penso ser justamente a base ideológica que alimenta a cognição de quem a expressa. É que de certo modo, na maioria dos casos – ainda que de forma inconsciente -, somos influenciados por narrativas criadas pelos autores dos fatos.

O que formulo, após algumas leituras, é o tanto que o ataque promovido pelo Hamas acaba por se confundir com essa base ideológica, na qual narrativas – nas relações interpessoais de fundo religioso – se prestam a justificar os instrumentos de dominação, que, não raras vezes, acobertam princípios políticos e econômicos de controle do poder.

E não quero aqui justificar uma ou outra atitude bélica ou terrorista, uma vez que reconheço minha ignorância histórica em relação a uma guerra bíblica e secular, que se confunde na própria formação dos estados e povos na região.  

Agora, uma vez em que no mundo atual tudo (ou quase) tem fundo no discurso, não há dúvida de que é o tanto de cuidado na construção de uma narrativa, que definirá se minha ação será aceita ou refutada pelos demais, pois desde muito tempo é “assim que caminha a humanidade” (sic).

Nesse sentido, não é incomum lermos declarações de pessoas no campo da direita de que opor-se a força militar de Israel, no seu legitimo direito de defesa – que resta por vitimar civis na região de Gaza –  é construir uma narrativa antissemita, mesmo que a posição defendida seja tão somente a solidariedade aos inocentes mortos e aos seus familiares.

Também não é uma inverdade que o grupo terrorista Hamas, que segundo pesquisa de opinião do Barômetro Mulçumano é apoiado por 20% da população em Gaza, e ao longo dos anos construiu sua estrutura bélica a se confundir com a vida civil na cidade, ao lado de hospitais, escolas e mesquitas, é fundado justamente sob uma verve antissemita, a pugnar pelo extermínio dos judeus.

E, por óbvio, que uma previsível reação de Israel ao ataque terrorista restaria por vitimar – como faz – esferas do público civil, mesmo com a orientação de que sejam minimizados os riscos (?).

Infelizmente, ao que parece, face a brutalidade dos terroristas, que de forma cruel e sádica atacam os israelenses, o que veremos é um número ainda maior de vítimas civis e a estupidez humana a prevalecer sobre a racionalidade e o bem-estar das pessoas na região do Oriente Médio.

Independente da narrativa que você comunga, a verdade é que estamos a vivenciar uma tragédia humana, que parece não ter fim.

(*) Michael Almeida Di Giacomo é advogado, especialista em Direito Constitucional e Mestre em Direito na Fundação Escola Superior do Ministério Público. O autor também está no twitter: @giacomo15. Ele escreve no site às terças-feiras.

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11 Comentários

  1. ‘[…] o que veremos é um número ainda maior de vítimas civis e a estupidez humana a prevalecer sobre a racionalidade […]’. Numero de civis mortos na independencia da Argélia varia entre 350 mil e um milhão. Franceses pieds noirs foram massacrados como formigas. Guerra de civilizações, alguns dão valor diferente a vida humana. Simples assim.

  2. Digamos que o Hamas consiguisse seu objetivo. Expulsem os judeus do Oriente Medio e mate muitos. Alguém acredita que iria parar por aí? Vão enfiar a viola no saco e viver pacificamente?

  3. ‘[…] é apoiado por 20% da população em Gaza,[…]’ Numero não é confiavel. Alem disto na Faixa de Gaza não tinha ‘escola sem partido’. Doutrinação comendo solta.

  4. ‘[…] é construir uma narrativa antissemita […]’. Parte da esquerda é antissemita. Não aqui na esquina obvio. Porque não é só ‘[…] solidariedade aos inocentes mortos e aos seus familiares.’ Velho truquezinho, dão o tapa, escondem a mão e fazem papel de vitima. Para melhorar incentivaram parte da extrema direita (a verdadeira) antissemita

  5. “assim que caminha a humanidade”, sim. Sic transit gloria mundi. Decadencia do Imperio Americano, ascenção da China e da India (e do oriente), decadencia da Europa. Processo não sera indolor.

  6. ‘[…] que definirá se minha ação será aceita ou refutada pelos demais, […]’. Como os cinicos, os ‘demais’ que vão se ferrrar. Para não usar uma expressão com conotação sexual.

  7. ‘E não quero aqui justificar uma ou outra atitude bélica ou terrorista […]’. Tanto faz, não tem importancia nenhuma. Como meus comentarios, daqui duas semanas vai deixar de existir e ninguém vai lembrar.

  8. ‘[…] acaba por se confundir com essa base ideológica,’ ‘[…] nas relações interpessoais de fundo religioso’, ‘[…] não raras vezes, acobertam princípios políticos e econômicos de controle do poder.’. Isto é a mais pura teoria da conspiração transformada, via ideologia, em analise academica. Alguém conspira e planeja tudo o que acontece. Pessoas aderem, se sentem parte do ‘grupo que conhece a verdade’. Reconfortante também, melhor ter fé de que ‘alguém’, ainda que de maneira espuria, está no controle do que admitir a verdade, o mundo é muito mais aleatorio que a maioria gostaria de adimitir.

  9. ‘[…] ainda que de forma inconsciente -, somos influenciados por narrativas criadas pelos autores dos fatos.’ Isto é o ‘vitimismo’ de sempre. Existem movimentos de manada, obvio. Que ficam mais faceis com a simplificação dos fatos, instantaneidade, falta de memoria de medio/curto prazo, relativização e ‘terceirização’ do raciocinio. Coisas da era. Porem muito disto vem da escolha de muitas pessoas, optaram pela conveniencia e pela ‘facilidade’. Isto tem um preço alem das redes sociais e muitos terão que pagar o preço.

  10. ‘[…] distingue uma opinião da outra, penso ser justamente a base ideológica […]’. Maioria é ignorante. Reação ‘fisiologica’ é, aparentemente, mais comum que a racional.

  11. ‘Nada mais previsível, na era das redes sociais, do que o enorme número de ocidentais religiosos ou não – a expor suas opiniões no mundo on-line, de forma sempre absoluta […]’ Nome disto é ‘liberdade de expressão’. Alas, Sapo Dino em congresso de direito: ‘Se nós não compartilhamos uma narrativa comum quanto ao passado e não compartilhamos quando ao projeto comum de futuro, não existe Nação.’ Ou seja, a esquerda quer discurso unico. Que termina com ‘amem’. E até parece que o problema da guerra no Oriente Médio são as redes sociais.

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