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Presidente Biden pendurou no pescoço de Trump as imagens da invasão do Capitólio – por Carlos Wagner

Aqui, sobrevivência do bolsonarismo depende da consolidação do movimento

Imagens do 8 de janeiro de 2023 comprometem o futuro candidato bolsonarista à Presidência da República? (Foto Reprodução)

Há um detalhe que merece toda a atenção dos brasileiros, especialmente dos jornalistas, no discurso feito pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden (democrata), 81 anos, na quinta-feira (07/03), no Capitólio, o congresso americano.

Biden iniciou o discurso, que durou quase uma hora e meia, citando o alerta feito pelo presidente Franklin Roosevelt (1933 a 1945) sobre o perigo que a democracia corria no mundo com o crescimento do nazismo, na Alemanha, com Adolf Hitler, e do fascismo, na Itália, com Benito Mussolini, o que tornava iminente a Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945). Quando eclodiu, o conflito acabou envolvendo 72 países e deixando um rastro de 70 milhões de mortos.

Dito isso, Biden tomou fôlego, ficou sério e recomeçou: “Hoje, o perigo à democracia é interno. Aconteceu aqui nesta casa em 6 de janeiro de 2021, quando o meu antecessor incentivou a invasão do Capitólio”.

Foi como se Biden tivesse pendurado uma placa no pescoço do seu antecessor, apontando-o como inimigo da democracia, o responsável pelos atos terroristas documentados pelas TVs de todo o mundo em 6 de janeiro de 2021, quando uma tentativa de invasão ao Capitólio para impedir a escolha do novo presidente dos Estados Unidos pelo colégio eleitoral resultou em nove mortos, dezenas de feridos e muita destruição.

O antecessor é o ex-presidente Donald Trump (republicano), 77 anos, que concorreu à reeleição em 2020 e, após ser derrotado por Biden, incentivou os seus seguidores a invadir o Capitólio.

Ainda não houve a confirmação oficial. Mas a disputa presidencial americana, em novembro próximo, deverá ser novamente entre Biden e Trump. E a placa do 6 de janeiro que o presidente americano pendurou no pescoço do seu adversário será largamente usada na publicidade da campanha. Citei o episódio do discurso de Biden para puxar a conversa para a disputa pela Presidência do Brasil em 2026.

Seja lá quem for o candidato bolsonarista, o seu adversário deverá tentar atrelá-lo os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023, quando seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) quebraram tudo que encontraram pela frente no Palácio do Planalto, no Congresso e no Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília (DF), numa tentativa de derrubar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que havia assumido o governo uma semana antes.

Bolsonaro não vai concorrer nas próximas eleições porque foi declarado inelegível por oito anos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Mas ele sabe que a sua sobrevivência política depende da consolidação do movimento bolsonarista, que reúne a extrema direita e parte importante da direita democrática. E para que isso aconteça é necessário que, em 2026, haja um candidato competitivo.

As imagens de 8 de janeiro têm um imenso potencial de complicar a vida desse candidato. Portanto, é necessário torná-las irrelevantes. A primeira tentativa já foi feita e falhou. Tentaram emplacar a tese absurda de que tudo que aconteceu em 8 de janeiro foi articulado por Lula. Tratei do assunto em julho de 2023 no post Bolsonaro diz que o 8 de janeiro não foi tentativa de golpe, então o que foi aquilo?

A segunda tentativa de tornar irrelevante as imagens de 8 de janeiro está em andamento. O ex-vice-presidente de Bolsonaro, o general da reserva Hamilton Mourão (Republicanos-RS), fez um projeto de lei concedendo anistia para quem participou do quebra-quebra em Brasília. A recém-eleita presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), Caroline de Toni (PL-SC), se comprometeu a lutar pela anistia.

Ninguém sabe o fôlego que terá o projeto. Mas a aposta dos bolsonaristas é grande. Tanto que no ato que reuniu 200 mil pessoas na Avenida Paulista, área central de São Paulo, no último domingo de fevereiro (25), o ex-presidente insistiu no pedido de anistia. E foi apoiado pelo organizador, mentor e financiador da manifestação, o pastor neopentecostal Silas Malafaia, da Igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, um dos ícones da extrema direita brasileira.

Mais de 1,5 mil pessoas estão envolvidas nos atos terroristas de 8 de janeiro, somando os que são investigados (financiadores e incentivadores), os já condenados e os que estão em liberdade vigiada. Aqui é o seguinte. Os estrategistas políticos do governo Lula ainda não entenderam que os bolsonaristas estão lutando pelo poder de eleger o próximo presidente.

Essa luta não tem nada a ver com a administração do país. Basta ver que nas favelas das regiões metropolitanas os pastores seguidores de Malafaia não estão falando mal do Bolsa Família e dos outros programas sociais do governo. Eles estão batendo na tecla de que é necessário anistiar os participantes dos atos de 8 de janeiro, o que tornaria as imagens do quebra-quebra irrelevantes e facilitaria a vida do candidato bolsonarista a presidente.

Na primeira semana de março, o governo do presidente Lula sofreu uma significativa queda na sua popularidade – as pesquisas estão disponíveis na internet. A imprensa enfileirou vários motivos, entre eles a troca de desaforos entre Lula e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, o preço dos alimentos e outros assuntos – há matérias na internet.

Há um fato que não foi mencionado. Desde que deixou a Presidência da República, a presença de Bolsonaro nas manchetes dos grandes jornais nacionais é permanente. Não interessa o motivo. O que interessa é que ele está lá. Daí que não fiquei surpreso com a presença de 200 mil pessoas na Paulista em 25 de fevereiro.

Enquanto os estrategistas de Lula não entenderem a diferença entre a luta pelo poder e a administração do país vão ter surpresas desagradáveis. Pela maneira que foi organizado o seu discurso, o presidente americano e os seus assessores já entenderam essa diferença.

PARA LER NO ORIGINAL, CLIQUE AQUI.

(*) O texto acima, reproduzido com autorização do autor, foi publicado originalmente no blog “Histórias Mal Contadas”, do jornalista Carlos Wagner.

SOBRE O AUTOR:  Carlos Wagner é repórter, graduado em Comunicação Social – habilitação em Jornalismo, pela UFRGS. Trabalhou como repórter investigativo no jornal Zero Hora de 1983 a 2014. Recebeu 38 prêmios de Jornalismo, entre eles, sete Prêmios Esso regionais. Tem 17 livros publicados, como “País Bandido”. Aos 67 anos, foi homenageado no 12º encontro da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI), em 2017, SP.

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8 Comentários

  1. ‘Pela maneira que foi organizado o seu discurso, o presidente americano e os seus assessores já entenderam essa diferença.’ Eis porque existe tanta força em BSB sendo feita para controlar as redes sociais, ‘combater as Fake News’. Informação é descentralizada (os problemas não ficam mais debaixo do tapete e das cortinas de fumaça), querem que volte a ser como antes. Slow Joe discursou, é fato. Mas quem assistiu? A juventude que aprecia o Tik Tok? Alas, voltando para o Brasil, onde se decide em quem votar majoritariamente na ultima hora, quem assiste discursos oficiais em cadeia nacional (que não existe por la)? Algo que nem no Diario Vermelho da aldeia descobriram, estão sempre nos ‘ismos’, se tem alguém assistindo é outra historia.

  2. ‘Desde que deixou a Presidência da República, a presença de Bolsonaro nas manchetes dos grandes jornais nacionais é permanente.’ Majoritariamente falando mal. Dai a surpresa com os ‘200 mil’. Pior, se não conseguem influenciar na politica conseguem influenciar no consumo? Ou nas ‘campanhas de conscientização’?

  3. ‘[…] o governo do presidente Lula sofreu uma significativa queda na sua popularidade […]’. Passa ‘polarizando’, falando m. e esquece de governar. Quando vai governar é um ‘governo Dilma 3, a humilde e capaz’. Requenta programas anteriores, inclusive os que não deram certo. É divida para jogar dinheiro no ralo. Obvio que vai dar KK na economia.

  4. ‘Os estrategistas políticos do governo Lula ainda não entenderam que os bolsonaristas estão lutando pelo poder de eleger o próximo presidente.’ Vão ser burros assim la na casa do chapéu.

  5. O que aconteceu em 8 de janeiro foi um bando de vandalos detonando predios publicos. Chega a ser uma piada, tiraram a porta do gabinete do Xandão e fizeram côcô em cima da mesa dele. Bota ‘golpe’ nisto. A coligação Planalto/STF resolveu tentar a ‘narrativa’ de golpe porque sem ela as penas seriam cestas basicas. O problema é que não cola porque não faz sentido.

  6. ‘Foi como se Biden tivesse pendurado uma placa no pescoço do seu antecessor […]’. Se as eleições fossem hoje seria derrotado. Ninguém mais ‘da bola’ para discurso de politico. A crise migratoria continua. Teve um mes que entraram mais imigrantes ilegais pela fronteira do que nasceram americanos. Estão plantando algo, não se sabe o que irão colher. Resumo desta opera é: sinal da decadencia, não há candidato que preste concorrendo.

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