Por Júlia Weber (Foto de Ana Alícia Flores e Artes de Daniel de Carli) / Da Agência de Noticias da UFSM
No Rio Grande do Sul o carvão vegetal é utilizado, fundamentalmente, para fins alimentares, para o aquecimento de churrasqueiras e fornos de pizzarias, por exemplo. Porém, sua produção esbarra em problemas graves como a poluição elevada e a baixa produtividade.
Assim, a tecnologia proposta pelo coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Florestal da UFSM, Jorge Antonio de Farias, chamada forno-fornalha, surge como um antídoto para estes problemas. Pois, além de reduzir drasticamente a poluição, a técnica aumenta a produtividade e qualidade do carvão. Dessa forma, o mesmo volume de lenha produz mais carvão em peso e em volume, medidas determinantes na carvoaria.
A produção de carvão sustentável regional une a sustentabilidade e a geração de renda, promovendo o desenvolvimento local. O fomento desta iniciativa é uma parceria entre o Grupo de Economia e Política Florestal (EP Florestal) da UFSM, liderado por Jorge, a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater/RS) e a Universidade Federal de Viçosa (UFV).
Produção do carvão vegetal
A transformação da madeira em carvão é um processo físico-químico, que necessita, essencialmente, de três elementos: energia, combustível e pouco oxigênio. A energia, gerada pelo calor do fogo, o combustível, proporcionado pela lenha em umidade adequada, e a ausência ou redução significativa do teor de oxigênio no ambiente, dão origem ao processo chamado de carbonização. Nele, ocorre a queima da madeira, em uma temperatura que ultrapassa os 400 ºC no interior do forno, mas que não incendeia ou cria chamas, graças ao baixo contato com o oxigênio.
Tanto no forno tradicional quanto no forno-fornalha, esse processo inicial é o mesmo, porém os resultados são bem diferentes. Enquanto o tradicional apresenta apenas a estrutura básica de um forno comum, com apenas uma torre que libera diretamente todos os gases resultantes do processo da carbonização, o forno-fornalha, além de possuir a estrutura do forno, também conta com a fornalha, onde se concentra sua tecnologia diferencial. É através da fornalha que os gases são canalizados e queimados, liberando dióxido de carbono (CO₂) em vapor d’água, que gera um impacto mínimo à atmosfera.
Estrutura do forno
Apesar de visualmente serem semelhantes, as estruturas dos fornos sofrem mudanças substanciais. O forno-fornalha apresenta um sistema de controle do fluxo de ar diferente, além de ter a cúpula do teto com ângulos diferentes. Dessa forma, o produtor de carvão vegetal que deseja adotar a tecnologia terá que construir um novo forno, pois não há como adaptar um forno comum para um forno-fornalha.
Porém, é um processo viável economicamente, visto que ele é feito de materiais de fácil acesso. Os fornos-fornalha são feitos de tijolos, que, além de baratos, aguentam as elevadas temperaturas geradas na produção. O barro é usado no reboco, tanto para facilitar a abertura e fechamento das portas do forno quanto para auxiliar na dilatação, causada pelo aquecimento e esfriamento do processo. Mas a matéria-prima mais curiosa é, sem dúvida, o açúcar.
Na composição, ele é utilizado para dar liga e evitar que o reboco de barro trinque ou apresente rachaduras, que possam permitir a entrada de oxigênio ou a liberação de fumaça e comprometer todo o processo de produção do carvão.
Sustentabilidade e qualidade de vida
As regras estipuladas pelos órgãos ambientais determinam uma distância mínima entre os fornos tradicionais e as casas, ruas ou qualquer edificação, de 300 a 400 metros. Essa medida serve para proteger da fuligem e do desconforto gerado pelos resíduos poluentes liberados na fumaça do processo de carbonização. No caso do forno-fornalha, essa realidade também é bastante diferente.
Produtores de carvão vegetal sustentável, Zenaide e Semildo Dumke, de Restinga Seca, residem a poucos metros do equipamento. O casal descobriu a técnica a partir de uma reportagem exibida na televisão, se interessou e entrou em contato com a Emater. A partir disso, foram encaminhados ao professor Jorge, que os auxiliou no processo de implementação do forno-fornalha. Atualmente, já possuem três fornos, com capacidade de produzir três toneladas de carvão por vez.
Parcerias
Foi através da colaboração com pesquisadores da UFV, principalmente com a professora de Engenharia Florestal Angélica de Cássia Carneiro, que o grupo pôde absorver e implementar a técnica de produção de carvão vegetal na região. Junto com a UFV, o grupo também desenvolveu materiais didáticos que explicam todo o processo de construção dos fornos de carvão e a operação do sistema. Essa troca permanente permite o intercâmbio constante de materiais para análise, participação em bancas e coautorias em produções científicas. Segundo Jorge, a relação com os colegas mineiros vai além do técnico-científico, mas também é pessoal.
Já a parceria com a Emater, que também se mantém a longo prazo e ajuda a difundir a tecnologia, teve um papel fundamental na criação do projeto. É por meio da empresa que são repassadas demandas dos produtores, tanto os que têm o interesse em começar a produzir o carvão vegetal usando o forno-fornalha, como foi o caso de Zenaide e Semildo, quanto os que desejam aprimorar sua produção já ativa. Por intermédio da empresa, o grupo consegue chegar de forma mais assertiva ao público-alvo do projeto, fazer visitas, pensar em ações, eventos, entre outras iniciativas….”
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‘[…] liberando dióxido de carbono (CO₂) em vapor d’água, que gera um impacto mínimo à atmosfera.[…]’. Frase nao faz sentido. Dioxido de carbono em vapor d’agua. Jogar CO2 na atmosfera é justamente o que não se quer. Em escalas maiores a queima dos gases é utilizada para gerar energia. E o principio do gasogenio que era utilizado para carros a combustão antigamente. Se lembro bem existem patentes australianas no assunto.