Dos extremos – por Orlando Fonseca
É preciso, “com moderação, construir o diálogo em torno da agenda ambiental”
A partir dos eventos meteorológicos da semana passada, os quais assolaram grande parte do Rio Grande do Sul e mobilizaram grande parte do Brasil, sabemos todos que, daqui para a frente, vamos viver com extremos climáticos. Mortes, desabrigados, cidades inteiras arrasadas, pontes destruídas e estradas bloqueadas, a capital embaixo d’água, são o testemunho contundente e decisivo de que os tempos são outros e que a enchente de 1941 deixou de ser referência de desastre.
Há quem não queira perceber que a situação desastrosa, ainda que gerada pelo clima e pelo ambiente natural, tem fundamento na política. Mas outro aspecto deixa de ser um mero rótulo para adquirir sentido que precisa ser entendido a fim de que a razão volte ao debate político (assim como o sol volte a brilhar): os extremos ideológicos também são prejudiciais para a vida humana.
É evidente que uma tempestade não pode ser definida como de extrema direita ou extrema esquerda. As enxurradas que vêm do alto já não estão isentas dos efeitos do aquecimento global e, ainda que haja confusão do senso comum nesse debate, é sabido e provado que a emissão de CO2 pela queima de combustível fóssil é a grande responsável.
Por outro lado, as cidades arrasadas pelo transbordamento de rios foram construídas em áreas sujeitas às enchentes, e casas construídas nas encostas foram soterradas por deslizamentos de terra em lugares não recomendados para a construção. Ou seja, nem tudo nesta tragédia é fatalidade, porque o desastre estava anunciado, era só uma questão de tempo.
E aí se colocam as posições que, sem extremismos, podem ser conciliadas: de uma lado está a exploração gerada pela busca ilimitada do lucro, de outro, a voz de pesquisadores que defendem mudanças de hábitos e projetos que atentam contra o ambiente natural.
Assim como não é possível que se reconstruam, nos mesmos locais, as cidades hoje tomadas pelas águas, também é urgente que uma transição enérgica se faça de imediato, para que os níveis de poluição retornem aos padrões pré-revolução industrial.
Entretanto, é preciso buscar as soluções pelo consenso, assim como a solidariedade se dá espontânea diante dos desastres. Com moderação, construir o diálogo em torno da agenda ambiental. Durante os anos da guerra fria, pregava-se o temor da extrema esquerda, hoje se vê o crescimento da extrema direita no mundo, com seu negacionismo (que não aceita o aquecimento global), com a xenofobia (pós o esgotamento da visão colonial) e a exclusão social (pelo privilégio das elites).
Foi uma política de extrema direita, ainda que à brasileira, que produziu uma flexibilização nos códigos ambientais no modelo de “passar a boiada”. Os resultados disso estão aparecendo, e podem ser muito piores logo adiante. Para os especialistas, Porto Alegre se tornou um emblema das falhas das políticas neoliberais, pois toda a estrutura de prevenção às enchentes foi sucateada, por falta de investimentos e manutenção adequada.
A ministra do Meio Ambiente afirmou que é preciso sair da “lógica de gerenciar apenas ao desastre” e passar a gerenciar ativamente também a “urgência climática”. Deixando de lado os extremismos da questão, não é possível ignorar que a falta de investimento em políticas públicas, privatização de setores-chave como energia, água e saneamento, e o sucateamento do corpo técnico do Estado contribuem para a falta de prevenção e agravam as consequências de secas, ciclones extratropicais e enchentes (que vão se tornando comuns).
A polaridade eleitoral e política fez mal ao país, e agora é preciso buscar consensos e equilíbrio, em uma convivência pacífica entre as diferenças. Já vimos que, na natureza, não há este meio-termo, contudo, na natureza humana é possível e aconselhável construir-se o entendimento. Em especial para encontrar soluções duradouras na prevenção dos desastres naturais, que estão no rol das mudanças que o novo normal climático nos traz.
(*) Orlando Fonseca é professor titular da UFSM – aposentado, Doutor em Teoria da Literatura e Mestre em Literatura Brasileira. Foi Secretário de Cultura na Prefeitura de Santa Maria e Pró-Reitor de Graduação da UFSM. Escritor, tem vários livros publicados e prêmios literários, entre eles o Adolfo Aizen, da União Brasileira de Escritores, pela novela “Da noite para o dia”.
Tragédia anunciada, esses últimos governos, apoiados e “escolhidos” pelo empresariado, seguem a cartilha deles, do que dá lucro, não do que é necessário pra “estancar a sangria”. Obras de manutenção e ampliação das barreiras de contenção parece que não dão votos, afinal, não “escoam” a produção dos “colaboradores” de campanha.
Concordo, mas o articulista foi muito ponderado. Estes liberaloides não tem preocupação nenhuma com o clima e menos ainda com o futuro do planeta, querem é enriquecer mais e mais, e sem freios, o resto é coisa de “cumunista”, “vermelinhos” e “esquerdopatas”,
Resumo da opera: mais do mesmo. É o consenso com exclusão dos ‘indesejaveis’. Tudo muito bonito e maravilhoso, desde que se abandone o extremismo dos ‘outros’ e se implemente a ideologia extremista da esquerda. Nada muda, nada novo debaixo do sol (ou da chuva). Ideologia dos vermelhos é, como sempre foi, um penico cheio de coco embrulhado para presente. Que deu certo em lugar nenhum.
‘[…] o novo normal climático nos traz.’ Pressupõe que não pode ficar pior. É o ‘novo normal’ vermelho decretado por burocratas ideologicos.
‘[…] é preciso buscar consensos e equilíbrio, em uma convivência pacífica entre as diferenças.’ Excluidos os cavalistas, bem entendido.
‘[…] sucateamento do corpo técnico do Estado […]’. Muito do corpo tecnico que foi abolido era redundante e ineficaz. Alas, do que adianta corpo tecnico se ‘[…] a situação desastrosa […] tem fundamento na política’.
‘[…] privatização de setores-chave […]’. O que tem a ver privatização com aquecimento global?
‘[..] a falta de investimento em políticas públicas […]’. Eficacia, eficiencia e gestão são coisas da Globo. Negocio é jogar dinheiro nos problemas.
‘Porto Alegre se tornou um emblema das falhas das políticas neoliberais, pois toda a estrutura de prevenção às enchentes foi sucateada, por falta de investimentos e manutenção adequada.’ Sujeitos ‘ocultos’ estes especialistas. Tarso, o intelectual, foi prefeito de POA. Raul Pont foi prefeito de POA. São ‘neoliberais’? Padrão, a culpa é sempre dos outros.
‘[…] o crescimento da extrema direita no mundo, com seu negacionismo (que não aceita o aquecimento global), com a xenofobia (pós o esgotamento da visão colonial) e a exclusão social (pelo privilégio das elites).’ ‘Foi uma política de extrema direita,[…]’. Kuakuakuakuakua! Soluções de consenso, mas os ‘malditos cavalistas’ não contam! Kuakuakuakuakua!
‘[…] construir o diálogo em torno da agenda ambiental.’ Sim, reuniões interminaveis para endossar decisões tomadas como Deus fez a mandioca na cupula.
‘[…] é preciso buscar as soluções pelo consenso […]’. Utopia. Perda de tempo.
‘[…] também é urgente que uma transição enérgica se faça de imediato, para que os níveis de poluição retornem aos padrões pré-revolução industrial.’ Uma bobagem (para não utilizar outra palavra que pode resultar em processo) vinda de quem não sabe como se faz uma transição energetica e as consequencias que uma medida apressada traz. Na real? Leva decadas. Com muitas controversias, energia nuclear por exemplo.
Unidade não importa. Brasil joga 470 mil ‘carbonos’ por ano na atmosfera. China joga 13 milhões. Ianques 5 milhões. India 3 milhões. Problema não se resolve aqui. Argumento da formiguinha é invalido, ‘se cada um fizer a sua parte’. O que não significa que podemos depredar o meio ambiente.
‘[…] de uma lado está a exploração gerada pela busca ilimitada do lucro, de outro, a voz de pesquisadores que defendem mudanças de hábitos e projetos que atentam contra o ambiente natural.’ Os ‘pesquisadores’ que defendem o ‘temos que acabar com o capitalismo’. Esperteza dos vermelhos que desejam utilizar um problema real, esconder-se atras da ‘ciencia’ para implantar mudanças que funcionaram em lugar nenhum.
Existe outro problema. Agora de manha uma pessoa falou no radio que não era ‘negacionista’, que se preparou para a cheia e levantou os moveis, mas as medidas so teriam efeito até um metro d’agua porque depois tinha o teto da casa. Se esta chovendo a dar com os pes e a agua esta subindo, como foi feita a ligação com ‘negacionismo’ é um mistério.
Meteorologia se escuta do pessoal da UFSM, é competente no que faz. Depois que a agua está no chão ouve-se o pessoal do Instituto de Pesquisas Hidraulicas da UFRGS. Simples assim. O resto é ruido.
‘Há quem não queira perceber que a situação desastrosa, ainda que gerada pelo clima e pelo ambiente natural, tem fundamento na política’. Para quem só tem um martelo na mão todo problema é prego. Não é negar a politica no genérico. E afirmar que há politicas e há politicas. Que eventualmente deve ir para o banco de passageiros e deixar o guidon para a tecnica. Que não suporta desaforo.