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A política externa dos Estados Unidos – Parte 4 – por José Renato Ferraz da Silveira

Um 1º mandato, derrota e o retorno “triunfante, messiânico”, de Donald Trump

“We will make America Strong again. We will make America proud again. We will make America safe again. And we will make America Great Again”.

Donald Trump

Populista contemporâneo

Trump herdou uma economia saudável. No período que ele assumiu o cargo, os Estados Unidos viviam um expressivo período de expansão econômica (junho de 2009 até fevereiro de 2020 quando veio a recessão causada pela pandemia do covid-19). O índice de aprovação de Trump foi estável, oscilando entre 30% e 40% em toda a sua presidência. Outro dado notório é que o índice de aprovação das políticas de seu governo sobre a economia se manteve alto durante a maior parte de sua gestão oscilando entre 50% e 60% até 2019 antes da crise do Covid jogar a economia em recessão. Destaca-se que – em julho de 2019 – o índice de desemprego caiu para 3,6%, o menor desde 1969. Trump teve uma aprovação que chegou a superar a aprovação do governo de Barack Obama comparando os dois primeiros anos de mandato de ambas presidências. Trump foi descrito como parte do chamado “populismo contemporâneo”.

Decisões polêmicas

Ao longo dos quatro anos de governo, Donald Trump acumulou decisões polêmicas.

Algumas das medidas tomadas por ele levaram a verdadeiras brigas judiciais e a impasses entre os entes que formam os Estados Unidos. Uma das medidas do governo Trump foi o endurecimento da política de imigração, determinando a extradição forçada de muitos imigrantes. O governo Trump também impôs uma política de imigração conhecida como “política de tolerância zero”. Nela qualquer adulto imigrante que entrasse ilegalmente no país seria preso e acusado judicialmente. A exceção seria para imigrantes que cumprissem os requisitos para pedir asilo.

Algumas cidades norte-americanas (conhecidas como cidades-santuários) se recusaram a seguir a rígida política de imigração do governo e passaram a proteger os imigrantes residentes dentro de seus limites. Outra medida tomada pelo governo Trump referente à imigração foi a proibição da entrada de pessoas de cinco países: Somália, Líbia, Irã, Sudão e Iêmen. A medida foi considerada xenofóbica.

Muro na fronteira com o México

Trump, ainda, deu início à construção do muro na fronteira com o México, uma obra extremamente cara. Ele não cumpriu a promessa de fazer o México pagar pelo muro. A política de imigração do seu governo também foi duramente criticada por separar crianças imigrantes de seus pais, e muitas delas permaneceram assim por anos.

Saída do Acordo de Paris

Outra medida polêmica do governo Trump foi decidir retirar os Estados Unidos do Acordo de Paris. Esse acordo é parte de um tratado assinado por 195 países cujo objetivo é reduzir os efeitos do aquecimento global no longo prazo. Um dos principais pontos desse acordo é tentar reduzir o aumento da temperatura em 1,5ºC. Os Estados Unidos saíram do Acordo de Paris em 2017, e essa foi uma das demonstrações mais significativas de Donald Trump acerca da sua postura negacionista a respeito do aquecimento global. Além disso, o ex-presidente norte-americano realizava declarações rotineiras sobre não acreditar no que os cientistas dizem sobre o fenômeno.

Os Estados Unidos retornaram ao Acordo de Paris poucas semanas após o presidente Joe Biden ter assumido a presidência norte-americana, em 2021.

Declarações falsas ou enganosas de Trump

O presidente Donald Trump também ficou conhecido por fazer declarações falsas ou enganosas com certa frequência. Esse tipo de declaração é usualmente conhecido como fake news e basicamente consiste na difusão de informações flagrantemente falsas ou parcialmente falsas com o intuito de manipular a opinião pública.

Os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt apontaram para o fato de que, durante a campanha eleitoral em 2016, 69% das declarações públicas de Donald Trump poderiam ser enquadradas como falsas ou enganosas. Além disso, eles apontam para o fato de que Trump fez uma declaração falsa ou enganosa por dia, durante os 40 primeiros dias de seu governo.

Trump: Cuba e Estados Unidos

A política do governo Trump foi extremamente conservadora e passou por transformações consideráveis. A primeira mudança significativa se deu na diplomacia com Cuba, país do Caribe que, desde a década de 1960, sofre com um embargo econômico imposto pelos Estados Unidos. As relações entre Cuba e os Estados Unidos haviam se estreitado durante o governo de Barack Obama, mas voltaram a ficar ruins com Trump.

Trump: Coreia do Norte e Estados Unidos

O governo Trump, ainda, esboçou um estreitamento de laços com a Coreia do Norte, mas as negociações entre os dois países fracassaram. Trump também assumiu uma postura mais rígida com o Irã e seu programa nuclear, e interveio na Síria por conta dos desdobramentos da Guerra Civil Síria. As relações do seu governo com a Venezuela também foram consideradas ruins.

Trump: Israel e Estados Unidos

A ação mais polêmica da política externa norte-americana se deu na relação do país com Israel, um dos maiores aliados norte-americanos na região. Em 2018, o governo Trump decidiu reconhecer Jerusalém como capital de Israel e anunciou a transferência da embaixada norte-americana de Tel Aviv para Jerusalém.

Essa medida foi considerada polêmica porque Jerusalém é uma cidade que gera conflitos entre israelenses e palestinos e não é reconhecida internacionalmente como a capital de Israel. Internacionalmente, entende-se que Tel Aviv é a capital israelense. A postura da comunidade internacional é de que Jerusalém seja partilhada entre israelenses e palestinos.

Covid-19

Em março de 2020, a Organização Mundial da Saúde anunciou que a covid-19 havia alcançado um quadro alarmante, e isso fez com que a organização anunciasse que o mundo vivia uma pandemia. Até agosto de 2021, mais de quatro milhões de pessoas morreram da doença, e uma parte significativa delas era norte-americana.

O governo Trump foi bastante criticado por não combater da forma ideal o avanço da covid-19 nos Estados Unidos. Especialistas na área da saúde e da infectologia apontam que o governo Trump recusou-se a tomar medidas públicas de combate à doença. O presidente também foi acusado de minimizar a gravidade da doença e de defender tratamentos ineficazes no combate a ela, como o uso de hidroxicloroquina.

O declínio de Trump

O governo de Donald Trump contribuiu para polarizar os Estados Unidos. No decorrer de seu mandato, a popularidade do presidente caiu e até uma tentativa de depô-lo por impeachment foi feita, mas fracassou. Um dos pontos que mais prejudicaram Trump foi seu fracasso no combate à covid-19.

Percebendo sua situação delicada, o então presidente optou por atacar o sistema eleitoral norte-americano a fim de deslegitimar o processo em caso de uma eventual derrota. Sua principal acusação era de que o sistema eleitoral norte-americano estava fraudado, mas suas acusações não tinham provas.

A disputa: Biden x Trump

A disputa da eleição presidencial de 2020 foi contra o democrata Joe Biden. Nessa eleição, Donald Trump foi derrotado, obtendo 74 milhões de votos e 232 votos no Colégio Eleitoral. Joe Biden, por sua vez, obteve 81 milhões de votos e 306 votos no Colégio Eleitoral. Após a derrota, apoiadores de Donald Trump invadiram o Capitólio, um evento que foi condenado como um grande ataque à democracia norte-americana.

O desespero de Trump

Donald Trump ainda tentou intervir na contagem dos votos quando se tornou claro que ele seria derrotado. Essa postura foi entendida por analistas políticos como uma tentativa de golpe, algo inédito no sistema político norte-americano. O presidente Trump fracassou no seu objetivo e, derrotado, teve de entregar a presidência para o vencedor, Joe Biden.

Governo Biden

Joe Biden assumiu a presidência dos Estados Unidos no dia 20 de janeiro de 2021, com 78 anos de idade, fazendo dele a pessoa mais velha a assumir a presidência norte-americana na história, além de ser o 46º presidente do país. Algumas de suas primeiras medidas visavam reverter decisões tomadas durante o governo de Donald Trump.

Em abril de 2021, Biden anunciou a retirada de todas as tropas norte-americanas do Afeganistão, país ocupado pelos Estados Unidos desde 2001. A saída das tropas permitiu que o Talibã, organização fundamentalista islâmica, retornasse ao poder do país. A medida dividiu a opinião pública.

O governo Biden recebeu críticas pelo aumento na inflação, que afetou o custo de vida da população norte-americana. Um dos produtos que tiveram alta no preço foram os combustíveis. Ainda assim, a economia norte-americana registra bons índices de crescimento. Joe Biden também recebeu críticas por manter um rígido controle sobre a política de imigração nos Estados Unidos.

Na política internacional, o governo Biden foi muito criticado por apoiar financeiramente o esforço de guerra na Ucrânia, iniciada pela Rússia em 2022.

Na política doméstica, a reação da economia foi lenta e gradativa. E a baixa popularidade de Biden sinalizava que o modelo de governo democrata estava esgotado.

O retorno triunfante de Trump

Trump (Republicanos) disputou a eleição presidencial contra a vice-presidente Kamala Harris (Democratas) e venceu tanto nos colégios eleitorais e no voto popular. Um retorno triunfante, messiânico de Trump.

Referências

KISSINGER, Henry. A Diplomacia das Grandes Potências. Trad. Saul S. Gefter; Ann Mary Fighieira Perpétuo. Rio de Janeiro. Livraria Francisco Alves, 1999.

KISSINGER, Henry. Precisará a América de uma política externa? Uma diplomacia para o século XXI. Trad. Fernanda O´Brien, Jorge Simões, Lucília Filipe e Maria José Figueiredo. Lisboa. Gradiva, 2003.

PECEQUILO, Cristina Soreanu. A política externa dos Estados Unidos. Porto Alegre. Editora da UFRGS, 2003.

(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP.

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14 Comentários

  1. Resumo da opera. Trump. Pior ou melhor depende para quem se pergunta. Em Terra Brasilis corre o movimento ‘a picanha é nossa’. Negocios de Joesley e Wesley são questões de soberania nacional. Noticia boa? Vermelhos não tem talento, capacidade cognitiva ou vontade de fazer algo diferente. Darwin sorri. Quando se esta acostumado a gastar 7 reais no pão e de repente vira 10 consequencias ocorrrem.

  2. ‘Um retorno triunfante, messiânico de Trump.’ Não. Em diversas ocasioes a eleição foi definida como plebiscitaria. Qual a identidade da Ianquelandia? Nenhuma surpresa, agora no Brasil ‘cultura woke’ é coisa de extrema direita. Na opinião de diversos ‘especialistas’.

  3. ‘Essa postura foi entendida por analistas políticos como uma tentativa de golpe[…]’. Indeterminados para variar. Cuja opinião não tem relevancia.

  4. Midia (que nunca produz fake news) escondeu os problemas cognitivos de Biden. Quando ficaram evidentes bateu o panico. As primarias que levaram Biden a candidatura já tinha sido Mandrakes. Harris virou candidata numa decisão de gabinete.

  5. ‘Joe Biden também recebeu críticas por manter um rígido controle sobre a política de imigração nos Estados Unidos.’ Por não manter, isto sim.

  6. ‘Em abril de 2021, Biden anunciou a retirada de todas as tropas norte-americanas do Afeganistão […] A medida dividiu a opinião pública.’ Problema não foi a retirada, problema foi a forma que aconteceu. Que não dividiu a opinião publica, foi um desastre. Cabeças irão rolar por conta disto.

  7. Trump foi acusado de ser agente russo. Provou-se ser mentira. Recentemente Elon Musk foi acusado da mesma coisa. Não colou. Agora é Tulsi Gabard. Esquerda é santa, não mentem.

  8. Trump mente. ‘Os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt apontaram para o fato de que, durante a campanha eleitoral em 2016, 69% das declarações públicas de Donald Trump poderiam ser enquadradas como falsas ou enganosas.’ Cientistas politicos de esquerda estão acima de qualquer suspeita. Só que não.

  9. ‘Um dos principais pontos desse acordo é tentar reduzir o aumento da temperatura em 1,5ºC. ‘ Eta portugueis véio. É tentar limitar o aumento da temperatura a 1,5º C. Já furou. Acordo de Paris é uma tremenda hipocrisia.

  10. ‘Somália, Líbia, Irã, Sudão e Iêmen. A medida foi considerada xenofóbica.’. Paises conhecidos por não terem Estado Islamico e nem Al Qaeda.

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