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E mais uma vez voltamos ao assunto de sempre – por Elen Biguelini

E então, “crianças não são mães. Estupro não é a criação de uma criança”

Parece que este assunto retorna ciclicamente. Não parece fazer muito tempo que discutimos nova campanha contra os direitos das mulheres; mas novamente estamos aqui.

Durante séculos o movimento feminista procurou avançar questões sobre a feminilidade. Uma das questões que sempre importou para as feministas foi a maternidade: tanto ao direito desta, quanto ao direito de não ser mães. Outra luta feminista é contra a violência sexual.

Ainda assim, mais de 200 anos de movimento, e novamente estamos aqui: alguém se opõe ao aborto legal.

Por que não podemos progredir com este debate? Crianças não são mães. Estupro não é a criação de uma criança. Uma criança estuprada, então, é duplamente não merecedora das dores (e possível morte) relacionada a uma gravidez quando seu corpo não está pronto.

Batalhamos pelo direito de vitimas poderem defender seu corpo da memória eterna de uma violência. Afinal, é isso que uma gravidez pós-abuso significa: ETERNA EVIDÊNCIA no próprio corpo de uma situação traumatizante. Quando a gravidez é continuada, a criança que é fruto desta violência também é eternamente estigmatizada pela circunstancia que a formou. Não há vencedores em violência sexual.

Não podemos novamente retroceder.

Cabe à sociedade lutar contra a violência sexual, não contra as pobres vítimas e seus corpos.

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.

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