As novas modas do tiktok: Unschooling ou Desescolar – por Elen Biguelini

Durante esta semana nos deparamos com algo que existe desde os anos 70, mas que com as mídias sociais se tornou mais comum e discutido. O método educacional de unschooling ou desescolarizacão. Na teoria, este método que parece valorizar o aprendizado da própria criança deveria funcionar, assim como formas já aclamadas de estudo como a pedagogia das escolas Waldorf (que dá autonomia sobre o currículo às escolas e professores e incentiva a criatividade e o sentimento do aluno) ou Montessoriana (que também permite autonomia, mas dos alunos, colocando à volta do aluno materiais que incentivam a aprendizagem de forma equilibrada e acompanhada).

No entanto, aliada ao desejo de que a criança deve aprender aquilo que ela quiser, o unschooling vendido pelo tiktok parece expressar apenas um radicalismo contra o ensino tradicional. Assim, os pais celebram que seus filhos não conhecem as letras aos 8 anos.

Pretendemos deixar claro que a crítica aqui não é ao metodo em si ou ao desejo de permitir que seus filhos aprendam de forma lúdica segundo seus interesses. Mas sim, uma crítica ao que a mídia social mostra idealizadamente e na verdade não é o que é representado.

Influencers americanos vendem algo desregularizado, um “colocar um caderno branco na frente da criança e ir fazer outra coisa”, deixando que a crianca de 5 ou 6 anos decida o que irá “estudar”. Isto na verdade figura como descaso e preguiça de auxiliar os filhos e dar a eles meios para aprenderem mesmo que de forma lúdica e autodidata.

Claramente, o unschooling é ligado ao homeschooling. Talvez este método funcionasse junto ao ensino escolar tradicional, ou á uma abordagem como as duas mencionadas acima (Waldorf e Montessori). Ou mesmo, no caso americano, em estados com uma maior regulação sobre o que deve ser estudado e quando. Mas no modelo vendido pelo tiktok é só mais uma modinha que fará com que os filhos não falem mais com seus pais quando adultos, visto que é mais importante para estes tiktokers o ter pessoas assistindo e polarizando seus vídeos que o desenvolvimento intelectual, moral e emocional de seus filhos.

No Brasil, a princípio isto não aconteceria, pois as leis de segurança e bem estar da criança não permitem tal descaso, visto a obrigatoriedade da escola. É justamente esta obrigatoriedade que protege a criança. Pois e na escola que os abusos são descobertos. Em aulas de educação sexual, ou aulas de educação física, ou conversando com os professores favoritos ou diretores.

Apesar disto, resolvemos escrever este texto como um aviso, pois há uma tendência nos brasileiros de copiar os americanos mesmo em coisas que comprovadamente não funcionam. Um aviso também contra as modinhas das mídias sociais, que por vezes vendem algo lindo, mas que na verdade não é tão lindo assim.

Colocamos abaixo a páginas da Wikipédia dos métodos Waldorf e Montessori para aqueles que tiverem interesse:

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Pedagogia_Waldorf

https://pt.m.wikipedia.org/wiki/M%C3%A9todo_Montessori

Referências

Reportagem da Forbes de 2020, que já demonstra o que agora vemos em resultados nos vídeos de tiktok: https://www.forbes.com/sites/nataliewexler/2020/05/25/unschooling-isnt-the-answer-to-education-woes-its-the-problem/

Vídeos de youtube sobre a situação.

> “Radical Unschooling: We need to Talk about this!”. Acesso via: https://youtu.be/HkQ4aGr1mBg?si=XK3U-tDlOYBzUZ0-

“The truth about unschooling”. Acesso via: https://youtu.be/ATtqTJTJjZw?si=UjU3f86rSEwlQ17k

(*) Elen Biguelini é doutora em História (Universidade de Coimbra, 2017) e Mestre em Estudos Feministas (Universidade de Coimbra, 2012), tendo como foco a pesquisa na história das mulheres e da autoria feminina durante o século XIX. Ela escreve semanalmente aos domingos, no Site.