Direitos Humanos e o Bem Viver Social – por Cecilia Pires
Para “pensar sobre o sentido da solidariedade... em uma sociedade adoecida”
“Somente em nome dos desesperados nos é dada a esperança.”
(Walter Benjamin)
“Ainda estamos aqui”, na defesa dos Direitos Humanos. Passaram-se 76 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, aprovada em 10 de dezembro de 1948, pela Assembleia Geral das Nações Unidas, tendo sido o Brasil um dos signatários.
A intenção de análise, neste momento, é reunir descrições da inteligência emocional e das políticas públicas, que incidem sobre as circunstâncias do Brasil e do Mundo, na programação de ações de defesa dos direitos referidos.
Trata-se de pensar sobre o sentido da solidariedade e do bem viver em uma sociedade adoecida pela violência, pelo ódio e até mesmo pelo terror, alargando esses conceitos para as situações de guerra e extermínio. O cenário de destruições, apresentando espetáculos diários tomou conta da cena pública.
Esta condição de terror estabelecido cria enormes dificuldades para a experiência da alegria entre as pessoas. O medo tomou conta da inteligência e a emocionalidade ficou subsumida ao espanto e à perplexidade. Há uma ausência quase absoluta de cuidado e respeito aos valores humanos, tal como reiterados na Declaração da ONU.
Essa ameaça, que atinge o bem viver, torna-se plena, quando os agentes públicos e os governos, em suas decisões, descuidam-se de polos como liberdade, igualdade e justiça, resultando numa lógica de carências, na dimensão dos bons afetos, o que desenha o aparato da dominação e do disciplinamento do poder. As vivências de felicidade, prazer, desejo, alegria, paz funcionam como abstrações conceituais no cotidiano das pessoas.
Em tempos, nos quais, as tecnologias avançam em todos os setores da organização social, política e econômica, com a Inteligência Artificial sendo exibida como um troféu, as subjetividades sofrem a invasão dos algoritmos, tendo seus valores violados, sem o menor constrangimento de parte dos protagonistas da violência.
Que passou com nossa inteligência emocional? Como nos sentimos diante da cena em que uma pessoa é jogada de uma ponte, por um policial, como se fosse um saco de lixo? Onde estamos no estágio da nossa humanidade? O que mais queremos ver? Para onde caminhamos?
Ainda estamos aqui, para defender os direitos das pessoas, atentos a que tipo de ação de solidariedade e de cuidado??
De que modo nos toca a notícia de que pessoas gradas, vinculadas aos poderes institucionais, diante do dissabor de uma derrota eleitoral, planejam o assassinato de seus adversários políticos?
Com que tipo de emoção, lemos as notícias vindas das zonas de guerra, em que artefatos atômicos, construídos pelo cérebro humano, servem para exterminar mais rapidamente o inimigo, nas fronteiras e nos seus territórios?
A elogiada e venerada Inteligência Artificial, como instrumento criado pela Inteligência Natural, está a serviço de quem e de quê?
Importante lembrar o artigo primeiro da Declaração da ONU: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.
A perspectiva de uma luta por direitos não se orienta pelas exigências do Leviatã. É imprescindível ser fraterno e pensar estratégias, que reforcem a dignidade, respeitando os valores da singularidade e da pluralidade entre os habitantes do planeta.
A ética da subversão cívica precisa se realizar, na abrangência dos direitos de todas as peculiaridades humanas, que precisam de cuidado, inclusive do lugar em que vivem, o planeta.
Por isso, ainda estamos aqui!
(*) Cecilia Pires é Professora aposentada do curso de Filosofia da UFSM. O artigo acima foi publicado originalmente no site da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm)
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