Há esperança? – por José Renato Ferraz da Silveira e Pietra Lemberck
Há, sim, mas sob condições. E ‘não se trata de altruísmo, mas de sobrevivência’
“A esperança seria a maior das forças humanas, se não existisse o desespero”
Victor Hugo
Mal começou 2025 e vemos: Trump 2.0 (nutrido de ideias obsoletas do ambiente internacional) que tornará o mundo ainda mais instável e incerto.
Podemos apontar duas razões para a incerteza no mundo:
a) Trump não reconhece a ordem internacional para além do equilíbrio de poder entre as potências;
b) Trump é um antiglobalista, opõe-se a qualquer regra internacional que limite a ação de quem tiver mais armas, dinheiro e poder.
Putin segue a mesma cartilha realista (da realpolitik tão praticada no século XIX e XX).
180 conflitos armados
180 conflitos armados em curso. É o maior número desde 1946. Genocídio em Gaza. Guerras no Sudão, na Etiópia, na Ucrânia, em Mianmar, no Saara Ocidental. As principais motivações para estes e outras guerras: disputas por territórios, diferenças étnicas, diferenças religiosas, controle de recursos naturais. As consequências dessas tensões não são apenas sentidas nos países diretamente afetados, mas em outras regiões do mundo.
É como tentar parar um caminhão em alta velocidade
O Serviço Copernicus para as Alterações Climáticas (C3S) acaba de divulgar relatório em que confirma que 2024 foi o ano mais quente já registrado mundialmente e o primeiro em que a temperatura média global ultrapassou a marca de 1,5 grau Celsius (°C) acima dos níveis pré-industrialização (1850 e 1900). O número era o limite de elevação determinado no Acordo de Paris para evitar desastres climáticos mais graves.
“Aproximadamente 44 % da superfície do planeta foi afetada por estresse térmico forte e extremo, a temperatura da superfície do mar chegou a 20,87°C, valor acima da média dos últimos 30 anos, além da quantidade de vapor de água na atmosfera ter subido 5%. De acordo com o documento, as mudanças induzidas pelo homem continuam a ser a principal causa das alterações climáticas, ao lado de outros fatores, como o El Niño Oscilação Sul (Enos), que contribuíram para as temperaturas incomuns observadas durante o ano, resultando no agravamento de incêndios florestais e inundações de grande porte” (Jornal da USP).
Portanto, em 2024, a temperatura média global foi de 15,10°C, ou seja, 0,12°C superior à de 2023, com um aumento de 1,6°C em relação aos níveis pré-industriais e uma elevação de 0,72°C em relação à média de 1991–2020.
É cada vez mais notório a falta de estratégias globais, regionais e locais de adaptação para nos proteger das emergências climáticas. Lembrando que em novembro desse ano, sediaremos a COP 30, em Belém.
Abrigaremos a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. É bem provável que os debates e os acordos que ocorrerão por lá sejam minimamente satisfatórios.
Há esperança?
Em meio ao cenário sombrio, é essencial reconhecer que a ordem internacional continua sendo moldada pela interação de interesses nacionais e pelo equilíbrio de poder entre os atores mais influentes. A reeleição de Donald Trump – uma liderança que simboliza o retorno a uma visão realista clássica e isolacionista – aprofunda as incertezas em um mundo já abalado por crises múltiplas. Trump 2.0, ao desvalorizar instituições multilaterais e rejeitar acordos que limitam a ação unilateral dos Estados, reforça a lógica de competição e desconfiança entre nações. Sua postura antiglobalista, combinada com a insistência de outros líderes em políticas de poder, como Vladimir Putin, reflete uma ordem internacional fragmentada, onde interesses econômicos e estratégicos frequentemente prevalecem sobre iniciativas coletivas.
A COP 30 em Belém oferece uma oportunidade significativa para enfrentar desafios globais, especialmente a crise climática, mas os resultados dependerão da disposição das grandes potências em comprometer recursos e aceitar limites à soberania. O histórico de cooperação internacional, no entanto, sugere que avanços reais só ocorrerão se forem percebidos como vantajosos para os interesses nacionais. Nesse contexto, o desenvolvimento de uma economia verde pode se tornar um ponto de convergência, uma vez que apresenta benefícios econômicos e estratégicos tanto para nações desenvolvidas quanto para emergentes.
Enquanto isso, o legado da realpolitik se manifesta em 180 conflitos armados em curso, o maior número desde 1946. Esses conflitos, motivados por disputas territoriais, diferenças étnicas e religiosas e pelo controle de recursos naturais, ilustram a contínua centralidade da competição por poder no sistema internacional. O genocídio em Gaza, as guerras no Sudão, na Ucrânia, e em outras regiões destacam a falência de instituições globais como mediadoras eficazes, muitas vezes bloqueadas pela falta de consenso entre as grandes potências ou pelo uso estratégico do veto no Conselho de Segurança da ONU.
O pragmatismo das relações internacionais exige reconhecer que, em um mundo dominado pela lógica realista, avanços dependerão menos de promessas idealistas e mais da identificação de interesses comuns. A crescente pressão por estabilidade global, combinada com o temor de crises humanitárias descontroladas, como fluxos migratórios massivos, pode estimular os Estados a buscar arranjos mínimos de cooperação.
A esperança, nesse mundo marcado pela incerteza e competição, reside na capacidade de equilibrar interesses nacionais com imperativos globais. Não se trata de altruísmo, mas de sobrevivência compartilhada em um sistema interdependente. Como dizia Hobbes, o “homem é o lobo do homem”, mas, talvez, diante da autodestruição, possamos finalmente provar que também somos capazes de cooperação racional e estratégica.
(*) José Renato Ferraz da Silveira, que escreve às terças-feiras no site, é professor Associado IV da Universidade Federal de Santa Maria, lotado no Departamento de Economia e Relações Internacionais. É Graduado em Relações Internacionais pela PUC-SP e em História pela Ulbra. Mestre e Doutor em Ciências Sociais pela PUC-SP. Também é líder do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP)
Pietra Lemberck é graduanda em Relações Internacionais pela Universidade Federal de Santa Maria e membro do Grupo de Teoria, Arte e Política (GTAP)
Gostei da análise.
Muito bom!!!
Resumo da opera. Resiliência. Quem for para o lado da ‘esperança’ é bom esperar sentado. Senão cansa.
Em 2022 o exercito ianque recriou no Alasca a 11ª Divisão Paraquedista. Especializada em guerra no Artico. Segundo as más linguas o Artico esta derretendo. Uma nova rota de navegação esta abrindo por la, seguindo a costa do Canada e da Groenlandia. Conclusões a gosto.
Segundo os vermelhos as opiniões do sujeito não podem ser levadas em conta porque foi acusado de assedio sexual. Segundo a cartilha argumentos só valem das pessoas santas segundo a doutrina de esquerda. Argumentos são coisas da Globo. Roger Ailes dizia que ‘as pessoas não querem ser informadas, querem se sentir informadas’.
‘[…] provar que também somos capazes de cooperação racional e estratégica.’ Sim, tribunais por ai entram com lagosta e vinhos finos, população entra com os tributos. Ianques entram com a grana e os outros entram com a corrupção.
‘Não se trata de altruísmo, mas de sobrevivência […]’. Caso não tenha ficado claro. Em muitos paises do mundo gente que nunca pegou numa arma e nunca vestiu uma farda fica mais do que contente mandando os filhos e filhas dos outros possivelmente para morrer numa guerra defendendo ideais que não são os seus.
‘[…] reside na capacidade de equilibrar interesses nacionais com imperativos globais.’ Quem define o que são ‘imperativos globais’?
‘ A crescente pressão por estabilidade global,[…]’. Noutro dia duas velhas vandalizarm o tumulo de Darwin no Reino Unido. Algo contra o petroleo. Totalmente irrelevante. Vermelhos acham que todo mundo ‘conta’. Não passa de encheção de saco.
‘[…] em um mundo dominado pela lógica realista, avanços dependerão menos de promessas idealistas […]’. Não existe outra logica. Promessas idealistas geralmente são mentiras de quem não sabe do que esta falando. Alas, idealistas tem problemas cognitivos e são ignorantes ainda por cima.
‘[…] o desenvolvimento de uma economia verde pode se tornar um ponto de convergência, uma vez que apresenta benefícios econômicos e estratégicos tanto para nações desenvolvidas quanto para emergentes.’ Aqui no Brasil nem tanto. Todo concreto que se ve nas construções depende de uma quantidade enorme de energia. Aço idem. Toda peça de plastico, muitos remedios, dependem de petroleo. Não tem como ‘revolucionar’ tudo, não haverá beneficios e ainda virão muitos conflitos de brinde.
‘[…] mas os resultados dependerão da disposição das grandes potências em comprometer recursos e aceitar limites à soberania.’ Por isto que aconteceu o Brexit e a CE está balança mas não cai. Trazendo para mais parto. Todo mundo sabe que montanhas de dinheiro vão para BSB e muito pouco retorna. Existe uma burocracia, servidores publicos e politicos, que levam uma vida nababesca as custas da população. O plano é, ainda não foi implantado, duplicar a estrutura no ‘Parlamento do Mercosur’. Outra estrutura cara e inutil. Qualquer reinvindicação da população brasileira poderia chegar no Congresso e receber como resposta um ‘não podemos fazer nada, isto é decidido em Montevidéu. As burocracias controlando tudo, isto é o ‘limite a soberania’.
‘[…] onde interesses econômicos e estratégicos frequentemente prevalecem sobre iniciativas coletivas.’ Ou seja, ao contrario do que os vermelhos desejavam, ‘todo mundo igual’, a regra é ‘quem pode mais chora menos’. Rui Barbosa foi um dos piores ministros da Fazenda que o pais ja teve. Tem estatua na Camara, causidicos(as) idolatram. Foi para uma conferencia nos Paises Baixos onde evitou uma votação que daria mais peso para o voto dos paises desenvolvidos. O Barão do Rio Branco usou como mote para criar o mito da ‘Aguia de Haia’, reabilitaram a nulidade através da propaganda.
‘É bem provável que os debates e os acordos que ocorrerão por lá sejam minimamente satisfatórios.’ Acordos entre os que não apitam nada. Simples assim. Carbonbrief. orga, China é responsavel por 95% da construção de novas usinas a carvão. Estão preocupados com conferencia no Brasil?
‘Lembrando que em novembro desse ano, sediaremos a COP 30, em Belém. Abrigaremos a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas. É bem provável que os debates e os acordos que ocorrerão por lá sejam minimamente satisfatórios.’ Apessar da propaganda vai ser completamente irrelevante.
‘[…] a temperatura média global ultrapassou a marca de 1,5 grau Celsius (°C) […]’. Era a meta preferencial do Acordo de Paris, que já dançou.
‘180 conflitos armados em curso. É o maior número desde 1946.’ Falam por ai do fim da ‘Pax Americana’. Não existe nenhum tribunal internacional que tenha declarado genocidio em Gaza. Propaganda. Credibilidade não é preocupação porque ninguem perde o que não tem. Alas, criaram uma burocracia, tribunal, que se declarar ‘genocidio’ os paises signatarios do tratado tem que intervir até militarmente se for necessario. Exercito israelense é pequeno, mas o ianque não é. Mais claro que isto só desenhando.
‘Putin segue a mesma cartilha realista […]’. Até porque vivemos no mundo real. Kant e o ‘agir por principio e não por interesse’ é coisa do idealismo alemão do seculo XIX.
Vamos ao ‘b’. Manufatura migrou para a Asia. Cadeias de suprimento espicharam. Na pandemia ocorreu problemas de oferta. Automação não ajudou. Classe média encolheu nos EUA, concetrou-se grana nas classes mais altas. Globalização virou um compartilhamento de problemas e não de soluções.
Vamos ao ‘a’. Trump não quer mandar mais dinheiro para burocracias que só pedem mais dinheiro e resolvem nada. Ainda prejudicam o que ele considera interesses americanos. O que faz parte da doutrina ianque de antanho, primeiro os interesses americanos. Depois os aliados. Alas, quem começou a brincadeira foi Clinton que bombardeou a antiga Ioguslavia coma a OTAN a despeito do Conselho de Segurança. Depois veio a China que esculhambou a Organização Mundial de Comercio, propriedade intelectual é coisa da Globo.
‘[…] Trump 2.0 (nutrido de ideias obsoletas do ambiente internacional) […]’. Não é Trump que tem ideias obsoletas sobre o ambiente internacional. Referencia serve mais para pessoas que ainda tentam salvar a ordem que saiu da WW2 e que ruiu de podre. Algo que os atuais economistas keynesianos não levam em comum, só para exemplificar, John disse certa feita: ‘Quando os fatos mudam eu mudo de idéia’.