Artigos

A máscara do “governador da educação” caiu de vez! – por Valdeci Oliveira

“Antítese de Darcy Ribeiro/Leonel Brizola atende pelo nome de Eduardo Leite”

Décadas atrás, quando o saudoso Darcy Ribeiro cunhou a máxima de que a crise pela qual passava a educação brasileira não se tratava propriamente de uma crise, mas sim de um projeto, ele sintetizou um complexo quadro que envolve desde vontade política e financiamento público a linha pedagógica, de estruturas físicas de qualidade a salários dignos a quem ensina. E nessa luta para garantir formação e conhecimento aos jovens para que estes entendessem sua condição social e assim buscassem transformá-la e superá-la, ele tinha um “sócio” chamado Leonel de Moura Brizola.

Juntos, o primeiro como vice (e depois secretário de Educação) e o segundo como governador do Rio de Janeiro, colocaram no papel suas ideias e levantaram os CIEPS, onde alunos passavam o dia estudando, praticando esportes e se alimentando corretamente. Num Brasil de pouco mais de 40 anos atrás, Darcy e Brizola colocaram a questão da educação pública na pauta política, forçando sua inclusão na agenda do debate nacional.

Faço esse preâmbulo para dizer que a antítese da dupla Darcy/Brizola, o contraste nítido que não deixa dúvida de ser o sentido oposto a ambos, atende – não de hoje – pelo nome de Eduardo Leite, chefe do executivo do estado que outrora, ironicamente, fora governado pelo Leonel, mais de meio século atrás, quando também investiu pesado na Educação das crianças gaúchas.

Com o projeto de lei aprovado na Assembleia Legislativa no início desta semana, em que o governador rifou aposentados e funcionários de escolas do reajuste, Eduardo Leite novamente se mostrou um jovem que, nas palavras da colega e deputada Sofia Cavedon, “não sabe o que é entregar uma vida à educação e na velhice não receber o correspondente para viver uma vida digna nem ao menos manter o que conquistou”.

Ao “dar” 6,27% aos educadores, mas não sem antes descontar do índice o equivalente que estes vinham recebendo no que chamamos de “avanços”, como triênios, por exemplo, ou por trabalharem em escolas difícil acesso, o governador não corrige injustiças, ele as aprofunda e engana a população, incluindo a comunidade escolar, que, sem saber que se tratava apenas de marketing, acreditou em seu mantra eleitoral de que a Educação seria a prioridade do seu segundo mandato.

Ao contrário de Darcy e Brizola, que viam a Educação como uma chance concreta dos menos aquinhoados superarem as desigualdades e a exclusão a que eram submetidos geração após geração e “serem alguém na vida”, Eduardo Leite a vê como custo, empecilho. Ou, na melhor das hipóteses (para ele), como mote de discurso e mero objeto de barganha como forma de atender aos segmentos privados que lhe dão apoio em sua carreira política – vide a proposta de privatização para manutenção e zeladoria de escolas estaduais em concessões que irão durar décadas e render vários bilhões aos executores.

E a mera tentativa da oposição de buscar justiça foi bloqueada no nascedouro pelos partidos que o sustentam politicamente no Parlamento. Por conta do regimento interno, que legitimamente permite certas ações plenárias, a emenda protocolada pelas bancadas do PT e PCdoB, com apoio do Psol, com proposta para estender o reajuste aos aposentados e funcionários de escolas – em ambos os casos formados majoritariamente por mulheres – e não descontar do índice os avanços da carreira, sequer foi apreciada.

Até entendo a preocupação dos deputados e deputadas da situação, pois se a emenda fosse à votação eles teriam que apertar o botão de “não”, seus nomes apareceriam no painel eletrônico do plenário da Casa, máscaras cairiam e explicações junto a suas bases eleitorais precisariam ser dadas.

Além do mais, tanto o governador como aqueles e aquelas que formam sua base no Legislativo gaúcho “esquecem” de algo fundamental: se hoje eles estão onde estão, se chegaram onde chegaram foi graças a uma professora ou professor que lhes apresentou o alfabeto, mostrou como juntar as letras, ensinou matemática, geografia, literatura e a serem cidadãos.

E como agradecimento por apresentarem e explicarem o funcionamento do mundo e as nuances da vida, receberam em troca a negativa para uma vida menos injusta, com paridade salarial e aposentadorias não sendo corroídas por inflações não repostas. Mas no caso do governador, filho de professores universitários, que usou todo o seu primeiro governo para retirar direitos dos educadores ao desmantelar o plano de carreira destes, parece uma espécie de escárnio somado a sadismo. Talvez Freud explique – ou nem mesmo ele.

Se buscarmos tirar algo de positivo diante desse cenário triste, injusto e irresponsável, a única coisa que me vem à mente é que faltam menos de dois anos para o mandato do governador Eduardo Leite, para quem tudo o que é de ruim é resultado de ações de governos anteriores ao seu, encerrar. E torcer para que a próxima pessoa a ocupar o Palácio Piratini não veja nos professores o que Dom Quixote viu nos moinhos de vento: perigosas figuras a serem derrotadas.

(*) Valdeci Oliveira, que escreve sempre as sextas-feiras, é deputado estadual pelo PT e foi vereador, deputado federal e prefeito de Santa Maria.

Artigos relacionados

ATENÇÃO


1) Sua opinião é importante. Opine! Mas, atenção: respeite as opiniões dos outros, quaisquer que sejam.

2) Fique no tema proposto pelo post, e argumente em torno dele.

3) Ofensas são terminantemente proibidas. Inclusive em relação aos autores do texto comentado, o que inclui o editor.

4) Não se utilize de letras maiúsculas (CAIXA ALTA). No mundo virtual, isso é grito. E grito não é argumento. Nunca.

5) Não esqueça: você tem responsabilidade legal pelo que escrever. Mesmo anônimo (o que o editor aceita), seu IP é identificado. E, portanto, uma ordem JUDICIAL pode obrigar o editor a divulgá-lo. Assim, comentários considerados inadequados serão vetados.


OBSERVAÇÃO FINAL:


A CP & S Comunicações Ltda é a proprietária do site. É uma empresa privada. Não é, portanto, concessão pública e, assim, tem direito legal e absoluto para aceitar ou rejeitar comentários.

Um Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo