A despedida – por Luiz Alberto Cassol
O grupo de pessoas aproximava-se da porta de entrada que divide os viajantes, já com passagens na mão, dos demais que estão ali para despedir-se. Para alguns era chegado o momento do aceno final. Essa certamente foi uma despedida marcante. Como não se misturar aos abraços, beijos, sorrisos, lágrimas – muitas lágrimas – e um choro que foi se tornando compulsivo.
Uma mulher, idade calculada entre 20 e 25 anos, despedia-se de sua família no Aeroparque – o aeroporto central- em Buenos Aires. A entrada era para voos internacionais. A fila estava imensa e, na medida em esta que chegava à porta divisória, chegavam mais pessoas. Faziam fotos em celulares, um registrando a despedida do outro. Em alguns momentos falavam em castelhano e em outros em guarani. Foi certamente uma das imagens mais marcantes que presenciei.
Não segurei a curiosidade, que nessa hora deveria ser contida, e perguntei a uma das pessoas próximas qual era o destino. A resposta dele, que me pareceu irmão da viajante, veio rápida e objetiva: “Europa!”. “E…?” Indaguei novamente, com uma curiosidade afetiva. Já tomado por aquela despedida coletiva. “Passou em um curso e tem proposta de ficar trabalhando lá…” e começou a chorar.
Todos na fila se sensibilizaram ainda mais quando ela, ao chegar ao primeiro lugar, onde o próximo passo já seria o lado de lá da divisória, começou a deixar um a um ir passando. E mais choros e abraços fortes. Iam chegando mais amigos e parentes. E mais fotos e risos e acenos. Os que se despediam iam para trás dos demais. Ao lado dela o tempo inteiro, o pai e a mãe. Sim! Esses me pareceram inconfundíveis desde o início. Que cena. Uma despedida que cortava o discernimento de todos ali. O que fazermos nós, os outros?
Despedidas sempre são fortes. Sempre. Mas essa por ser indeterminada, deve causar um sentimento extremo. É o que podemos verbalizar na língua portuguesa como: saudade antecipada. Saudade do que está na visão, no tato, no cheiro, no abraço de todos ali e que em instantes se firmou definitivamente. Ela passou a porta e não puderam mais vê-la. Sem perder tempo um deles subiu ao ombro de outro e com o auxílio dos demais tirou o que seria a última foto do álbum de despedida. Uma foto por cima da divisória. Saudade. Mas, também coragem para seguir em todas as tentativas. Dela que seguia sua jornada. Deles que tentavam agarrar um momento.
Gladis, obrigado. Grande abraço.
Cassol!Parabéns,tua cronica é linda com muita sensibilidade.
Gladis Delgado