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Qual a pele que habita Almodóvar? – por Luiz Alberto Cassol

Comparando com uma conhecida frase seria com “não existem meias verdades”.  Não existem cenas pela metade nos filmes de Pedro Almodóvar.  A diferença está na forma de contar isso. Tudo será revelado. Mas, dentro de um tempo. O tempo de Almodóvar.  

Escrever sobre seu último filme é generoso. O impacto causado por “A Pele que Habito” (La Piel que Habito, Espanha, 133min, 2011), necessitou um tempo. Um distanciamento para produzir este artigo.

Ler, logo nos primeiros créditos, “um filme de Almodóvar” dá a exata descrição do que virá logo depois. Sua assinatura é revelada em cores e personagens únicos. Marcantes, vibrantes, loucos. Enfim, nós!

Ele consegue ser tão apoteótico numa simples cena. Num diálogo. Numa frase. Seu mundo artístico é tão real e fantasioso que é nosso. Para mim está aí a pele que habita Almodóvar: ser fantasioso na realidade que cria, ser real na fantasia que divide conosco.

Sessões de filmes dele são assim: ao final somos tomados pela pergunta “como ele conseguiu criar mais este?”.  E, mais uma vez,  ele conseguiu superar todas as expectativas.  Ao final da projeção de “A Pele Que Habito” refletia. Agora ele superou tudo! Será?

Com atuações marcantes, diálogos no tempo certo e um roteiro muito bem amarrado, novamente penso: ele é genial. Tudo começa a se desvendar.  Como pôde contar essa história com tamanha habilidade?  Como reger uma complicada trama? Sim, ele consegue. Todas as funções, profissionais,  detalhes, pesquisa… fazem a diferença para ser um grande filme.

Nesse caso, através da história de um cirurgião plástico. Traumatizado por perdas ele resolve tentar reencontrar o que se foi e se vingar de algumas situações que lhe ceifaram sentimentos. Para isso, dedica toda a sua habilidade. É através desse argumento que somos apresentados a uma das mais improváveis narrativas que poderia ser vista ou contada. Só que foi. É Almodóvar!

Como não imaginar este filme sendo visto por alguém pela primeira vez. Imagino daqui cinqüenta anos. Causando a mesma experiência. As mesmas reações. Impactos. Enfim, tudo o que provoca esta obra-prima. É a diferença deste cinema autoral. Ele é atemporal, universal e sempre causa danos e alegrias para quem vê. Isto é cinema!

Ficha Técnica:

A Pele que Habito

(La Piel que Habito, Espanha, 133min, 2011)

Sinopse: Richard Ledgard (Antonio Bandeiras) é um cirurgião plástico que, após a morte da sua mulher num acidente de carro, se interessa pela criação de uma pele com a qual poderia tê-la salvo. Doze anos depois, ele consegue cultivar esta pele em laboratório, aproveitando os avanços da ciência e atravessando campos proibidos como os da transgênese com seres humanos. No entanto, este não será o único delito que o cirurgião irá cometer.            

Direção: Pedro Almodóvar

Roteiro: Pedro Almodóvar, Agustín Amodóvar, baseado no livro de Thierry Jonquet

Elenco: Antonio Banderas, Elena Anaya, Marisa Paredes, Jan Cornet, Roberto Álamo, Blanca Suárez, Eduard Fernández, José Luis Gómez, Bárbara Lennie, Susi Sánchez

Produção: Agustín Almodóvar, Esther García

Fotografia: José Luis Alcaine

Trilha Sonora: Alberto Iglesias

Estúdio: Canal + España / El Deseo S.A. / Televisión Española (TVE) / Instituto de Crédito Oficial (ICO)

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