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REFLEXÃO. De que escola precisamos, questiona professora da UFSM. Ela também sugere uma resposta

Em meio à greve docente da UFSM (sobre a qual a opinião do editor ficou por demais clara), este sítio abriu espaço, que aqui a democracia existe meeeeesmo, para uma série de “outros olhares”. Fossem pró ou contra ou muito-antes-pelo-contrário ao movimento paredista.

Agora, passado um tempinho, surge uma colaboração interessante. Não, o editor não a avaliza, necessariamente. Mas é importante, sempre, refletir. E discutir, na medida do possível e do conhecimento de cada um. Acompanhe e tire tua própria conclusão. Se quiser:

De qual escola precisamos

Por Suze Scalcon/Professora do Dpto de Metodologia do Ensino/UFSM

Após uma greve “interminável” – uma luta cuja sangritude foi disseminada pelas veias, artérias e mentes daqueles que com sofreguidão e mil venturas estiveram à sua frente – questiono: – De qual escola precisamos?

Reafirmo que precisamos de uma escola que, ao refletir as contradições da sociedade, agarre com unhas e dentes – e espalhe – o conhecimento mais rico e desenvolvido que a humanidade já produziu histórica, cultural e cientificamente. Uma escola que abrace o saber objetivo e, que ao transformá-lo em saber escolar, rompa com o cotidiano alienado dos alunos; que eleve a qualidade do trabalho educativo para além da preocupação com vida experiencial imediata; para além do corriqueiro. Precisamos de uma escola que opere com um trabalho voltado para a tarefa clássica de transmissão do conhecimento às novas gerações e, por cuja especificidade se referendou por séculos.

Repito: precisamos de uma escola na qual as crianças se apropriem do conhecimento e das formas de compreensão mais desenvolvidas, ricas, amplas e profundas que a humanidade já produziu; uma escola em que a ciência, a arte e a filosofia ecoem como sinos luminosos que, ao balanço de suas sintonias, elevem os homens e as mulheres a condição de seres de domínio de seus próprios destinos, porque a escola não está distante da realidade, não creiam! A escola está distante da riqueza do que poderia ser a vida das pessoas, perante a riqueza do que a humanidade acumulou.

Observe, a escola está muito próxima da vida limitada e alienada do nosso cotidiano. E mais, está excessivamente próxima daquilo o que o capitalismo tem produzido de pior. Precisamos de uma escola que produza mudanças na vida dos indivíduos a partir de noções mais elevadas, de novas necessidades, fundamentalmente mais importantes do que aquelas geradas pelo mercado consumidor; de uma escola que promova o desenvolvimento de formas de linguagens desconhecidas, não naturais, daquelas que façam com que os alunos avancem na direção do desconhecido.

O trato com a linguagem rudimentar não promove o domínio da língua materna, promove, dirige e aprisiona os futuros à senzalas repletas de troncos, cujas raízes fincadas em glebas privadas, de somente alguns, fazem nascer dias tristes, torpes, pobres e, pior eternos presentes.

O caráter destrutivo e amoral do capitalismo promovido pelo estímulo ao carecimento egoísta de bens, não tão bons, tem sido instigado pela escola quando esta se posiciona em favor dos direitos egoístas dos homens privados e à comercialização da humanidade dos indivíduos. Precisamos de uma escola que não ensine a comemoração e nem o aplauso à lógica estritamente econômica, aquela que toma como fundamento, como elo entre as pessoas, em nível mundial, a lógica reprodutiva do capital.

Precisamos de uma escola que eleve a formação humana à compreensões que superem estados patéticos de alienação e de egoísmo que se revelam pela expressão: “Que mal tem!?” Pela ausência desta escola é que encontramos professores universitários que, ao ensinarem a seus alunos o convívio fraterno e tolerante com a pobreza da cultura, com a miséria da filosofia, com a negação da ciência e com a ignorância sobre o valor da arte, exclamam: -“Que mal tem….!?”Estes são os que somente corroboram com um estado de plena subserviência aos ditames daquele tomado como um só e único senhor: o capital.

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Um Comentário

  1. O texto da Professora Suze nos remete à seguinte Reflexão: o cotidiano nos instiga e nos incomoda. Instiga pelo fato de que é a instância da vida que, uma consciência crítica e antenada, poderá gerar mudança e, incomoda por ser um locus legitimador e reprodutor de verdades alheias e estranhas. Quem foi Lavoisier, Einsten, Newton, Pitágoras, Sófocles, Quintana, Shakespeare, Marx, Russell e Homero? O conhecimento escolar tem obrigação de dizer, interpretar e explicar quem são e o que disseram. Mas a escola possui outro compromisso: como estas figuras, ímpares, da História Universal pensaram material e intelectualmente seu tempo? O cotidiano é preciso e necessário para que, com consciência, apreendamos sua verdadeira significação e seus elementos pictóricos. A Escola e o conhecimento Universal que nela transita tem obrigação de dar condições para que o aluno decodifique tudo isso. Queremos uma Escola para Governates e não para seres humanos que aceitem sua patética condição de dirigidos. Parabens à professora Suze, suas ângustias com o mundo presente, sua coragem de dizer e as emanações que seu texto é capaz de produzir. Toda criatura humana deveria perguntar-se: que escola queremos?

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