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TRAGÉDIA. Santa Maria teve seu ‘domingo sangrento’

São muitas as colaborações recebidas pelo sítio, na quase totalidade publicadas. Só não são todas porque, como o leitor já sabe desde domingo, o editor está envolvido profissionalmente também com o auxílio e à facilitação do trabalho de outros jornalistas que cobrem a tragédia de domingo, na boate Kiss, e seus desdobramentos – a partir do Hospital de Caridade.

Uma das que merecem receber a leitura mais ampla é a que você lê a seguir. Ela faz analogia interessante e faz outras considerações (ainda não vistas na mídia) sobre as quais é importante a reflexão. Acompanhe:

Domingo sangrento

Por Fritz Nunes (*)

Alguns filmes e a canção da banda irlandesa U2 imortalizaram mundo afora a expressão “Sunday blood sunday” ou “domingo sangrento”. Em 30 de janeiro de 1972, manifestantes católicos irlandeses foram reprimidos duramente pelo Exército inglês, em Londonberry, na Irlanda do Norte. Deste episódio resultaram 14 mortos à bala e mais de duas dezenas ficaram feridos.

Trinta e nove amos depois, Santa Maria da Boca do Monte também teve o seu domingo sangrento. Se a tragédia na boate Kiss, na rua dos Andradas, centro de Santa Maria, comoveu o Brasil e repercutiu em todo o planeta, imagina a sensação de quem acompanhou isso de perto.

O domingo, geralmente marcado como um momento sagrado, em que costumamos descansar, interagir com a família, não pôde ser assim neste 27 de janeiro de 2013. Nosso domingo foi surreal. Parecia andar em câmara lenta, como nas cenas de filmes sobre o 11 de setembro, quando foram derrubadas as torres gêmeas de Nova York. As cenas de corpos sendo retirados às dezenas de dentro da tradicional casa noturna santa-mariense e empilhados no Centro Desportivo Municipal (‘Farrezão’) pareciam extraídas de um filme hollywoodiano. A trilha sonora do domingo santa-mariense foi tétrica, com as sirenes das ambulâncias que cruzavam a cidade e pelo ronco dos motores de helicópteros.

Em uma madrugada de domingo, que deveria ser de diversão, a contagem macabra após o incêndio resultou em 233 mortos e mais de uma centena de feridos. Como acreditar que isso possa ter acontecido de forma tão rápida, tão perto de nós? Quem imaginaria que isso pudesse acontecer de forma tão estúpida, com as pessoas, a maioria jovens entre 16 e 20 anos, presas em uma verdadeira arapuca, morrendo sem condições mínimas de lutar pela vida?

Nessas pouco mais de 24h já vi diversos tipos de manifestação. Fatalidade, desta vez, quase não se ouve alguém falar. Contudo, já se falou que o problema todo está na lei, que é confusa. E as autoridades têm acusado diretamente a banda – Gurizada Fandangueira– por teu causado o incêndio, em virtude de ter realizado um show pirotécnico em ambiente fechado, o que deu origem ao incêndio, com faíscas de um sinalizador atingindo a proteção acústica do ambiente.

Contudo, vem de dois argentinos informações preciosas. Do jornalista argentino, Ariel Palácios, lembrou na Globonews as semelhanças entre o caso de Santa Maria e o da boate “República Cromañon”, em Buenos Aires, que incendiou em 2004, levando à morte de mais de 190 pessoas. Lá também a causa foi um show pirotécnico e o número de pessoas excedia a capacidade do local, como parece ser o caso de Santa Maria.

E, a manifestação mais dura, do professor Osvaldo Angel Coggiola, que ministra aulas de História Contemporânea na USP. Coggiola escreveu um artigo analítico sobre a tragédia de Santa Maria cujo título é bastante sugestivo: “Assassinato em massa”. Além do seu tom contundente, Coggiola sugere, de forma bastante apropriada, que, seja montada uma comissão independente, com professores, sindicalistas, profissionais liberais, parentes das vítimas, para acompanhar as investigações que estão sendo realizadas. É preciso. Não podemos aceitar que a dor seja substituída pela impunidade.”

(*) Fritz Nunes é jornalista, 44 anos, assessor de imprensa da Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm)

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2 Comentários

  1. Doutor, ótimo artigo. Já se observa o velho jogo do empurra. Hoje, são 234 mortos, o que, provavelmente, aumentará pelos doentes em UTIs. Mas esperemos que o Brasil comece, a partir de agora, a mudar e as responsabilidades apuradas e os responsáveis punidos conforme a lei; e que os municípios fiscalizem de forma a evitar futuras tragédias como em SM. A sugestão do profº. da USP é muito procedente.

  2. Penso que, quem teve a visão mais próxima, da tragédia, foi o Prof. Coggiola/USP. Conheci Derry (como eles preferem), seu bairro Bogside, onde os fatos se passaram. Entre o cerco do bairro, o assassinato dos jovens irlandeses, e a execução sumária, quase nazista, da Kiss, só o futuro dirá: lá, houve uma mudança radical, incluindo a visita da Queen! Aqui, meu medo é que acabe em nada. Sugiro transformar o local, num memorial com os nomes dos executados… Nosso ‘pequeno’ Yad Vashem… Não deixem passar em branco…

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