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TRAGÉDIA. “Administração municipal tem uma responsabilidade absolutamente considerável”

POR MAIQUEL ROSAURO

A Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm) publicou em seu site trecho de uma entrevista realizada com o promotor João Marcos Adede Y Castro no programa “D Docente”, da TV Santa Maria. O promotor esclarece as responsabilidades do poder público na tragédia da Kiss, em 27 de janeiro. Leia abaixo:

Promotor fala sobre responsabilidades na tragédia da Kiss

O promotor João Marcos Adede Y Castro está aposentado há menos de dois anos. Ele atuou durante 30 anos na promotoria estadual, sendo deste total, 22 anos à frente da Promotoria de Defesa Comunitária de Santa Maria. Assim que soube do incêndio na boate Kiss, ainda na madrugada de domingo, Adede disse que passou a acompanhar o noticiário, tendo se emocionado várias vezes e ao mesmo tempo tomado de uma profunda indignação. Ainda no domingo ele escreveu pelas redes sociais o artigo “Eu acuso”, em que atribuída responsabilidades pelo incêndio às autoridades e mesmo à sociedade que se omite no descumprimento das leis.

Nesta semana, o promotor aposentado foi convidado e aceitou dar uma entrevista ao programa “D Docente”, da Sedufsm, que vai ao ar todas as sextas, 19h, na TV Santa Maria, canal 19 da Net, com reprise em horários alternativos na programação da emissora. Na entrevista que vai ao ar nesta sexta, 8, e que anteciparemos o conteúdo aqui, de forma parcial, Adede Y Castro fala sobre responsabilidades pelo ocorrido e também sobre a mobilização da sociedade. Na análise dele, a “administração municipal tem uma responsabilidade absolutamente considerável”. Na entrevista ao programa de TV, o promotor também fala sobre a viabilidade de ser instalada uma CPI na Câmara de Vereadores e sobre quais deveriam ser, daqui por diante, as iniciativas da sociedade. Acompanhe a seguir, trechos da entrevista:

SEDUFSM – Promotor Adede, o senhor diz em seu artigo que Santa Maria foi pioneira na aprovação de uma lei de prevenção contra incêndios. Ironicamente, esse pioneirismo caiu por terra ao vivenciarmos o segundo maior incêndio com vítimas da história do país. Por que isso aconteceu, na sua avaliação?

Resposta
– Infelizmente, Santa Maria, diferentemente do que nós pensamos, não é muito diferente dos outros municípios do país. Nós somos absolutamente pródigos na produção legislativa, e até às vezes bem eficientes. Leis boas e bem fundamentadas, atendendo, aparentemente, os desejos comunitários. Mas, somos péssimos na fiscalização. Porque ninguém, na verdade, pensou que um sistema de prevenção de incêndio tem um custo. Logo que foi aprovada a lei de prevenção de incêndios, em 1991, o Corpo de Bombeiros, que estaria encarregada de exigir dos estabelecimentos comerciais, industriais e de prestação de serviços o cumprimento dessa lei, passou a atuar e notificar essas empresas, clubes sociais, locais públicos e o próprio poder público para que fizessem esse sistema de prevenção. Muitos desses estabelecimentos gastariam milhares de reais. Tem gente que gastou 20, 30, 50 mil reais para adotar esses locais de sistema de prevenção de incêndio. E aí começaram, naturalmente, as resistências ao cumprimento da lei porque todo mundo acha que a lei é só um ‘escrito no papel’, que não terá consequência nenhuma. Quando a lei diz ‘tu não pode fazer tal coisa’, tu não deve fazer tal coisa e não tem custo algum. Agora, no momento que a lei diz que tu tens que fazer tal coisa, geralmente tem um custo. Então, se nós queremos uma sociedade mais segura, nós temos que estar dispostos a pagar o custo da segurança. E Santa Maria não se dispôs a pagar esse custo. E aí houve inúmeras tentativas, e algumas com bastante sucesso, no sentido de não cumprir a legislação. Muitos estabelecimentos em toda a cidade foram notificados, tiveram aplicações de sanções, e essas sanções nunca foram cobradas por parte do município. Ou seja, a lei se transformou numa lei morta. Era uma lei que existia, foi uma lei referência – sendo a base para a lei estadual de prevenção de incêndios, foi pioneira – só que nos esquecemos que não basta fazer a lei, temos que cumprir a lei. Ou nós fazemos uma lei que seja mais barata de cumprir ou então fazemos a lei que achamos que devemos fazer e assumimos a responsabilidade. Então, a partir dali, se criou uma rede de proteção por parte de muitas autoridades. No primeiro momento em que tomei conhecimento, às 6h da manhã (de domingo, 27), que houve o incêndio, eu não tive dúvida de quem seriam as pessoas responsáveis. É evidente que a responsabilidade é do poder público, tanto estadual, municipal ou federal, que só existem porque nós permitimos que existam. Nós, sociedade, através de um contrato social, acertamos que eles existiriam, mas para cumprir determinada função. O Estado não existe para dar emprego para mim, para ti ou para outras pessoas. Tem pessoas que cumprem essas obrigações e é obrigação do Estado fazer cumprir. E o Estado falhou flagrantemente.

SEDUFSM – Após a tragédia nós observamos inúmeras declarações de autoridades, tanto em nível municipal quanto estadual, contraditórias, o que a imprensa caracterizou como ‘jogo de empurra’. O senhor foi muito claro em seu artigo. A quem o senhor acha que se pode acusar como responsáveis por essa tragédia?

Resposta – Sem dúvida nenhuma, a administração municipal tem uma parcela de culpa absolutamente considerável. Porque se tu falares que a boate não tinha plano de prevenção de incêndio aprovado ou o plano que tinha era um plano que estava vencido, então tu tens que fechar o estabelecimento. Quem pode fechar o estabelecimento é o município de Santa Maria. Para que tu possas obter o alvará de localização tens que apresentar no município o alvará dos bombeiros. O alvará dos bombeiros é condição para obtenção do alvará de localização. E aí fica esse alvará lá e o município tem ou deveria ter condições de saber: ‘bom, venceu esse alvará, se esse alvará venceu e não foi substituído por um válido, então o estabelecimento teria suas atividades suspensas’.

TV
O programa ‘D Docente” trará ainda uma reportagem sobre o culto ecumênico ocorrido na última segunda, 4 de fevereiro, e o retorno dos quadros que, semana passada, em virtude da tragédia, não foram ao ar, como o jurídico e o de História. O perfil a ser apresentado será do professor do curso de Artes Cênicas, José Renato Noronha.

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16 Comentários

  1. Legalmente, é clara e firme a isenção de culpa por parte do Município. Uma análise fria da lei permite essa certeza.

    Mas quando a emoção está no controle, uma cegueira localizada aparece e nos impede de ver adiante.

  2. É muito BOA a explanação do Dr. Zinn, MELHOR ainda é saber agora que os FISCAIS DA PREFEITURA não tem Poderes nenhum sobre nossas Micro-MÉDIA E Grandes Empresas da nossa Cidade…pois até o ano passado ÓÓÓ gentinha Chata, vinham ‘ELES” NA Minha Empresa e “FISCALIZAVAM”(Vig. Sanitaria e os de Posturas)…
    MUIIITO BOAAA Dr. Zinn em saber que “ELES” só passeiam pela Cidade, que na VERDADE A PREFEITURA e seus “FISCAIS”… “NÃO LIBERAM E NÃO FECHAM NENHUM ESTABELECIMENTO COMERCIAL”…

  3. Exato, é uma cadeia de culpas e de culpados que devem ir para a cadeia.
    Neste processo, de tentar tirar ou reduzir a culpa, surgem novos elementos que a polícia e promotoria vão agregando. Ou seja, para se defender acontecem acusações.
    Eu tenho a minha escala de culpados, tenho uma sensaçao que alguns sao mais culpados, mas nem por isto alivio a responsabilidade de todos.
    Eu entrego a justiça, neste momento ao trabalho da polícia civil e depois promotoria. Espero de verdade que façam um bom trabalho e tenho esta sensação. Não tenho porque desconfiar.
    Ao menos isto nesta tragédia, fé na investigação e esperar uma justiça rápida e contundente.
    Não sei se cassação de prefeito ou governador. Acho muito a toa acharem que os comentários de justiça sao politicos. A prefeitura e governo do estado DEVEM procurar quem foi omisso ou descuidado e promover açoes internas, administrativas… depois a justiça se encarrega de ver se é questão criminal.

  4. meus amigos, acho que estão culpando o ex-promotor só porque deu sua opinião. Por um acaso é proibido emitir opinião? Por um acaso o Dr.Robson ao acusar o Dr. Adede esquece que ele como procurador da Câmara e como líder partidário deveria procurar soluções e não acusar alguém que se posicionou?Isso é muito parecido com as manifestações contrárias a publicação dos líderes do PSTU, que tiveram a coragem de se manifestar publicamente sobre o acontecimento trágico, coisa que nenhum outro partido político, nem o do Dr. Zinn, teve a coragem de fazer.
    No entanto, entendo que é necessário as pessoas passarem a aceitar a opinião dos outros, ou melhor, respeitarem e não ficar acusando sem olhar para seu rastro de história e verificar o que fizeram para que tal fato não tivesse acontecido.
    Eu costumo opinar aqui neste sítio, tendo o cuidade de sempre expor meu pensamento sem agredir ou acusar as pessoas, mesmo que muitas vezes tenha motivos e até provas para fazê-lo, mas aqui não é o local para isso.
    Acho que o Dr. Adede tem razão em algumas coisas que opinou, mas vou esperar ver toda a matéria na TV para poder emitir uma opinião melhor e mais concreta.

  5. Os senhores Robson Venâncio, ops, Luís Zinn, ops, sei lá quem é quem, junto com outros seres desinteressados e sem nenhuma ligação com o prefeito estão com uma vontade desmedida de desqualificar o ex-promotor e qualquer um que critique o pessoal do palacete da Avenida Progresso… Por que, né?

  6. Pois é… a memória do ser humano é curta. O senhor ex-promotor, enquanto Promotor (e com a obrigação de ofício zelar pelos interesses da coletividade), criou caso com o prefeito Evandro Behr, por expor tartarugas no chafariz da Praça Saldanha Marinho. Pergunta: o que realmente fez de concreto, antes da sua recente aposentadoria, para evitar essa catástrofe (tragédia da Kiss) sem precedentes na nossa comuna?

  7. O EXpro,otor, como advogado em busca de clientes, busca seu ninho.
    Poderia defender alguem culpado ou apoiara vítimas.

  8. Sao muitos os culpados, tem que começar com os principais, diretos, primeiros,…quem sabe chegaremos na própria promotoria, não sei, mas tem que começar, donos, prefeitura e bombeiros…tem o musico…
    A estratégia de alguns é jogar o foco em outros, tentando criar um cortina de fumaça…
    Ainda bem que na defesa alguns apontam outros.
    O prefito e seu séquito sempre estiveram atrãs de seus minutos de fama… Agora se escondem.

  9. Opinião neste momento todo mundo tem, uns para aparecer outros pq pensam que são donos da verdade e assim por diante. E eu assim como os demais tb tenho minha opinião. A culpa não é de um só. É uma cadeia de culpas. Culpado são os donos que utilizaram a Lei do Gerson “não dá nada”, é aquele jeitinho brasileiro. Tem culpa a prefeitura, e olha que não estou falndo do prefeito, pq seus agentes fizeram vistas grossas e tem culpa os bombeiros que não exigiram os itens de prevensão de imediato. Os donos como qualquer comerciante querem baixar os custos, por isso para mim são o que menos tem culpa. Os poderes público, tanto o municipal quanto o estadual, é que tem a maior culpa. Agora quem vai pagar a conta? NÓS O CONTRIBUINTE, novamente. Pq quando acionados, e vão ser, as indenizações não sairão do bolso do Schirmer e do Tarso e sim da instiutição, portanto do nosso bolso.

  10. Em nosso país os intelectuais tentam criar ou modificar as leis,as autoridades competentes tentam cumprir as leis,nós cidadãos tentamos burlar a lei,é o velho jeitinho brasileiro,as nossas leis sempre deixam uma sombra de dúvida para amparar os contraventores,,,,,,

  11. O ex-promotor está corretíssimo ao afirmar que “… se nós queremos uma sociedade mais segura, nós temos que estar dispostos a pagar o custo da segurança”‘ mas o ostracismo da aposentadoria e a ausência das sempre tão adoradas luzes da ribalta estão levando-o a equivocar-se, pois em 22 anos de atuação regiamente paga em Santa Maria pouco se sabe de ações concretas do ex-promotor para mudar a situação que agora – de maneira oportunista, leviana e sem base em provas – afirma existir.

  12. Lamentável ver as pessoas querendo criar teorias ou teses apenas para terem um minuto de fama na busca de culpados. As afirmativas de Marcia Rocha são verdadeiras. Mas vou alem … Pq referida autoridade não instigou o fato quando ainda exercia “poder institucional”? Sera que apenas agora as “aves do mau agouro” resolvem falar. Se o Estado, os bombeiros e o município tem culpa … segundo referida autoridade … Não teria culpa também o agente ministerial? Eu particularmente acho que NÃO! Mas para aparecer serve qualquer afirmativa, inclusive imputar culpa a qualquer um para se eximir de suas responsabilidades. Pq exigir um TAC e não exigir neste TAC o que se cobra agora ???? Pq quando podia fazer nada fez ??? A Lei Estadual nro. 10.987 de 1997 em seu Art. 2, Par. 5o. afirma que o Corpo de Bombeiros tem poder de interdição de prédios. O Dec. 37.380 de 1997 no art. 4. afirma “O exame dos planos e as inspeções dos sistemas de prevenção de incêndios serão feitas pela B. Militar através do Corpo de Bombeiros. Já no mesmo decreto na norma técnica posta no Art. 3 “Compete ao C. de Bombeiros a qualquer tempo, planejar, estudar, analisar, aprovar, vistoriar e fiscalizar todas as atividades, instalação e equipamentos de prevenção e proteção contra incêndio e outros sinistros em todo o Estado”. A municipalidade a responsabilidade de avalizar o Alvará de Localização conforme Dec. Executivo 32 de 2006. Mas isto nada interesse !!!! A onda do momento é dar pitaco sem qualquer critério … Imputar culpa ! Julgar e condenar !!! Não existe respeito as famílias de luto … Não é serio quem imputa culpa! Não é seria a imprensa que quer ser midiática … Esta na hora de esperar as autoridades trabalharem com isenção, serenidade por que todos nós queremos JUSTIÇA e não JUSTICEIROS do caus …

  13. Pois, questiono tb, o TAC assinado pela promotoria, pelo dono da kiss e seu advogado(vou procurar o nome pq esqueci), pq o municipio não foi comunicado?, outra o MP têm em seus quadros profissionais(engenheiros, arquitetos etc..), que vivem dando laudos técnicos de tudo que é coisa que la tem como denuncia(eu conheço alguns desses processos), pq depois de o tão “sagrado” MP ter enviado duas solicitaçoes aos bombeiros e nao ter sido atendido, pq não requisitou um engenheiro civil( que tem) em seu quadro pra fazer um laudo? e dependendo desse laudo, poderia ter iso comunicado ao municipio que nao tinha condiçoes? e tem mais o alvara de funcionamento é dado uma unica vez(decisao do STF), depois é taxa de vistoria, e só é feita se o Alvara dos Bombeiros estiver em condiçoes. Ou então mude a lei, pra conceder o alvara de funcionamento, deverá ser entregue o PPCI, e o alvara, dai, o Municipio por obrigação devera ter profissionais habilitados pra avaliarem o projeto e não concederem ou concederem depois de analise. Ou me enganei? afinal, o MP`no meu entendimento pessoal falhou tb.

  14. Não tenho duvidas que tem que limpar tudo tanto a prefeitura como o corpo de Bombeiros, não deixar pedra sobre pedra, para que venha sangue novo, pois esses que estão ai vão ficar la se acusando um ao outro e tirando todos não fica esse clima de animosidade, claro se eles não tiverem a ombridade de pedir para ir embora.

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