É humano, para dizer o mínimo, que a Tenda continue na Praça – por Luiz Alberto Cassol
Diante das últimas notícias que li, resolvi me manifestar por meio de um artigo. Já havia escrito no facebook sobre o tema. No entanto, mais uma vez, quero me posicionar com a seriedade e o respeito que o assunto merece.
Para iniciar. afirmo que o texto não tem nada de imparcial. É parcial! Totalmente parcial! Meu lado é o lado dos pais, mães, demais familiares e sobreviventes da tragédia de Santa Maria.
O assunto é a Tenda na Praça Saldanha Marinho. Espaço mantido com coragem, carinho e persistência pelos pais, familiares e amigos das vítimas da tragédia.
Como se pode questionar se o espaço deve ficar ali ou não? É tão cruel essa discussão que beira a estupidez.
É óbvio que o espaço tem que ser mantido quanto tempo as pessoas que ali homenageiam seus entes queridos quiserem. É um espaço de vigílias, de reflexão. Um local que faz com que não esqueçamos o que aconteceu para que nunca mais se repita.
Confesso que fico envergonhado, triste e desolado quando vejo cidadãos de Santa Maria questionando o espaço, pois dizem fazer lembrar a tragédia, e que a cidade estaria estagnada por isso. É exatamente o contrário.
A Tenda faz com que possamos refletir sobre. Faz com todos estejamos vigilantes para que esse horrendo dia nunca mais aconteça. Negar o que ocorreu não ajuda ninguém. O luto e a lembrança fazem parte da vida do ser humano. Parece óbvio dizer isso, não!? Pois é. Não é!
A cidade só conseguirá prosseguir seu caminho exatamente quando entender que a tragédia faz parte de sua história.
A cidade parou, sim, no dia da tragédia. A cidade parou quando 242 vidas foram ceifadas. A cidade parou por não ter a prevenção correta em 27 de janeiro de 2013. Isso sim é vergonha!
Dizer que está parada agora em função da tragédia é covardia.
Não consigo até hoje aceitar o que aconteceu. E tenho plena convicção de que a cidade seguirá crescendo exatamente se entender essa vergonha e lutar unida para que isso não se repita.
Ao invés de dizer que a cidade não consegue progredir, ou que a Tenda possa ser retirada, todos os cidadãos de Santa Maria deveriam passar no local e abraçar cada pai, cada mãe, cada sobrevivente e demonstrar seu carinho e sua solidariedade. Assim poderemos prosseguir. Não há como sentir o que os pais das vítimas sentem. Mas existe a possibilidade concreta de demostrar afeto e respeito. Reitero: respeito é o que peço!
Tomo a liberdade de reproduzir um pequeno trecho de crônica do jornalista Marcelo Canellas escrita em 15 de junho de 2013 no jornal Diário de Santa Maria: “Por que não se cansam da irresponsabilidade que põe a vida em risco? Eu mesmo respondo: porque não se dão ao trabalho de olhar para o lado e de se colocar no lugar do outro. Porque preferem viver seu mundinho sem se darem conta de que estamos todos no mesmo barco, a nau de uma cidade que precisa purgar a vergonha de um holocausto.”
É isso! Um parágrafo que reflete o que tantos de nós pensamos e assinamos juntos.
É humano, para dizer o mínimo, que os pais, familiares e vítimas façam quantas manifestações desejarem.
É humano, para dizer o mínimo, que a Tenda continue na Praça Saldanha Marinho. Como ato de persistência, de união, de destemor, de busca, de respeito!!!
Beto Cassol o teu texto é muito profundo e sensível.Também quero lembrar que foi as mães da Praça de Maio mesmo sendo chamadas de loucas mostraram ao mundo as atrocidades da ditadura Argentina.
Parabéns Cassol. Escreveu tudo.
Lúcido, sensível, verdadeiro e contundente. Um soco no estômago dos politiqueiros de plantão. Parabéns.