SM MAIS (10). Está nascendo o Polo Estratégico para a Defesa Nacional. Sim, aqui mesmo, em Santa Maria
Estratégia Nacional de Defesa prevê transformar Santa Maria em um importante polo militar. Mais de R$ 500 milhões serão investidos em três anos para ampliar a presença do Exército e implantar um centro de simuladores de combate na cidade
Por JOYCE NORONHA e MARCOS FONSECA, Especial
Junto ao promissor polo de saúde que se desenha para os próximos anos, Santa Maria se encaminha para outra grande revolução. Desta vez, na esfera militar. A cidade ambiciona se tornar um importante polo de defesa nacional, com reconhecimento inclusive internacional. Essa nova marca do Coração do Estado tem como iniciativa impulsionadora a Estratégia Nacional de Defesa, cuja meta é aparelhar as Forças Armadas com tecnologia brasileira.
Para o município, uma das maiores conquistas do Polo de Defesa será absorver a mão de obra formada pelas universidades locais. O sucesso dessa ideia permitirá reforçar a economia e mudar a tradicional característica de Santa Maria, de ser uma “exportadora de cérebros”. O município é, hoje, um dos três maiores formadores de profissionais de níveis técnico e superior do país, graças à presença de sete instituições de Ensino Superior, entre elas a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).
A instituição federal está se tornando referência em engenharia e tecnologia, com pesquisas voltadas à criação de componentes eletrônicos destinados a diferentes áreas, inclusive militar e espacial, e ao desenvolvimento de simuladores de combate para as Forças Armadas.
Devido aos seus conhecimentos, a UFSM é um dos mais importantes membros do Comitê do Polo de Defesa de Santa Maria (Comdefesa/SM), criado em fevereiro de 2014 e que, desde então, realiza reuniões mensais. Os profissionais da universidade darão apoio ao desenvolvimento de tecnologia para a criação de um centro de simuladores de alta tecnologia do Exército, um dos braços do Polo de Defesa.
Os equipamentos permitirão simular um ambiente de guerra virtual para o treinamento de operadores de blindados. Os simuladores funcionarão no Centro de Adestramento e Avaliação-Sul (CAA-Sul), do Exército, no bairro Boi Morto, onde hoje se concentra grande parte dos quartéis militares, entre eles o Parque Regional de Manutenção da 3ª Região Militar.
Para entender essas mudanças todas no cenário militar no centro do Rio Grande do Sul é preciso fazer uma análise da atual política militar no Brasil. O espocar de uma nova era nas Forças Armadas teve início em 2008, quando o governo federal sancionou a Estratégia Nacional de Defesa, uma política para o aparelhamento e modernização do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. A proposta prevê investir na tecnologia nacional, reforçando a indústria brasileira em vez de apenas importar tecnologia de outros países.
Inserem-se no perfil da Estratégia Nacional de Defesa empresas de informática, material bélico, metalúrgicas, construção civil, entre outras. Além disso, esse tipo de política atrai o interesse de indústrias estrangeiras, que desembarcam no Brasil para explorar o novo mercado mundial do setor de defesa. É o caso da fábrica de blindados alemã KMW, que está construindo em Santa Maria a sua primeira unidade na América do Sul. Há anos o conglomerado europeu vende blindados para o Exército Brasileiro, mas agora, em vez de os veículos cruzarem o Atlântico, serão fabricados aqui mesmo.
“A KMW é o carro-chefe do comitê de defesa”, afirma Diogo De Gregori, superintendente executivo da Agência de Desenvolvimento de Santa Maria (Adesm). Ele ressalta que o comitê busca incentivar as empresas que integram os Arranjos Produtivos Locais (os APLs, que já foram abordados nesta série) a ir no mesmo caminho que a fábrica de blindados. Para isso, é necessário mostrar aos pequenos empresários dos setores de metal-mecânica e informática as demandas do Exército e da Aeronáutica.
Em abril, durante reunião do Comdefesa/SM, o comandante da Base Aérea, tenente-coronel Ramiro Kirsch Pinheiro, destacou o pequeno número de empresas de Santa Maria que se habilitam para participar das licitações da Aeronáutica para a aquisição de produtos e serviços. De acordo com o comandante, a maioria das licitações é vencida por empresas de fora da cidade. Fato semelhante ocorre com o Exército.
Ao mesmo tempo, o comitê atua na divulgação do Polo de Defesa. Conforme De Gregori, mais de 30 empresas já foram contatadas. Ainda não há nenhum contrato de instalação em Santa Maria, mas a vinda de investidores é uma questão de tempo. Um dos contatos foi feito com a fábrica de veículos militares Honker, da Polônia. Em fevereiro, diretores da indústria europeia estiveram na cidade avaliando a instalação de uma fábrica no Brasil.
De Gregori diz que o Comdefesa/SM está avançando mais rápido do que se previa. Em abril, o comitê, coordenado pela Adesm e formado por diferentes representantes locais, como Forças Armadas, Prefeitura, UFSM, KMW, empresas e entidades, lançou seu plano de ação. São seis missões estratégicas para pôr em prática até 2030, entre elas ampliar o número de empresas de Santa Maria no setor de defesa e segurança (veja as seis missões no final desta reportagem).
Em novembro, Santa Maria sediará o 1º Seminário Internacional de Defesa, que reunirá representantes das Forças Armadas e de entidades públicas e privadas para discutir o Polo de Defesa gaúcho.
SEGUNDO MAIOR EFETIVO DO PAÍS
Com 20 mil militares, o segundo maior efetivo militar do país, Santa Maria é uma das cidades mais importantes da Estratégia Nacional de Defesa. Além de sede da 3ª Divisão de Exército (3ª DE), que reúne inúmeros quartéis do Exército, o município também concentra a Base Aérea de Santa Maria (BASM), onde estão algumas das mais importantes aeronaves militares brasileiras. Entre o aparato aéreo da BASM está o VANT, veículo aéreo não tripulado usado em operações especiais de vigilância.
Em função da localização geográfica estratégica, no centro do Estado mais meridional do Brasil, e da importância em termos militares, a cidade receberá R$ 500 milhões em investimentos para a construção do Centro de Adestramento e Avaliação-Sul (CAA-Sul). As obras devem começar em 2015 e ficar prontas em 2018.
Esse quantia de meio bilhão de reais do governo federal prevê a construção de 30 prédios militares com mais de 50 mil metros quadrados (do tamanho de 50 campos de futebol) e a compra de equipamentos. Pelo menos 850 militares devem atuar no treinamento de 1,5 mil militares brasileiros e estrangeiros por mês nos simuladores de batalha que farão parte do CAA-Sul.
AS MISSÕES DO COMDEFESA
Visão – Que Santa Maria seja reconhecida como um Polo de Defesa, internacionalmente, até 2030
Missão – Realizar ações conjuntas para consolidar Santa Maria como um Polo de Defesa
Objetivo 1 – Articular lideranças civis e militares para atuar em parceria nos setores de defesa e segurança
Objetivo 2 – Disseminar junto à sociedade a importância do setor de defesa como vetor de competitividade regional
Objetivo 3 – Ampliar o número de empresas de Santa Maria no setor de defesa e segurança
Objetivo 4 – Ampliar o número de projetos das universidades e escolas técnicas de Santa Maria no setor de defesa e segurança
Objetivo 5 – Ter políticas públicas estaduais voltadas ao setor de defesa e segurança
Objetivo 6 – Consolidar o Santa Maria Tecnoparque como provedor de soluções de defesa e segurança
Só para lembrar que 1 hectare (aprox. um campo de futebol) equivale à 10.000².
Abraço.