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Reunião Pública da Cultura em Santa Maria – por Atílio Alencar

Até bem pouco tempo atrás, vigorava uma concepção entre gestores públicos que reduzia a cultura a um mero acessório, a “cereja do bolo” que servia para embelezar os espetáculos de pão e circo promovidos pelo Estado. Em certa medida, isso vem mudando, ainda que lentamente, com a absorção pela máquina de novas – e antigas – estratégias, linguagens e formas de produzir cultura. São, via de regra, inovações experimentadas no âmbito da sociedade civil e transformadas gradativamente em políticas de gestão.

Exemplo maior dessa tendência talvez seja a política dos Pontos de Cultura, priorizada no MinC durante as gestões Gilberto Gil/Juca Ferreira. Por força do encontro potentíssimo entre grupos de cultura popular e uma gestão sensível à dinâmica viva das culturas daqui, o Brasil tornou-se referência mundial – a despeito dos retrocessos das desastrosas gestões subsequentes – no campo das políticas públicas para a cultura.

Infelizmente, esta sensibilidade ainda é um fenômeno raro entre dirigentes com poder de decisão em partidos à direita e à esquerda. Embora as exceções sejam louváveis e inspiradoras, o mais comum é que a pauta da cultura seja tratada de forma marginal, sem direito a um lugar ao sol nos projetos de governo, e amiúde rifada entre os escalões minoritários das gestões eleitas. Com orçamento baixo e equipes desmobilizadas, as secretarias de cultura dificilmente arriscam para além do feijão com arroz do calendário social de eventos municipais.

Santa Maria, infelizmente, não consta na lista das exceções. Enquanto se usa e abusa da desgastada legenda de “Cidade Cultura”, a situação dos aparelhos culturais é de sucateamento (quando não se encontram em eterno estágio de obra em progresso) e os grupos artísticos independentes só conhecem algum sucesso graças aos próprios esforços. A força das manifestações culturais da cidade reside toda ela, absolutamente, nas criatividade dos envolvidos. O pouco que há de subsídio é de tal forma condicionado pela burocracia e pelos filtros excludentes, que poucos se sentem entusiasmados em disputar os recursos existentes.

Isso tudo enquanto os lendários Plano Municipal de Cultura e o Fundo de Cultura permanecem em situação incógnita, com a aprovação eternamente empurrada com a barriga pelo legislativo e sem nenhum tipo de pressão positiva do executivo. Há anos que o atual prefeito e seus correligionários respondem qualquer questão sobre as falhas dos mecanismos de incentivo cultural com um tapinha nas costas de consolo e a promessa de ativamento do Fundo. Por enquanto, só godô.

Pois no dia 25 de agosto, na Câmara dos Vereadores, os grupos teatrais que organizam o festival Mosaico estarão organizados juntos a outros coletivos da cidade para uma reunião pública sobre a cultura em Santa Maria, e temas como os acima citados serão, creio, incontornáveis. Muitos vereadores garantiram presença – embora não tenhamos nenhum motivo para dar-lhes algum crédito. Além da presença maciça dos artistas e realizadores culturais da cidade, seria de muito bom tom que o senhor prefeito também se fizesse presente, penso eu.

Afinal, se a tal abertura para diálogo não é apenas um recurso demagógico do governo municipal, seria bom que os cidadãos que aqui vivem e trabalham pudessem, ainda que em caráter extraordinário, fazer as perguntas e cobranças que acham justas para o administrador eleito de Santa Maria.

 

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