Espalhe cinema – por Bianca Zasso

Eu poderia seguir a minha linha e escrever mais uma dica de filme. Ou comentar um festival. Ou um diretor. Ou escrever as coisas que me incomodam e seduzem como cinéfila. Mas deve ser minha cidade natal me pega de surpresa mais uma vez e me obriga a escrever sobre mais uma despedida. Depois de uma temporada sem nenhuma sala de exibição, Santa Maria experimenta um boom e dois lugares abrem as portas para receber cinéfilos.

Não foi nenhum mar de rosas, algumas estreias não deixaram nem o cheiro na cidade e os blockbusters dominaram. Nada contra eles, mas o mundo é maior que Hollywood. Agora, a poucos dias do Natal, ganhamos de presente a notícia de que as duas salas de exibição do centro da cidade vão fechar suas portas.

Para alguns pode ser apenas mais um negócio chegando ao fim, mas é muito mais. Cinemas, por mais que alguns insistam em tratá-los assim, não são apenas um empreendimento. É um espaço que deve ser usado para discutir e divulgar cultura. Aliás, o povo que produz audiovisual na cidade poderia ter aproveitado melhor esses espaços. Lançar curtas em salas alternativas é uma boa pedida, mas por que não usar uma sala de cinema comercial para isso? Queridos, não se menosprezem. Nossos filmes devem ocupar nossas telas.

Ainda restam quatro salas de exibição e os cineclubes, muitos dirão. Mas não devemos nos contentar com isso. Acho que vou dar início aos meus desejos de ano novo e pedir que Santa Maria queira mais cinema e queira por toda parte. Que a cultura não aconteça apenas em determinadas datas e lugares, mas se espalhe, surpreenda e não fique dependo apenas de leis de incentivo ou associações. Que as portas se abram, pois panelinhas devem ser diminutivos de panelas e não aglomerações de pessoas que pensam sempre do mesmo jeito e no mesmo lugar.

Enquanto isso nossos cinemas escorrem e somem pelo ralo. Como naquela cena de Psicose, do Hitchcock? Não conhece? Pois é uma grande oportunidade de conhecer. Ao invés de olhar torto para quem não viu os “filmes essenciais” que você viu, caro cinéfilo, abra um sorriso e apresente-os. Cultura é para seguir em frente e não guardar num potinho. 2015 vem aí, espero que com boas notícias.