Nostalgia de final de ano – por Liliana de Oliveira
Sempre gostei das festas de final de ano. Desconfio que tenha herdado de minha mãe o gosto pela celebração, pela bebida, pela comida, pela vida. Nessa época nossa casa era tomada pelos parentes, invadida pela música e conversas muito altas típicas de uma família italiana. Assim brindávamos todo final de ano.
Se de um lado havia uma mãe que celebrava, de outro havia um pai que dizia que ele poderia dormir no dia vinte e quatro de dezembro e acordar no dia primeiro de janeiro, depois que todas as festas tivessem acabado. Meu pai sentia falta daqueles que havia perdido e que naquele momento se faziam presentes pela ausência. Depois que minha mãe morreu, meu pai se tornou ainda mais nostálgico e agora mais uma ausência se fazia presente. Passado o tempo percebo as heranças em mim: o gosto por celebrar a vida de minha mãe e a nostalgia do meu pai.
O gosto pela celebração aparece na encomenda das flores e da ceia; na limpeza da casa, das bandejas e copos que raramente são usados. O gosto pela celebração aparece no enfeite da porta, nas toalhas de natal, na preparação do quarto de hóspede. O gosto pela celebração aparece na felicidade do reencontro com as sobrinhas e nos presentes escolhidos carinhosamente.
Por outro lado, certa nostalgia se avizinha. Parecendo que sempre há um descompasso entre o final de ano que se pretendia e aquele que de fato temos. Nostalgia pelo que fomos um dia, pelo natal idealizado, pelo natal que um dia tivemos, por aqueles que amamos e que hoje não estão mais presentes, por aqueles que amamos e hoje não damos mais presentes.
Há sempre uma expectativa que não se cumpre. Nietzsche nos diria o quanto isso é humano, demasiado humano. Humano desejar aquilo que nos falta. Humano achar que o natal nas outras famílias que não as nossas são mais felizes. Humano ansiar por nos reunir e posteriormente ansiar com a mesma força voltar à normalidade da cena cotidiana. Tenho feito como Baruch Espinosa, tenho evitado cuidadosamente rir-me dos atos humanos, ou desprezá-los; o que tenho feito é tratar de compreendê-los.
Tratar de compreendê-los é compreender a força dos afetos. Rogo para que possamos fortalecer nossas paixões alegres em detrimento das tristes. Rogo para que a intensidade e a potência da alegria dos nossos encontros aumentem nossa potência de existir!
Maravilhosa reflexão para o final do ano!
Belo texto.