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Síndrome do mais ou menos – por Bianca Zasso

imageAinda existem os que acham que a vida de quem assiste filmes não só por diversão, mas por trabalho, é fácil. Óbvio que é prazerosa, mas em tempos de Oscar onde as principais perguntas que você escuta são sobre os indicados aos prêmios, a balança cai para o lado do cansaço. As emoções são tantas que chega uma hora que a cabeça dá um nó. Porém, 2015 resolveu dar uma trégua e o Oscar entrou no ritmo. Isto porque os indicados a melhor filme deste ano não fazem o barulho que sua indicação pediria.

Sniper Americano, mais uma direção liderada por Clint Eastwood é o favorito desta colunista. Um retrato de guerra bem conduzido, inteligente e cheio de elipses. Há quem não admire este recurso narrativo, mas Eastwood acertou a mão. Mesmo com qualidades, Sniper Americano está longe de entrar para a lista de melhores filmes da carreira de diretor do eterno Homem sem nome. Eastwood fez um ótimo trabalho e ponto.

A teoria de tudo e O jogo da imitação são duas cinebiografias, uma do cientista Stephen Hawkins e outra de um matemático que usou seu conhecimento para criar um dos principais enigmas da Segunda Guerra. Duas vidas incríveis retratadas na telona que pecam por seguirem as regras para contar uma história real à risca. Selma é outra cinebiografia concorrente, porém mais sensível que suas companheiras, sobre a luta de Martin Luther King pela igualdade racial. Nada de novo no front. São filmes bem ao gosto conservador da Academia que, por mais que surpreenda em alguns momentos, continua acreditando no trivial.

Whiplash, outro candidato a estatueta de melhor filme, também conta uma história real. Porém, ao invés de romantizar a situação, torna-a mais pesada que a realidade. A trajetória de um baterista de jazz em busca de um solo perfeito já seria por si só uma boa história de redenção.

Porém, o personagem do professor, executado com perfeição pelo ator J.K. Simmons dá o tom de sadismo ao longa. Não como um tempero extra, mas como uma forma de tentar criar cenas de estafa física e humilhação que impressionem o público. O amor pelo jazz, que poderia ser a válvula motora de Whiplash, perde espaço para o duelo entre mestre e pupilo. E o que dizer de O grande hotel Budapeste? Wes Anderson tem estilo e podem mudar as estações que ele continuará firme e forte em sua estética e seus roteiros. Visualmente é o filme mais bonito dos indicados e uma das poucas produções que fizeram esta que vos escreve sorrir. Mas não podemos ser inocentes e acreditar que o humor único e as excentricidades de Anderson agradam ao Oscar.

Para finalizar, os queridinhos Birdman e Boyhood. O primeiro é mais um passo na América do Norte do mexicano Alejandro González Iñárritu. É bom roteiro e Michael Keaton está ótimo como protagonista. Mas é só. Os efeitos especiais e alguns vícios de câmera deixam de ser charmosos para se tornarem chatos e, em alguns momentos, uma desculpa para ter mais minutos de duração. Mesmo que os olhos lindos de Emma Stone sejam enquadrados com maestria, Birdman é esquecível.

Bem diferente de trabalhos como 21 gramas e Amores Brutos, lá do início da carreira de Iñarritu. E Boyhood…bom, ele virou assunto na mídia por ter sido rodado ao longo de 12 anos com o intuito de registrar o amadurecimento de um garoto. Ideia que lembra muito a do seriado Anos Incríveis, que acompanhou Kevin Arnolds e seus amigos da infância até a faculdade. A ideia não é original, assim como os temas abordados pelo filme. Lá estão as crises de identidade, o conflito de gerações, o primeiro amor. O olhar do diretor Richard Linklater é delicado e não apela para situações que provocam lágrimas à qualquer custo. Porém, é mais uma história de crescimento. Vale o ingresso mais para notarmos a evolução dos atores Patricia Arquette e Ethan Hawke como intérpretes do que a própria trama, já que o protagonista não é ator e, sinto informar, terá que se dedicar muito para ser um.

Pode parecer recalque ou simples mau-humor. Garanto que não é. Cinéfilos não gostam de anos fracos na Sétima Arte. Isso porque perde um pouco a graça entrar na sala escura, já que não somos surpreendidos nem com o trivial renovado, quem dirá com uma jornada diferente. As premiações anteriores como Globo de Ouro, já mostraram que não seriam muito barulhentas. O Oscar, que será no próximo domingo, dia 22, será a consolidação deste ano mais ou menos. Que 2016 seja diferente. É meu pedido de ano novo, já que este país só volta a andar com vontade depois do carnaval.

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