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Por uma cultura de participação – por Atílio Alencar

Santa Maria, mesmo com todos os poréns, goza de relativo status em termos de mobilização cultural. Falta incentivo oficial, mas sobra inspiração e realização autônoma, num esforço que resulta numa cena mobilizada apesar da paralisia de incentivos públicos. Mas convenhamos que o termo “cultura” é amplo demais, e todos nós incorremos no erro de reduzi-lo ao espetáculo ou à expressão artística.

Acontece que, por mais óbvio que possa parecer, é preciso que digamos: a política também é cultura. Ainda mais quando se trata de abordar política como prática comum, acessível a todos e todas, e não apenas como produto de especialistas. E reconhecido isso, é preciso dizer que Santa Maria é uma comuna essencialmente política, no melhor dos sentidos. Afinal, não faltam por aqui eventos e manifestações que conectam nossa cidade aos temas que fazem de cada aldeia, independente do tamanho e da população, o centro eventual do mundo.

Adotando esta perspectiva, me vem à cabeça que, em geral, quando falamos da cultura em Santa Maria, desperdiçamos um bocado do que aquece a cena na cidade. Falo dos inúmeros debates, rodas de conversa, aulas públicas, oficinas e tantas outras atividades que primam pela formação cidadã, incitando a participação como elemento básico da democracia. A terra ventosa que habitamos tem uma rica história de mobilização social, que de modo algum pode ser relegada ao passado.

Para se ter uma ideia: nas semanas recentes e nas próximas, tivemos e teremos eventos organizados na cidade que pautam temas da maior urgência no contexto global: direito à livre identidade de gênero, protagonismo periférico, biodiversidade, autonomia dos povos originários, redução da maioridade penal, direito à memória e à verdade etc. Somos um polo de conhecimento e incidência popular sobre a coisa pública – muito embora nossas escolhas nas urnas nem sempre reflitam esta alta qualidade cívica.

Pensando nisso, propus ao Claudemir – e creio que minha ideia foi bem acolhida – que pensássemos num modo de divulgar também estes eventos de natureza política, no sentido mais forte e menos comprometido do termo, aqui neste site. Assim que, a partir de agora, nesta coluna quinzenal, tentarei focar tanto na cobertura e divulgação destes eventos, quanto no aprofundamento dos temas propostos por eles.

Para começar, temos já um tema dos mais quentes no cenário de debates nacionais: a redução da maioridade penal. Um amplo conjunto de coletivos, encabeçados pelo Núcleo de Interação Jurídica Comunitária da UFSM, está conclamando a população de Santa Maria para participar de um ato público que tem o objetivo de esclarecer e debater as implicações de uma possível alteração na legislação atual sobre a penalização de menores.

O ato está agendado para o próximo dia 23 de maio, às 15h, na Praça Saldanha Marinho.

Uma boa oportunidade para romper com a lógica apocalíptica e os impulsos opiniáticos superficiais que orientam boa parte dos debates públicos nas redes sociais.

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